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Notícias / Estados Unidos

50 marinheiros negros são inocentados 80 anos após desastre de Port Chicago

Grupo de marinheiros negros conhecidos como os "50 de Port Chicago" foram finalmente inocentados, após serem julgados injustamente e discriminados por explosão de 1944

Éric Moreira
por Éric Moreira

Publicado em 23/07/2024, às 09h16

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Fotografia da época da destruição de Port Chicago - Getty Images
Fotografia da época da destruição de Port Chicago - Getty Images

Em uma decisão histórica, na última semana a Marinha dos Estados Unidos finalmente inocentou mais de 250 militares negros condenados injustamente após o desastre de Port Chicago, de julho de 1944. Esse evento compreende uma explosão que devastou um porto na Califórnia em meio à Segunda Guerra Mundial, em que vários marinheiros foram julgados com base em preceitos discriminatórios.

Nos desenrolares mais recentes do caso, 80 anos após a tragédia, a Marinha norte-americana finalmente reconheceu oficialmente que as cortes de julgamento foram injustas na época, e contaminadas por discriminação racial na decisão. Infelizmente, nenhum dos homens, agora inocentados, continua vivo, mas o julgamento pode finalmente trazer uma sensação de que o caso foi encerrado.

A medida marca o fim de uma longa e árdua jornada para esses marinheiros, que lutaram por uma nação que lhes negou justiça igual perante a lei", segundo declaração de Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, em nota publicada pela Casa Branca. "Que todos nós lembremos de sua coragem, sacrifício e serviço à nossa nação".

Vale mencionar também, conforme repercutido pela Revista Galileu, que a decisão abre margem para que familiares sobreviventes dos homens considerados culpados na época do desastre de Port Chicago possam solicitar benefícios militares que, há 80 anos, lhes eram negados.

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Desastre de Port Chicago

Era 17 de julho de 1944 quando, em meio a um carregamento de munições no navio SS EA Bryan — que tinha como destino auxiliar as forças Aliadas na Segunda Guerra Mundial, a partir do Teatro de Operações do Pacífico —, ocorreu uma grande explosão que, ao todo, deixou cerca de 400 pessoas feridas, além de ter sido fatal a cerca de 320 pessoas, entre marinheiros e civis.

Fotografia da época do desastre de Port Chicago / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons
Fotografia da época do desastre de Port Chicago / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons
Fotografia da época do desastre de Port Chicago / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Um detalhe importante sobre este período é que, na época, as Forças Armadas estadunidenses ainda eram segregadas racialmente. Nesse contexto, os marinheiros negros que trabalhavam no porto de Port Chicago durante a explosão eram supervisionados e comandados por oficiais brancos.

Porém, logo após a explosão, os militares brancos receberam licenças temporárias, já no dia seguinte à tragédia, para lidar com o trauma. Os negros, porém, foram convocados imediatamente para voltar ao trabalho — eles deveriam limpar os escombros do acidente, e recuperar restos mortais de seus colegas e outros civis ao longo da área da explosão.

Foi então que 258 destes marinheiros, preocupados com as condições de trabalho e com seu próprio bem-estar, recusaram retornar imediatamente às atividades, alegando que ainda precisavam de mais treinamento e de equipamentos de proteção adequados para retornarem. Porém, após serem ameaçados com punição, 208 destes homens retornaram aos seus postos.

Logo após voltarem, esses 208 homens foram condenados por desobediência, e sentenciados a dispensas por má conduta, perdendo assim seus salários por três meses. Mas os outros 50, que não retornaram mesmo sob ameaça, foram julgados e condenados como um grupo separado, que teria "conspirado para cometer motim": os "50 de Port Chicago".

Esses homens, no caso, foram desonrosamente dispensados do serviço militar, e ainda sentenciados a 15 anos de trabalho em uma prisão militar, com salários revogados e patentes militares rebaixadas. Posteriormente, as sentenças foram reduzidas para 17 a 29 meses — e duas foram anuladas —, mas só foram inocentados de fato agora, em 2024.

"Os marinheiros dos 50 de Port Chicago, e as centenas [de trabalhadores] que estavam com eles, podem não estar conosco hoje, mas sua história continua viva, um testamento do poder duradouro da coragem e da busca inabalável por justiça", afirma Carlos Del Toro, atual secretário da Marinha, em comunicado. "Eles permanecem como um farol de esperança, nos lembrando para sempre que, mesmo diante de probabilidades esmagadoras, a luta pelo que é certo prevalecerá".