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Notícias / Iceberg

Enorme iceberg se desprende da Antártida e revela biodiversidade escondida

Iceberg com tamanho comparável ao da cidade de Chicago, nos EUA, se desprendeu da Península Antártica, revelando área até então inacessível aos humanos

por Giovanna Gomes
ggomes@caras.com.br

Publicado em 25/03/2025, às 10h50

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Uma esponja, um aglomerado de anêmonas e outras formas de vida reveladas após iceberg se desprender da Península Antártica - Divulgação/ROV SuBastian/Instituto Oceano Schmidt
Uma esponja, um aglomerado de anêmonas e outras formas de vida reveladas após iceberg se desprender da Península Antártica - Divulgação/ROV SuBastian/Instituto Oceano Schmidt

Um iceberg de aproximadamente 540 km² – comparável à cidade de Chicago, nos EUA – se desprendeu da Península Antártica no dia 13 de janeiro, revelando uma área até então inacessível aos humanos.

Uma equipe internacional de cientistas que, por acaso, se encontrava em local próximo à região, no Mar de Bellingshausen, aproveitou a oportunidade para explorar o leito recém-exposto com a ajuda de um veículo operado remotamente (ROV). O resultado foi a descoberta de um ecossistema oculto e desconhecido.

Por estar em profundezas frias e escuras, sob uma espessa crosta de gelo, os pesquisadores não esperavam encontrar uma biodiversidade tão rica. No entanto, foram surpreendidos por uma grande variedade de seres vivos, incluindo esponjas, corais centenários, polvos, caracóis, aranhas-do-mar, peixes-gelo e até uma rara água-viva fantasma.

De acordo com o portal Galileu, embora os cientistas ainda analisem a extensão da descoberta, eles acreditam que várias novas espécies poderão ser identificadas. “Já até confirmamos a existência de alguns grupos inéditos de vermes poliquetas, crustáceos e peixes”, afirmou Patricia Esquete, cientista-chefe da expedição, à revista Scientific American.

O iceberg

O iceberg A-84, que possui 30 km de comprimento e 17 km de largura, se desprendeu da extremidade sul da plataforma de gelo George VI, sendo rapidamente levado pelas correntes oceânicas. Em seguida, acabou colidindo com partes da costa da Antártida, segundo o Observatório da Terra da Nasa.

Mesmo sem planejarem analisar a região recém-exposta, os pesquisadores a bordo do navio Falkor decidiram aproveitar a oportunidade única. Assim, no dia 25 de janeiro, chegaram à área e iniciaram seus estudos. Utilizando o veículo subaquático SuBastian, a equipe passou oito dias registrando imagens do fundo do mar a até 1.300 metros de profundidade, além de coletar amostras biológicas e geológicas, incluindo um núcleo gravitacional repleto de camadas de sedimentos.

O local permaneceu isolado por milhões de anos devido à Corrente Circumpolar Antártica, que funciona como um fosso ao redor de um castelo medieval. “Com base no tamanho dos animais, as comunidades que observamos estão lá há décadas, talvez até centenas de anos”, disse Esquete em comunicado à imprensa.

As descobertas desafiam estudos anteriores sobre ecossistemas sob o gelo, que sugeriam ambientes empobrecidos e com poucas espécies. “Sabemos agora que, sob as plataformas de gelo – pelo menos nos seus primeiros 15 km – existem ecossistemas diversos e bem estabelecidos”, destacou a pesquisadora. O achado levanta novas hipóteses sobre a vida em condições extremas.

Planos futuros

Além de identificar as espécies recém-descobertas, os cientistas pretendem estudar as adaptações que permitem a sobrevivência desses organismos. Em outras partes do oceano profundo, nutrientes da superfície afundam e sustentam a vida no leito marinho, mas esse processo não deveria ocorrer sob uma camada de gelo espessa.

Os pesquisadores também planejam retornar ao local no futuro para monitorar como os ecossistemas se adaptarão à nova exposição. Não se sabe se a biodiversidade permanecerá tão rica quanto é hoje, já que muitos organismos marinhos são altamente sensíveis a mudanças ambientais. Para as formas de vida descobertas no Mar de Bellingshausen, a perda da cobertura de gelo pode alterar drasticamente seus comportamentos e estratégias de sobrevivência.

“Nosso trabalho é essencial para fornecer um contexto de longo prazo dessas mudanças recentes, melhorando nossa capacidade de fazer projeções de mudanças futuras”, destacou Sasha Montelli, coautora do estudo.