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Notícias / Arqueologia

O esqueleto descoberto na Inglaterra que teria pertencido a mulher reclusa

Novos estudos indicam que mulher do século 15 teria vivido reclusa

Éric Moreira sob supervisão de Giovanna Gomes Publicado em 08/02/2023, às 08h13 - Atualizado em 17/02/2023, às 09h58

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Esqueleto feminino do século 15 descoberto em sítio arqueológico de York Barbican, na Inglaterra - Divulgação/Universidade de Sheffield
Esqueleto feminino do século 15 descoberto em sítio arqueológico de York Barbican, na Inglaterra - Divulgação/Universidade de Sheffield

Em 2007, um esqueleto pertencente a uma mulher do século XV foi encontrado no sítio arqueológico onde, no passado, se encontrava a Igreja de Todos os Santos, em York Barbican, na Inglaterra. Além dela, outros mais de 600 restos mortais foram encontrados, tendo sido o resultado das análises dos ossos publicada somente em dezembro de 2022 na Medieval Archaeology.

No entanto, o esqueleto — catalogado como SK3870 — chamou a atenção dos pesquisadores desde sua descoberta por uma peculiaridade: em vez de ter sido encontrado no cemitério, ao lado dos outros, ele estava dentro das fundações da igreja, em uma sala atrás do altar, como explicado em comunicado. Além disso, também havia diferença na forma como o corpo foi enterrado, tendo sido depositado em posição agachada, com os joelhos próximos ao peito.

De acordo com os especialistas, conforme a Revista Galileu, somente membros do clero ou pessoas extremamente ricas poderiam ser enterradas, na época, dentro de igrejas. Por isso, hipóteses sobre a posição social que a mulher tinha apontavam para a possibilidade de ela, na verdade, ter sido uma 'lady' — sendo ela, desde então, conhecida como 'Lady Isabel German'.

Esqueleto de Lady Isabel German
Esqueleto de Lady Isabel German / Crédito: Divulgação/Universidade de Sheffield

Porém, apesar de um possível status social bem invejável, análises em laboratório indicaram que a mulher apresentou, em seus últimos anos de vida, artrite séptica e sífilis venérea avançada. Com as condições, ela teria vivido boa parte de sua vida com sintomas graves e visíveis de infecção por todo o corpo, e mais ao fim de sua vida, até mesmo ao declínio neurológico.

Visto isso, conforme aponta Lauren McIntyre, pesquisadora responsável pelo estudo, vale lembrar que nessa época havia forte associação entre doenças e o pecado. Dessa forma, "é tentador sugerir que alguém com doenças desfigurantes seria evitada ou quereria se comprometer a viver como uma anacoreta (uma pessoa que vive em solidão a fim de alcanças um estado de graça e pureza), de forma a se esconder do mundo", afirma. Mas o novo estudo indica que o caso pode ser diferente.

No controle 

McIntyre explica que "os novos dados do estudo nos permitem explorar as possibilidades que Lady German escolheu para se dedicar a uma vida de solidão como forma de permanecer autônoma e no controle de seu próprio destino". Ou seja, a decisão da mulher de se tornar anacoreta poderia não ter advindo de suas condições de saúde debilitadas, mas sim como forma de burlar as expectativas sociais — como que a mulher se casasse e se tornasse "propriedade" do marido.

Esse estilo de vida a teria tornado uma figura altamente significativa dentro da comunidade local. Por isso, ela teria sido vista quase como uma profeta viva", explica a pesquisadora.

No momento, o esqueleto de Lady Isabel German se encontra em meio a coleção da Universidade de Sheffield, na Inglaterra. "A análise de McIntyre mostra como isso pode ser extraordinário. A coleção nos deu a oportunidade de investigar um tipo de vida raramente refletido em registros arqueológicos", afirma Lizzy Craig-Atkins, professora da instituição de ensino que defende que novas informações sobre o passado ainda podem ser descobertos a partir da coleção.