Criado para estudar as relações entre o DNA e a chance de desenvolver determinadas doenças, o Biobank acabou encontrando um dado perturbador
Em 2006, foi criado, no Reino Unido, o Biobank, um gigantesco banco de dados genéticos fornecidos voluntariamente pelas pessoas do país a fim de estudar a relação entre o DNA e a probabilidade de desenvolver certas doenças.
O que ninguém esperava é que os dados fossem mostrar que mais de 13 mil britânicos são fruto de endogamia — ou, de maneira bruta, incesto.
Pesquisadores australianos da Universidade de Queensland encontraram 125 casos de pessoas fruto de relações incestuosas entre as pouco mais de 450 mil analisadas, de idades entre 40 e 69 anos. Extrapolando os dados para toda a população do Reino Unido, o número total ficaria em torno de 13.200.
O estudo teve como foco somente as situações onde a consanguinidade é extrema, ou seja, parentes de primeiro e segundo grau como irmãos, avós e tios. Primos não foram levados em consideração, já que, em muitos lugares, não é legalmente considerada uma relação incestuosa.
A endogamia traz consequências adversas aos descendentes, tanto mental quanto fisicamente. Na história, ficou famoso o Maxilar de Habsburgo, uma formação da mandíbula que a deixa proeminente. Recebeu esse nome graças à famosa casa real europeia, que realizou tantos casamentos entre parentes próximos que Carlos II da Espanha (foto) nasceu infértil e isso lhes custou o trono do país.
Para encontrar essas agulhas nesse enorme palheiro celular, os pesquisadores buscaram homozigose, ou AA / aa pra quem lembra das aulas de genética do colégio. Quando o gene é igual, significa que veio de ambos os pais, e isso é comum. Se passa de 10% de homozigose no DNA, no entanto, a causa provavelmente é o incesto.
O estudo abordou os impactos físicos, cognitivos e no sistema imunológico. Os efeitos variam de estatura mais baixa a casos de capacidade cognitiva reduzida, infertilidade e função pulmonar prejudicada.
Concluiu, também, que as pessoas nascidas de relações incestuosas possuem 44% mais chance de contraírem doenças de quaisquer tipos se comparados aos que nasceram de relações exogâmicas.
Os dados também impressionaram: uma a cada 3.652 pessoas nasceu por incesto. Anteriormente, pensava-se que era uma a cada 5.247, mas esse número era retirado apenas das ofensas registradas em polícia e, portanto, era pouco confiável.
Ainda assim, há, também, o fator de quem são essas pessoas que enviaram seus dados para o Biobank. Os pesquisadores pensam se tratar de pessoas com maior nível de instrução e de saúde. Isso não reflete a população total do Reino Unido, querendo dizer que os números são enviesados.