Após demissões no Museu da Memória da ditadura da Argentina, Avós da Praça de Maio acusam governo de Javier Milei de tentar fechar centro histórico
Publicado em 06/01/2025, às 08h51
No último sábado, 4 de janeiro, a presidente das Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, denunciou publicamente o que considera ser uma iniciativa do governo de extrema-direita do atual presidente da Argentina, Javier Millei, de "querer fechar a ex-ESMA". O local, conhecido como Centro de Memória Haroldo Conti, foi um centro de tortura utilizado durante a ditadura militar argentina, que hoje serve como museu.
A Associação Civil Avós da Praça de Maio, por sua vez, é uma organização de direitos humanos cujo objetivo é localizar e restituir todas as crianças sequestradas e desaparecidas durante a brutal ditadura militar argentina, uma das mais violentas da América do Sul, que ocorreu entre 1976 e 1983.
A declaração recente de Carlotto, no caso, ocorreu logo após a Casa Rosada — sede da presidência da República Argentina — anunciar a demissão de centenas de funcionários do Centro de Memória, além da redução pela metade dos salários de vários trabalhadores que mantiveram seus cargos, conforme repercute o portal Opera Mundi, do UOL.
O que está acontecendo é terrível. As organizações de direitos humanos estão trabalhando para denunciar isso. O que o governo que é fechar a ex-ESMA", declarou publicamente a presidente das Avós da Praça de Maio.
Além disso, Estela de Carlotto também questionou as políticas públicas empregadas por Javier Milei no que se refere aos direitos humanos no país. "Dizem que é para limpar, dizem que é para organizar, mas para mim é destruir os espaços que falam da verdadeira história argentina, e que eles não querem que existam", opina.
Após as medidas anunciadas recentemente pela Casa Rosada, a Associação dos Trabalhadores do Estado da Argentina (ATE) também se posicionou, publicando em suas redes sociais um manifesto em que acusa o governo de promover "demissões em massa, crueldade, extorsão, perseguição e violência na Secretaria de Direitos Humanos".
Além disso, o grupo também realizou protestos na capital argentina, em oposição ao fechamento do Centro de Memória, que reuniu dezenas de milhares de pessoas em frente ao museu na noite do último sábado.
Vale mencionar que desde o início de seu governo, em 2023, Javier Milei foi responsável por realizar diversos ajustes em diferentes setores do aparato público na Argentina, sendo justamente o setor de museus um dos mais afetados.
Além do anúncio recente, na última terça-feira, 31 de dezembro, o secretário de Direitos Humanos da Argentina, Alberto Baños, também alegou em uma entrevista para veículos locais que o Centro de Memória deveria passar por uma reestruturação, e que inclusive talvez fosse fechado temporariamente por isso.
Leia também:Tortura, sadismo e sequestro de bebês: a criminosa e violenta ditadura de Jorge Rafael Videla