A maior árvore genealógica já criada revelou detalhes sobre o comportamento matrimonial dos ancestrais nos últimos 500 anos
Cientistas da Universidade Columbia, nos Estados Unidos, criaram a maior árvore genealógica de que se tem notícia. Eles reuniram 13 milhões de pessoas, que fizeram parte de 11 gerações nos últimos 500 anos. O estudo foi publicado hoje na revista científica Science.
A equipe liderada pelo geneticista e cientista da computação Yaniv Erlich coletou dados públicos de 86 milhões de pessoas, disponíveis na rede social de genealogia Geni.com. Ao se cadastrar no site, as pessoas forneceram informações como datas e lugares de nascimento e morte de familiares. Cruzando as informações, os cientistas criaram várias árvores genealógicas pequenas e uma enorme árvore com 13 milhões de pessoas. A maioria das pessoas (cerca de 86%) vem da Europa e da América do Norte.
O projeto foi possível porque a plataforma permite que os usuários unam suas árvores genealógicas. "Se você cadastrar sua árvore e eu cadastrar a minha, e nós tivermos um tio em comum, o site une as duas árvores para criar uma ainda maior", explica Erlich. Dessa forma, a equipe usou as informações dos próprios usuários, sem precisar começar o projeto do zero.
Com a árvore genealógica pronta, os pesquisadores analisaram como os fatores genéticos e culturais interferiram na formação das famílias ocidentais e na longevidade da população. Eles descobriram que, até a Revolução Industrial, a maioria das pessoas se casava com alguém que vivia, em média, a dez quilômetros de distância. Muitos casamentos aconteciam dentro de uma mesma família, entre primos distantes. Com o desenvolvimento de meios de transporte mais eficientes, os cônjuges passaram a ter relações genealógicas mais distantes - em 1950, a maioria encontrava seu par ideal a 100 quilômetros de distância de onde nasceram.
Mas, segundo os cientistas, não foram só os meios de transporte que fizeram as pessoas se casarem com quem vivia em lugares mais distantes. Entre 1800 e 1850, a população já viajava mais e se mudava para as cidades, mas a distância genealógica entre os cônjuges continuava a mesma. "É provável que fatores culturais também fizeram com que as pessoas passassem a se casar com quem não fazia parte do mesmo grupo familiar", afirma Erlich. A repulsa moral pelo casamento entre primos se desenvolveu com a evolução da medicina no século 19, culminando com a genética mendeliana.
Os dados coletados pela equipe também sugerem que os genes não têm uma influência tão grande na determinação do tempo de vida quanto se imaginava. Os genes são responsáveis por apenas 16% das variações na longevidade da população. Todo o resto é uma combinação de fatores ambientais, hábitos de vida e sorte.
Segundo Erlich, informações disponilizadas online por pessoas comuns podem ajudar a ciência a responder ainda mais questões no futuro. Além de descobrir a história das próprias famílias, os usuários vão ajudar os pesquisadores a entender melhor a humanidade.