A 'indústria da pedra lascada', como foi chamada, foi explorada pela primeira vez em 1964, mas sua datação só ocorreu recentemente; entenda!
No bairro do Jardim Panorama, na região do Morumbi, na Zona Sul de São Paulo, pesquisadores descobriram o sítio arqueológico mais antigo da capital paulista. A 'indústria da pedra lascada' tem vestígios da vida humana que remetem entre 3.800 e 820 anos atrás.
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Embora o local tenha sido explorado pela primeira vez em 1964, sua datação só foi possível recentemente, após profissionais da Universidade de São Paulo (EACH-USP) e da empresa Zanettini Arqueologia que analisarem amostras de carvão, rochas e solo.
Grande parte do material encontrado por lá é formado silexito — um tipo de rocha com grãos extremamente finos de quartzo e de fácil lascamento; o que a torna muito útil para ser utilizada em pontas de lança e flechas.
Segundo explica matéria do G1, o local voltou a ser escavado há cerca de dois anos a pedido do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan); uma condição para que fosse autorizado a construção de um empreendimento de imóveis residenciais no local — hoje uma área particular.
Isso porque, até então, pensava-se que o terreno já havia sido modificado o suficiente para perder seu contexto arqueológico e, portanto, tornado sua datação inviável, mas os estudos mais recentes descobriram aspectos inéditos por lá.
Os primeiros registros do local foram feitos na década de 1960, pelo engenheiro civil suíço Caspar Hans Luchsinger; que era um dos responsáveis pelo loteamento do local na época. Com um pouco de conhecimento sobre arqueologia, ele coletou amostras de rochas e lascas e as encaminhou para o então Instituto de Pré-História da USP — que hoje tem o seu acervo integrado ao Museu de Arqueologia e Etnologia da USP.
Apesar da documentação de Luchsinger, que ainda fez um mapa do local, o sítio só voltou a ser estudado na década de 1990, quando um membro do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) da Prefeitura de São Paulo encontrou os registros.
Assim, o pesquisador Astolfo Araújo não só encontrou o local como também realizou mais pesquisas por lá; quando encontrou matacões de silexito. "Esses matacões na área externa permitem materializar um pouco o que é esse sítio arqueológico, um lugar onde homens, mulheres e crianças trabalharam durante um período muito longo, extraindo e produzindo seus utensílios", explica o arqueólogo Paulo Eduardo Zanettini, da Zanettini Arqueologia, ao G1.
Eu precisava afiar minha flecha de madeira, abater animais, cortar madeira, produzir minha canoa, minha flauta de osso... e esse utensílios vão ganhando múltiplas formas para atender às demandas que existiam", continuou.
No início dos anos 2000, o terreno foi comprado para ser destinado à construção de um condomínio de casas; mas devido à importância da região, o novo dono do sítio precisou contratar uma empresa de arqueologia para escavar e reestudar a área. No período entre 2001 e 2006, foi identificado 200 mil peças como produtos de lascamento.
Amostras de carvão e rochas com marca de queima também foram identificadas, mas os pesquisadores entenderam que o sítio não parecia conservado o suficiente para usar esses materiais para datação. A ideia foi corroborada por Astolfo, que confirmou a alteração severa do cenário do sítio.
Em 2022, como a empresa resolveu mudar o tipo de empreendimento no tereno — de um condomínio de casas de luxo para um prédio com moradias de função social —, o que fez o Iphan determinar que novos estudos fossem feitos por lá para esgotar todas as possibilidades de coleta de informação; antes que o solo fosse ainda mais alterado pelo maquinário.
"As nossas pesquisas, desenvolvidas entre eu, o Paulo e o professor Astolfo, tiveram um resultado inédito, que foi mostrar que ainda tinha uma parte preservada do sítio", disse a arqueóloga Letícia Corrêa, da Universidade de São Paulo (EACH-USP), ao G1.
Assim, com a coleta de novas amostras de carvão e solo, os pesquisadores conseguiram determinar que houve atividade humana no sítio arqueológico há pelo menos 3.800 anos.