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Notícias / Idade do Bronze

Coleção de ossos humanos é evidência de canibalismo e massacre na Idade do Bronze

Descobertos há 50 anos, restos mortais só foram reexaminados recentemente, mostrando um dos massacres mais sangrentos da pré-história britânica

Fabio Previdelli
por Fabio Previdelli
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Publicado em 16/12/2024, às 10h20

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Alguns dos ossos analisados - Antiquity
Alguns dos ossos analisados - Antiquity

Descobertos há cerca de 50 anos em uma cova de Somerset, no sudoeste da Inglaterra, uma coleção de ossos humanos da Idade do Bronze é a evidência de um episódio de canibalismo — e de um dos massacres mais sangrentos que se tem conhecimento da pré-história britânica. 

+ Há 15 mil anos, canibalismo era uma prática comum em funerais na Europa

Afinal, em algum momento entre 2.000 a.C. e 2.200 a.C., ao menos 37 pessoas foram mortas, entre homens, mulheres e crianças. As vítimas tiveram seus corpos jogados em um poço natural profundo de um vilarejo local. 

Massacre de Charterhouse Warren

Recentemente, pesquisadores realizam o primeiro grande estudo científico nos ossos, que foram desenterrados ainda nos anos 1970. Eles concluíram que após a morte violentas dos indivíduos, eles foram desmembrados e massacrados — e alguns até mesmo comidos

Além disso, muito dos crânios foram despedaçados por golpes. Após a morte, as vítimas tiveram seus ossos das pernas e braços arrancados numa tentativa de extrair a medula óssea. Marcas nos ossos das mãos e dos pés também evidenciam as marcas de mordidas de molares humanos. 

Isso tudo torna o massacre de Charterhouse Warren, como o evento tem sido chamado, um evento excepcional, até mesmo naquela época, visto que nada nesta escala de violência havia sido registrado na Grã-Bretanha da Idade do Bronze, aponta Rick Schulting, autor principal e professor de arqueologia científica e pré-histórica na Universidade de Oxford. 

"Para o início da Idade do Bronze na Grã-Bretanha, temos pouquíssima evidência de violência. Nossa compreensão do período é principalmente focada no comércio e na troca: como as pessoas faziam cerâmica, como cultivavam, como enterravam seus mortos", disse ao The Guardian. 

Não houve discussões reais sobre guerra ou violência em larga escala naquele período, puramente por falta de evidências", aponta. 

Segundo Schulting, a prática do canibalismo nessa escala também não é algo natural. "Se isso fosse de alguma forma 'normal', você esperaria encontrar alguma evidência disso em outros sítios. Temos centenas de esqueletos desse período, e você simplesmente não vê coisas assim".

Quando descobertos, no fundo de um poço natural de 15 metros, os restos mortais foram registrados de maneira breve e depois colocados em caixas; sendo 'ignorados' por cerca de cinco décadas até o recente estudo publicado na revista Antiquity

Após começaram a reexaminar os ossos, Schulting aponta que ele e sua equipe "rapidamente perceberam que se tratava de um conjunto muito maior do que qualquer um havia realmente registrado".

Um ponto que chamou a atenção é que quase metade dos ossos pertenciam a crianças, o que leva a crer que uma comunidade inteira havia sido exterminada em um único evento extremamente brutal.

Apesar disso, as circunstâncias do episódio ainda são desconhecidas, mas os pesquisadores sugerem que pode se tratar de um exemplo de "violência como performance", com os responsáveis pretendendo aterrorizar e alertar a comunidade em geral. Escalpelar, massacrar e comer as vítimas teria tido um efeito assustador semelhante.

Quem fez isso teria sido temido: isso teria ressoado, eu acho, através do tempo e do espaço naquela região em particular, provavelmente por gerações, como algo horrível que aconteceu aqui", diz o pesquisador. 

"Charterhouse Warren é um desses raros sítios arqueológicos que desafia a maneira como pensamos sobre o passado. É um lembrete gritante de que as pessoas na pré-história podiam igualar atrocidades mais recentes e lança uma luz sobre um lado obscuro do comportamento humano. O fato de ser improvável que tenha sido um evento único torna ainda mais importante que sua história seja contada", finaliza.