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Notícias / Antropologia

Lareiras da Era Glacial revelam uso sofisticado do fogo por caçadores-coletores

Descobertas em sítio arqueológico na Ucrânia mostram que humanos do Paleolítico Superior dominavam técnicas avançadas de combustão

Gabriel Marin de Oliveira, sob supervisão de Fabio Previdelli Publicado em 14/04/2025, às 17h00

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A grande lareira - Divulgação/Universität Wien/Philip R. Nigst
A grande lareira - Divulgação/Universität Wien/Philip R. Nigst

Arqueólogos liderados pelas universidades do Algarve (Portugal) e de Viena (Áustria) revelaram novas e surpreendentes evidências sobre o uso do fogo por humanos pré-históricos durante o Último Máximo Glacial (LGM), o período mais frio da última Era Glacial, ocorrido entre 26.500 e 19.000 anos atrás.

A pesquisa, publicada recentemente no journal Geoarchaeology, foi baseada na análise de três lareiras incrivelmente preservadas no sítio arqueológico Korman' 9, localizado no Vale do Médio Dniester, na Ucrânia.

As lareiras, conhecidas tecnicamente como "características de combustão" (FCs), foram estudadas com uma abordagem geoarqueológica de alta precisão, que incluiu técnicas como micromorfologia, análise de cor do solo e modelagem 3D.

Os resultados revelam que os grupos humanos que habitaram o local não apenas usavam o fogo para se aquecer, mas também o dominavam com impressionante sofisticação, mesmo em meio às condições extremas da era glacial.

"Ao contrário do que se imaginava, o controle do fogo nessa época não era rudimentar. As lareiras atingiam temperaturas superiores a 600 °C, e sua construção variava de acordo com o uso", afirmou Philip R. Nigst, arqueólogo da Universidade de Viena e um dos autores do estudo, na pesquisa.

Segundo o 'Archaeology News', isso sugere que os grupos de caçadores-coletores sabiam adaptar o fogo a diferentes finalidades, como cozinhar alimentos, produzir ferramentas, se aquecer e realizar atividades sociais.

Materiais

As análises confirmaram o uso de madeira de abeto como combustível primário, mas também indicaram a queima de ossos, possivelmente intencional, como complemento energético — uma estratégia engenhosa diante da escassez de madeira em ambientes glaciais.

Segundo a zooarqueóloga Marjolein D. Bosch, alguns ossos encontrados no local mostram sinais de terem sido queimados a temperaturas superiores a 650 °C. "Estamos investigando se foram usados deliberadamente como combustível ou se foram queimados acidentalmente", disse ela na pesquisa.

As diferenças entre as três lareiras — em tamanho, intensidade térmica e estrutura — também sugerem múltiplas ocupações sazonais do sítio, com usos diversos do fogo adaptados às necessidades de cada visita.

Para os pesquisadores, isso reforça a ideia de que os humanos do Paleolítico Superior tinham amplo conhecimento das propriedades dos materiais e do comportamento da combustão.