Estudo envolto em polêmicas utilizou fóssil contrabandeado do Brasil
Cientistas alemães e franceses revelaram novos detalhes sobre um dinossauro que viveu no Nordeste do Brasil durante o período Cretáceo, que se deu entre 145 e 65 milhões de anos atrás. Eles analisaram um fóssil do crânio do Irritator Challengeri, que está no acervo de um museu na Alemanha, a partir de uma tomografia, e concluíram que o animal era um caçador mais rápido e versátil do que se imaginava anteriormente.
No entanto, a divulgação dessa pesquisa — publicada na revista Palaeontologia Electronica — também foi motivo de polêmica, uma vez que o crânio do exemplar foi contrabandeado na década de 1990, sendo levado para o Museu Estadual de História Natural de Stuttgart.
De acordo com o portal de notícias G1, o dinossauro em questão faz parte da família dos espinossaurídeos e as estruturas do crânio indicam que ele se alimentava de animais grandes e tinha comportamento ágil. Além disso, a pesquisa sugere que o dinossauro era capaz de transitar facilmente entre o ambiente aquático e terrestre.
O fóssil do Irritator foi provavelmente encontrado na Bacia do Araripe, região conhecida por reunir fósseis de seres que viveram há cerca de 110 milhões de anos.
Como explicou a fonte, desde 1942, existe um decreto-lei no Brasil que determina que os fósseis encontrados no país são propriedade do Estado. No entanto, embora os autores do estudo tenham reconhecido o "estado possivelmente problemático" do fóssil, apresentaram uma desculpa afirmando que realizaram a compra do exemplar antes das restrições de exportações, o que não é verdadeiro.
Quando o fóssil do Irritator Challengeri foi contrabandeado, ele aparentava estar bastante completo e bem preservado. No entanto, após uma análise cuidadosa, descobriu-se que parte das estruturas do fóssil eram uma fraude.
Os contrabandistas reconstruíram partes ausentes do crânio para dar a impressão de que a peça estava mais completa, aumentando assim o seu valor. Ao descobrir a fraude, os cientistas ficaram irritados, o que levou ao nome escolhido para o dinossauro. Além disso, também há relatos de que a "irritação" estava relacionada ao delicado trabalho de remoção dos enxertos.
Em entrevista ao G1, o principal autor da pesquisa, Marcos Schade, relatou que um focinho alongado e uma crista acima dos olhos foram identificados como modelagem artificial quando o museu recebeu o fóssil. Mesmo após várias limpezas, ainda foram encontrados vestígios de material enxertado durante essa pesquisa mais recente.
"De fato, a partir dos nossos dados de tomografia computadorizada, ainda encontramos alguns pequenos corpos estranhos na região central do crânio, que aparentemente não pertencem àquela área. Não parece improvável que, em tempos anteriores, o gesso tenha sido incluído no fóssil, mas não podemos estabelecer com certeza a identidade dos corpos estranhos que encontramos", disse o pesquisador alemão.
De acordo com Schade, uma das descobertas mais surpreendentes da pesquisa é que o Irritator tinha uma mordida fraca em relação a outros dinossauros da época, mas excepcionalmente rápida.
"Muitas mudanças anatômicas induzidas pela evolução explicam a aparência comparativamente bizarra desses dinossauros, que provavelmente eram especializados em capturar presas relativamente pequenas e ágeis", explicou o profissional, que destaca que a inclinação de 45° do focinho provavelmente facilitava uma visão tridimensional ao animal.
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