Para salvar espécie, pesquisadores ensinaram crocodilos-de-água-doce a associar o sapo-cururu a uma intoxicação alimentar
Pesquisadores da Universidade Macquarie desenvolveram uma abordagem inovadora para proteger os crocodilos-de-água-doce (Crocodylus johnstoni), uma espécie exclusiva do norte da Austrália. Eles ensinaram os crocodilos a associar os sapos-cururus (Rhinella marina) com intoxicação alimentar, conseguindo, assim, induzir uma aversão a esses anfíbios e evitar um "evento de mortalidade em massa" entre os répteis.
Os resultados foram detalhados em um artigo publicado na revista Proceedings of the Royal Society B nesta quarta-feira, 14.
Paul Bin Busu, um dos guardas florestais de Kimberly, relatou que inicialmente os crocodilos consumiam os sapos-cururus e depois se afastavam. Com o tempo, os répteis passaram a detectar o cheiro dos sapos e, no final, preferiam comer pescoços de frango em vez dos sapos.
De acordo com informações do portal Galileu, o sapo-cururu, extremamente tóxico, foi introduzido na Austrália na década de 1930 para controle de pragas, tornando-se uma espécie invasora que afetou negativamente a fauna local, incluindo cobras e crocodilos-de-água-doce.
Para enfrentar esse problema, os pesquisadores aplicaram a técnica de aversão condicionada ao sabor (ACT), que altera o comportamento alimentar dos crocodilos, fazendo-os associar os sapos a um desconforto temporário.
Mais de 2.000 sapos-cururus foram tratados: suas glândulas venenosas foram removidas e uma substância química que causa náuseas foi injetada. Os testes foram realizados no Vale Fitzroy, em Kimberly, utilizando iscas de carne de frango para avaliar a eficácia do método.
Durante quatro anos, de 2019 a 2022, a equipe monitorou a população de sapos e crocodilos com câmeras equipadas com sensores de movimento. Os testes mostraram uma redução significativa na mortalidade dos crocodilos, com até 95% de redução em algumas áreas.
Sara McAllister, do Departamento de Biodiversidade, Conservação e Atrações da Universidade Macquarie, destacou o sucesso da colaboração entre acadêmicos, guardas florestais e agências de gestão de terras na conservação. Os pesquisadores agora planejam adaptar a metodologia para outras espécies afetadas pelos sapos-cururus, como o lagarto-de-cauda-espinhosa (Varanus acanthurus).