Registros feitos entre décadas de 1960 e 1970 revelam construções desconhecidas na Síria e Iraque
Registros publicados nesta quinta-feira, 26, na revista acadêmica Antiquity, revelaram a presença de centenas de fortes romanos até então desconhecidos situados na Síria e no Iraque. As imagens desclassificadas são de um satélite espião da Guerra Fria.
As fotos foram feitas pelos programas de satélite espião CORONA e HEXAGON — durante as décadas de 1960 e 1970. Elas revelam 396 locais de fortes romanos desconhecidos — o que causará uma reavaliação sobre as relações do antiga fronteira romana.
Os registros são correspondentes com um levantamento aéreo feito na região pelo explorador jesuíta francês Antoine Poidebard, em 1934; que registrou uma linha de 116 fortes. O The Guardian aponta que Poidebard foi pioneiro na arqueologia aérea no Médio Oriente.
Até então, os estudiosos acreditavam que os fortes formavam uma linha defensiva para proteger a província oriental do império das incursões árabes e persas e de tribos saqueadoras nômades que pretendiam capturar cativos e atacar escravos.
Mas as descobertas apontam para um caminho diferente: as construções não serviriam como proteção para o constante conflito na fronteira, mas sim para apoiar um sistema de comércio inter-regional baseado em caravanas, comunicação e transporte militar.
"Desde a década de 1930, historiadores e arqueólogos têm debatido o propósito estratégico ou político deste sistema de fortificações", aponta o principal autor do estudo, o professor Jesse Casana, do Dartmouth College, em New Hampshire, EUA.
Mas poucos estudiosos questionaram a observação básica de Poidebard de que havia uma linha de fortes definindo a fronteira romana oriental", seguiu.
Embora os 396 novos fortes identificados estejam ocultados pelo desenvolvimento moderno, sabe-se que as construções foram amplamente distribuídas por toda a região — o que contrapõem a visão de que foi feito um muro fronteiriço norte-sul.
"Só conseguimos identificar com segurança restos arqueológicos existentes de 38 dos 116 fortes de Poidebard. Além disso, muitos dos prováveis fortes romanos que documentamos neste estudo já foram destruídos pelo recente desenvolvimento urbano ou agrícola, e inúmeros outros estão sob extrema ameaça", apontou Casana.
O novo estudo levanta a possibilidade de que as construções foram feitas para apoiar o comércio transfronteiriço, também protegendo as caravanas que viajavam entre as províncias orientais e os territórios não romanos; além de facilitar as comunicações entre o leste e o oeste. Assim, as fronteiras romanas seriam menos rígidas e excludentes do que se imagina.
As imagens analisadas fazem parte do primeiro programa de espionagem por satélite do mundo — num dos períodos de maior tensão entre os Estados Unidos e a União Soviética durante a Guerra Fria. Conforme novas imagens sejam desclassificadas, pesquisadores acreditam que novas descobertas arqueológicas possam ser feitas.