Estudo internacional revelou jornada inédita e gerou um alerta para impactos climáticos na biodiversidade
Um grupo de especialistas internacionais trabalhou incansavelmente, durante os últimos 11 anos, para desvendar como borboletas da espécie Vanessa Cardui foram encontradas na América do Sul, um fenômeno até então inexplicável. Além de mapear a trajetória dessas borboletas, a pesquisa destaca os possíveis impactos das mudanças climáticas na biodiversidade global.
Em 2013, durante uma visita à Guiana Francesa, o pesquisador Gerald Talavera, do Instituto Botânico de Barcelona, encontrou borboletas Vanessa Cardui, uma espécie sem registros na América do Sul. Três borboletas foram capturadas, mostrando sinais de um voo exaustivo através do oceano, com asas danificadas e comportamento de repouso na areia.
A pesquisa, publicada recentemente na revista Nature Communications, revelou que as borboletas voaram pelo menos 4.200 quilômetros da África Ocidental à América do Sul, uma jornada que durou entre cinco e oito dias. Essa incrível façanha foi possível graças a uma estratégia de voo que alternava entre esforço mínimo e voo ativo, permitindo que as borboletas economizassem energia.
A equipe de pesquisadores reconstruiu a trajetória dos ventos no período em que as borboletas foram encontradas, inferindo rotas de vento em diferentes altitudes ao longo de 200 horas. As condições do vento foram favoráveis, permitindo que os insetos cruzassem o Oceano Atlântico. Análises de DNA e de pólen nas borboletas confirmaram que elas provavelmente originaram-se na Europa Ocidental, passando pela África antes de chegarem à América do Sul.
O DNA das borboletas capturadas foi comparado com outras da mesma espécie, mostrando semelhanças com as da África e da Europa. O pólen encontrado nas borboletas também foi analisado, revelando vestígios de plantas típicas da África Ocidental. Adicionalmente, análises de isótopos de hidrogênio e estrôncio nas asas das borboletas indicaram suas origens na Europa Ocidental e na África Ocidental.
Segundo o UOL, os pesquisadores alertam que as mudanças climáticas podem ter impactos significativos na biodiversidade, alterando padrões de migração e distribuição de espécies.
Geralmente, vemos as borboletas como símbolo da fragilidade da beleza, mas a ciência nos mostra que elas podem alcançar feitos incríveis. Ainda há muito o que descobrir sobre suas capacidades,” destacou Roger Vila, coautor do estudo.