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Matérias / EUA

Há 156 anos, em Gettysburg, a União virava o jogo

A maior batalha do continente americano e primeira grande batalha industrial marcou o início das guerras modernas

Márcio Sampaio de Castro Publicado em 01/07/2019, às 07h01

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Crédito: Reprodução
Crédito: Reprodução

Dia 30 de junho de 1863. Faltava pouco para as comemorações da independência norte-americana. O general Robert E. Lee conduziu o exército confederado em uma expedição que buscava levar a Guerra Civil até as cercanias de Washington, a capital do país.

Seus objetivos eram dar um golpe decisivo na moral do Exército da União, forçar o governo federal a sentar-se à mesa de negociações e conseguir uma outra independência: a dos estados do sul em relação ao restante do país.

Após dois anos de conflitos, Lee, conhecido por seus inimigos como Raposa Grisalha, colecionava uma sucessão de vitórias sobre as forças federais nos estados de Maryland e da Virgínia. Ao entrar na Pensilvânia, em pleno coração do território nortista, mostrava a seus inimigos que não estava disposto a perder a guerra.

Percebendo o tamanho da ameaça, o governo mobilizou um exército de 95 mil homens, liderados pelo general George G. Meade, para caçar e destruir os expedicionários confederados, que contavam com 75 mil soldados.

Ao raiar do dia 1 de julho, Lee despachou diversas brigadas para tentar estabelecer contato com o inimigo. Confiante nas vitórias recentes, o general sulista esperava liquidar seus perseguidores, destruindo de vez o moral dos unionistas. Nas cercanias da pequena Gettysburg, o contato foi finalmente estabelecido.

Começa a batalha

Gettysburg era uma pequena cidade interiorana cercada por morros rochosos e bosques. Ao aproximar-se dela, os confederados encontraram duas brigadas ianques, como eram chamados pejorativamente os nortistas por seus inimigos, entrincheiradas em uma faixa de aproximadamente 1,5 quilômetro de elevações ao sul da cidadezinha.

As trocas de tiros foram se sucedendo, enquanto os dois lados mandavam informes aos respectivos comandantes solicitando reforços. A aproximação da noite trouxe uma pausa para o combate, mas a escalada de violência que começara de maneira quase casual dava início a uma das mais importantes e a mais sangrenta batalha da Guerra Civil norte-americana.

Batalha de Gettysburg, por Thure de Thulstrup /
Créditos: Wikimedia Commons

Após as escaramuças do dia anterior terminarem com a manutenção das tropas federais em suas posições originais, o dia 2 de julho começava com um impressionante aumento dos efetivos de lado a lado. Morros como Culps Hill, Cemetery Ridge e Little Round Top eram o objetivo maior dos atacantes, enquanto as tropas do governo limitavam-se a cavar trincheiras e sustentar suas posições

Valendo-se de um comportamento que se transformara em marca de combate, os sulistas subiam as encostas dos morros urrando. Seu objetivo era contornar as extremidades das linhas de defesa e surpreender os inimigos pela retaguarda. Mas, à exceção de alguns combates corpo a corpo, na maioria das vezes foram repelidos a tiros antes mesmo que pudessem chegar perto das trincheiras nortistas.

Ao cair da noite, avaliando o resultado dos dois primeiros dias de batalha, o general Meade resolveu junto com seu Estado-Maior que a melhor coisa a fazer era manter uma postura defensiva. Um novo fracasso diante dos rebeldes, que tanto vinham humilhando o exército federal, poderia ter consequências desastrosas.

Tiro ao alvo

Os planos do general Lee para o dia 3 de julho eram um pouco mais ambiciosos em comparação ao que seus homens haviam feito até então. A Raposa Grisalha decidira que enviaria uma poderosa força de infantaria, com 12 mil homens, comandados pelo general Longstreet, para romper a linha de defesa inimiga bem no centro.

Ao mesmo tempo, despacharia sua cavalaria para atacar a retaguarda ianque, fazendo um longo contorno a leste de Gettysburg. O que Lee não sabia era que diversos fatores começavam a conspirar contra seus objetivos.

Às 13 horas daquele dia, uma gigantesca barragem de artilharia, composta por 170 canhões, iniciou um ataque que deveria devastar as defesas unionistas. A enorme coluna de fumaça que se seguiu aos disparos não permitiu aos observadores confederados perceberem que os projéteis estavam explodindo bem atrás das trincheiras inimigas.

Antes mesmo que os canhões sulistas silenciassem, os homens de Longstreet iniciaram uma marcha pelos mil metros que os separavam das trincheiras unionistas. O que se seguiu então foi uma verdadeira prática de tiro ao alvo, executada inicialmente pelos canhões e, em seguida, pelos rifles nortistas. Dois em cada três soldados atacantes não retornaram para suas linhas após a investida.

Gettysburg: a mais sangrenta batalha da Guerra Civil norte-americana /
Créditos: Wikimedia Commons

Quando voltou do ataque malsucedido, o general George Pickett protagonizou um dos mais célebres diálogos da história da Guerra Civil. Ao se aproximar do general Lee, ouviu do comandante-em-chefe uma ordem para reorganizar sua divisão, ao que respondeu: “General Lee, eu não tenho nenhuma divisão”.

Assim, todos os esforços para humilhar o numeroso, mas até então desorganizado exército da União, resultaram em um grande fracasso. A perda de quase um terço de seus efetivos em três dias de batalha impedia a continuidade da expedição em território inimigo.

O dia 4 de julho de 1863 foi marcado por uma torrencial chuva que caiu sobre a região da Pensilvânia. Debaixo do aguaceiro, Robert E. Lee montou em seu cavalo e conduziu o exército sulista de volta para a Virgínia. Em seu íntimo, sabia que a tão sonhada independência dos estados confederados estava mortalmente ameaçada pela derrota em Gettysburg.