As judias Ana Maria e Betty se viram pela última vez em novembro de 1939, após o estouro da Segunda Guerra Mundial
Em novembro de 1939, as amigas judias Betty Grebenschikoff e Ana Maria Wahrenberg se encontravam em uma praça em Berlim, na Alemanha, pouco após o estouro da Segunda Guerra Mundial e a caça nazista ao judaísmo. Ambas com nove anos de idade na época, se despediam e trocavam anotações com dados pessoais para se reencontrarem, assim que possível.
Os destinos de ambas tomavam caminhos distintos a partir da crise ordenada por Adolf Hitler, obrigando a família de Betty a arranjar um novo local de morada, integrando um grupo estimado em 20 mil judeus que se mudaram para Xangai, na China, para fugir do Holocausto. Ana Maria também fez questão de mudar de continente, mas veio para a América do Sul, se estabelecendo até os dias atuais em Santiago, no Chile.
Apesar de conseguirem evitar a violência dos tempos sombrios da caça aos judeus promovida pelo Partido Nazista, a adaptação da língua, estar longe dos costumes de origem e, principalmente, a ausência da melhor amiga mobilizou as jovens por décadas para tentar contato, sem sucesso — ou, pelo menos, até o avanço da tecnologia.
Em 2020, uma ação de coleta de depoimentos chamou atenção da Fundação Shoah, da Universidade do Sul da California (USC), fundada pelo cineasta Steven Spielberg para a preservação da memória de vitimas de genocídios como o Holocausto. Duas histórias se cruzavam temporalmente e geograficamente, despertando a curiosidade dos proponentes da ação.
Após a confirmação dos nomes, uma a outra, elas confstataram que eram amigas na infância, iniciando uma série de chamadas por telefone, todos os domingos, a partir de novembro de 2020, porém, impossibilitadas de se abraçarem novamente em decorrência da crise sanitária acarretada pela pandemia mundial de covid-19, como informou O Globo.
Contudo, após um ano de conversas, ambas decidiram aceitar uma proposta da fundação para viajarem até a Flórida, nos Estados Unidos, onde passariam novos momentos fisicamente em um hotel. Em novembro de 2021, Ana Maria e Betty estavam finalmente juntas, após 82 anos de espera.
Agora aos 91 anos de idade, ambas já se tornaram avós e trocaram figurinhas sobre a vivência e lembranças da infância, além de se darem presentes regionais provenientes dos países onde cada uma foi morar. Posando para fotografias, elas foram entrevistadas pelo jornal Washington Post.
Ana explicou que a conexão ultrapassou o tempo e até as gerações da família: "Foi muito especial ver que duas pessoas ainda se amam depois de 82 anos. A filha dela e meu filho agora também são amigos. Estou muito feliz!", enfatizou.
Betty, por sua vez, enalteceu a presença da amiga: "Nós apenas tivemos essa sensação de que sempre estivemos juntas. Foi como se tivéssemos nos visto ontem. Tão confortável! A melhor parte foi simplesmente estar perto uma da outra e dar as mãos enquanto caminhávamos", concluiu.