Localizado na fronteira entre Síria e Iraque, região é uma das mais importantes do Crescente Fértil no Oriente Médio
Um estudo publicado na revista Bioarcheology of the Near East revela as características da população que foi enterrada na necrópole de Tell es-Sin — um local bizantino datado entre os séculos 5 e 7 — localizado na Síria, na margem esquerda no Rio Eufrates.
O sítio abrange uma área de 25 hectares e fica localizado no meio de uma área que serviu como passagem para os antigos exércitos bizantinos e persas sassânidas — na atual cidade de Deir ez-Zor, fronteira entre Síria e Iraque.
O espaço é considerado um kastron, ou seja, um posto avançado com funções administrativas e militares. O tamanho do sítio, sua estrutura urbana e sua natureza fortificada sugerem que lá seria uma velha polis cujo nome ainda é desconhecido.
Tell es-Sin é uma das necrópoles mais importantes do Crescente Fértil no Oriente Médio, “mas muito pouco se sabre sobre isso”, observam os autores — Laura Martínez (da Faculdade de Biologia da Universidade de Barcelona) e Ferran Estebaranz Sánchez (da Faculdade de Biociências da Universidade Autônoma de Barcelona).
Como Ferran Estebaranz Sánchez explicam, “as amostras de Tell es-Sin constituem um conjunto heterogêneo e tendencioso de restos esqueléticos que correspondem a tumbas saqueadas ao longo do tempo”. Usando métodos biométricos tradicionais, este estudo antropológico queria fornecer informações sobre sexo, idade da morte, altura e outras variáveis morfológicas dos indivíduos encontrados no local.
A amostra analisada, apenas uma pequena parte do número total de enterros de Tell es-Sin, inclui restos humanos de dez hipógeas escavados pela missão sírio-espanhola. No total, foram analisados 71 indivíduos (pelo menos dezoito corresponderiam a homens e doze a mulheres).
Segundo os especialistas, não foi observado nenhum viés em relação ao sexo ou à idade nos restos estudados e destaca a falta de crianças em comparação com outros locais — elas poderiam ter sido enterradas em outros espaços na entrada da tumba.
Além disso, há pelo menos um a cinco indivíduos enterrados em cada nicho (a média é de três corpos, incluindo subadultos e adultos), de acordo com o modelo típico de enterro coletivo da Síria antiga.
Apesar do estado fragmentado dos restos, a equipe conseguiu estimar a altura da maioria dos indivíduos. “A altura média estimada dos ossos longos do membro superior foi de 1,74 para homens e 1,59 para mulheres”, comenta Estebaranz Sánchez.
Ademais, cerca de 33% dos indivíduos apresentaram alterações dos ossos cranianos tradicionalmente associadas à anemia ou deficiência de ferro, raquitismo, infecção ou outras condições inflamatórias.
A prevalência de doenças articulares degenerativas também foi baixa, aponta o estudo. Em relação à amostra odontológica, apenas 2,8% dos dentes apresentavam cáries — valor claramente inferior ao de outros locais bizantinos contemporâneos da região.
O fim do assento Tell es-Sin, no primeiro quarto do século 7, coincidiu com as guerras contra os persas sassânidas e as tribos árabes do Islã. Apesar das condições do depósito Tell es-Sin e da situação atual na região — após a ocupação pelo ISIS —, a descoberta e escavação de túmulos são cruciais para aprofundar o conhecimento dessa população.
“Por esse motivo, atualmente estamos analisando o padrão oral para poder inferir a dieta da população e, assim, concluir o modelo biocultural das populações fronteiriças com os grandes impérios da antiguidade”, concluem Laura Martínez e Ferran Estebaranz Sánchez.