As chances de sobreviver ao procedimento cirúrgico no crânio eram maiores no antigo Peru
Após analisar mais de 800 crânios de antigos incas, que haviam sido submetidos ao doloroso procedimento de trepanação, os pesquisadores da Faculdade de Medicina Leonard Miller, em Miami, fizeram uma descoberta um tanto quanto inusitada.
Ao comprar os crânios incas com crânios de soldados que perderam suas vidas durante a Guerra Civil Americana, os estudiosos notaram que, entre os pacientes incas que passaram pelo procedimento, um número entre 17% e 25% morreu antes de se recuperar. Porcentagem pequena quando comparada com a dos pacientes da Guerra Civil: entre 46% e 56%.
"Essa é uma grande diferença", diz o pesquisador David Kushner, da Faculdade de Medicina Leonard Miller, em comunicado. "A questão é: como os antigos cirurgiões peruanos tiveram resultados que superaram em muito os dos cirurgiões durante a Guerra Civil Americana?"
A trepanação consiste em um procedimento onde o crânio do indivíduo é perfurado na tentativa de eliminar doenças. Era usado contra enxaqueca, epilepsia e transtornos mentais. A maioria dos pacientes sobrevivia.
O Império Inca surgiu 400 anos antes da Guerra Civil Americana eclodir. Os incas não conheciam técnicas mais avançadas que a dos médicos da guerra. Todavia, a resposta se encontra em um simples motivo: higiene.
De acordo com os pesquisadores, os cirurgiões que atuavam nos campos de batalha raramente esterilizavam os instrumentos antes dos atendimentos. Até os próprios dedos – geralmente sujos – eram utilizados para realizar a trepanação.
"Não sabemos como os antigos peruanos evitaram as infecções, mas parece que eles fizeram um bom trabalho", diz Kushner. "Não sabemos o que eles usaram como anestesia, mas já que houve tantas cirurgias cranianas, elas devem ter usado algo como folhas de coca. Talvez houvesse outra coisa, como uma bebida fermentada. Não existem registros escritos, então nós simplesmente não sabemos."