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Notícias / Arquelogia

Fotos feitas por satélite espião da Guerra Fria revelam centenas de fortes romanos

Registros feitos entre décadas de 1960 e 1970 revelam construções desconhecidas na Síria e Iraque

Fabio Previdelli
por Fabio Previdelli
[email protected]

Publicado em 26/10/2023, às 12h03

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Um dos fortes romanos registrados em imagem - Divulgação/Antiquity
Um dos fortes romanos registrados em imagem - Divulgação/Antiquity

Registros publicados nesta quinta-feira, 26, na revista acadêmica Antiquity, revelaram a presença de centenas de fortes romanos até então desconhecidos situados na Síria e no Iraque. As imagens desclassificadas são de um satélite espião da Guerra Fria.

As fotos foram feitas pelos programas de satélite espião CORONA e HEXAGON — durante as décadas de 1960 e 1970. Elas revelam 396 locais de fortes romanos desconhecidos — o que causará uma reavaliação sobre as relações do antiga fronteira romana.

Os registros são correspondentes com um levantamento aéreo feito na região pelo explorador jesuíta francês Antoine Poidebard, em 1934; que registrou uma linha de 116 fortes. O The Guardian aponta que Poidebard foi pioneiro na arqueologia aérea no Médio Oriente.

Até então, os estudiosos acreditavam que os fortes formavam uma linha defensiva para proteger a província oriental do império das incursões árabes e persas e de tribos saqueadoras nômades que pretendiam capturar cativos e atacar escravos.

Fortes romanos registrados do satélite espião/ Crédito: Divulgação/Antiquity

Mas as descobertas apontam para um caminho diferente: as construções não serviriam como proteção para o constante conflito na fronteira, mas sim para apoiar um sistema de comércio inter-regional baseado em caravanas, comunicação e transporte militar.

"Desde a década de 1930, historiadores e arqueólogos têm debatido o propósito estratégico ou político deste sistema de fortificações", aponta o principal autor do estudo, o professor Jesse Casana, do Dartmouth College, em New Hampshire, EUA.

Mas poucos estudiosos questionaram a observação básica de Poidebard de que havia uma linha de fortes definindo a fronteira romana oriental", seguiu.

Nova visão

Embora os 396 novos fortes identificados estejam ocultados pelo desenvolvimento moderno, sabe-se que as construções foram amplamente distribuídas por toda a região — o que contrapõem a visão de que foi feito um muro fronteiriço norte-sul.

"Só conseguimos identificar com segurança restos arqueológicos existentes de 38 dos 116 fortes de Poidebard. Além disso, muitos dos prováveis ​​fortes romanos que documentamos neste estudo já foram destruídos pelo recente desenvolvimento urbano ou agrícola, e inúmeros outros estão sob extrema ameaça", apontou Casana.

O novo estudo levanta a possibilidade de que as construções foram feitas para apoiar o comércio transfronteiriço, também protegendo as caravanas que viajavam entre as províncias orientais e os territórios não romanos; além de facilitar as comunicações entre o leste e o oeste. Assim, as fronteiras romanas seriam menos rígidas e excludentes do que se imagina.

As imagens analisadas fazem parte do primeiro programa de espionagem por satélite do mundo — num dos períodos de maior tensão entre os Estados Unidos e a União Soviética durante a Guerra Fria. Conforme novas imagens sejam desclassificadas, pesquisadores acreditam que novas descobertas arqueológicas possam ser feitas.