Localizada na Serra Fluminense, essa cidade teve um papel importante na história do Brasil
Foi em 1822, antes mesmo da Independência do Brasil, que D. Pedro I visitou pela primeira vez o local que viria a ser Petrópolis. Na época, ali existiam apenas algumas fazendas entre os enormes paredões rochosos da serra. O futuro imperador logo se apaixonou pela paisagem exuberante e pelo clima da região – bem mais ameno que o do Rio de Janeiro. Idealizou, assim, a construção ali de um palácio de verão para a corte, algo muito comum entre as monarquias europeias.
Os planos só foram concretizados anos depois, mas por D. Pedro II, que assinou o decreto de fundação do povoado de Petrópolis em 1843. Além da construção de um Palácio Imperial, o projeto previa a urbanização de uma vila ao redor. Petrópolis foi toda planejada, com as ruas seguindo o curso natural dos rios e as casas viradas para eles, mas recuadas, com espaço para amplos jardins – um projeto inovador para a época e que ainda pode ser visto no centro histórico da cidade. Para ajudar na construção do povoado, chegaram os primeiros colonos em torno de 1845 – no caso, imigrantes alemães.
Na época do Império, a temporada de verão em Petrópolis durava cerca de seis meses, quando a cidade tornava-se sede do governo. Junto a D. Pedro II e à família imperial, se deslocavam para Petrópolis nobres, diplomatas e intelectuais, que ali também construíram seus palacetes e mansões. Até mesmo vários presidentes do Brasil se renderam aos encantos de Petrópolis como destino de veraneio, notadamente Getúlio Vargas. Nas primeiras décadas da República, Petrópolis não perdeu seu prestígio e continuou atraindo personalidades ilustres, em um ambiente culto e refinado.
Hoje, a cidade é um importante destino turístico, pois soube preservar sua história. Petrópolis continua como um reduto de tranquilidade, estando entre as 50 cidades mais seguras do país (dados do Ipea de 2017).
Poucas cidades brasileiras têm um patrimônio imperial tão vasto e bem preservado quanto Petrópolis. As lembranças desse momento de nossa história estão por toda parte: em monumentos, construções e nomes de ruas e praças. Para conferir tudo isso, vale um passeio a pé pelo centro histórico, que é plano, bem arborizado e decorado com flores coloridas. Em vários pontos, há placas que contam um pouco da história de cada local.
Os palacetes do século XIX chamam a atenção pela beleza arquitetônica e pelo bom nível de conservação. Muitos viraram pontos turísticos, enquanto outros foram adaptados na forma de hotéis, prédios oficiais da prefeitura e comércio.
Porém, sem dúvida, o grande destaque é o próprio palácio de verão de D. Pedro II, hoje Museu Imperial. De estilo neoclássico, tem um acervo riquíssimo do Brasil Império e não deve nada a museus europeus do mesmo porte. Aberto na década de 1940 por decreto de Getúlio Vargas, ele recria alguns cômodos usados pela família imperial com móveis e objetos originais e ainda tem em exposição itens como a pena usada pela Princesa Isabel para assinar a Lei Áurea, as coroas de D. Pedro I e D. Pedro II e as vestes monárquicas, além de cartas, joias e pinturas.
Perto dali está a Catedral São Pedro de Alcântara, em estilo neogótico, cuja torre pode ser vista de vários pontos da cidade. No interior, encontra-se o Mausoléu da família imperial, onde estão os restos mortais de D. Pedro II, Dona Teresa Cristina, Princesa Isabel e Conde D’Eu. Há também 38 vitrais de grande beleza, que contam algumas passagens da história de Petrópolis e de santos católicos.
Com uma estrutura de ferro e vidro, o Palácio de Cristal foi encomendado pelo Conde D’Eu em homenagem à Princesa Isabel. Ali foi assinada a libertação dos escravos de Petrópolis, antes mesmo da Lei Áurea. Para visitar, a entrada é gratuita. Também vale conferir a Casa da Princesa Isabel (visita apenas externa). No jardim, ainda há camélias brancas, símbolo dos abolicionistas da época.
Vários restaurantes, pousadas e outros estabelecimentos de Petrópolis se reuniram no chamado Tour da Experiência, oferecendo produtos e atrações interativas para mergulhar na época do Império. Um dos mais interessantes é o Sarau Imperial, uma apresentação com a Princesa Isabel que ocorre no Cineteatro do Museu Imperial.
Apesar de grande parte do patrimônio da cidade ser do período do Império, há uma série de construções surpreendentes que datam do século XX. Entre as figuras ilustres que continuaram a frequentar a cidade está Santos Dumont. O pai da aviação teve ali sua residência de veraneio, mais conhecida como “A Encantada” – atualmente aberta à visitação.
De longe, parece uma casa de brinquedo, bem compacta, sobre um terreno em declive. Porém, é funcional e, como seu antigo morador, à frente de seu tempo. O desenho, feito a pedido do próprio Santos Dumont em 1918, é repleto de traços da genialidade do inventor, como os degraus em raquete, o chuveiro com aquecimento de água e os móveis multiuso. Em exposição, há objetos, livros e cartas de Santos Dumont.
Já o Palácio Rio Negro, a partir de 1903, foi usado como residência oficial de verão por vários presidentes da República. Hoje funciona como um museu, onde é possível ver de perto móveis originais usados por Getúlio Vargas, as escadarias de mármore e muito mais.
Por muito tempo, Petrópolis atraiu a nata da elite brasileira. Assim, nada mais natural do que a construção de um hotel cassino luxuoso: o Palácio Quitandinha, erguido na década de 1940 para ser o maior do tipo na América do Sul. Repleto de ambientes e detalhes suntuosos, o hotel foi palco de grandes bailes de Carnaval, shows de artistas famosos da época e até concursos de Miss Brasil. Porém, apenas dois anos após sua inauguração, os jogos de azar foram proibidos no país e o hotel entrou aos poucos em decadência.
Recentemente, o Palácio Quitandinha passou a ser administrado pelo SESC e é agora aberto a visitas. Os salões foram restaurados e dá para ter uma amostra dos tempos de glória do hotel. O espaço do antigo cassino surpreende com uma cúpula gigantesca.
Petrópolis vai muito além do patrimônio histórico: é um dos principais polos cervejeiros do país. A cidade também é considerada o berço da produção de cerveja no Brasil, já que ali surgiu a primeira cervejaria do país – a Bohemia, fundada em 1853. Junto às vizinhas Teresópolis, Nova Friburgo e Guapimirim, Petrópolis faz parte da Rota Cervejeira do Rio de Janeiro, que engloba 23 produtores de todos os portes.
Muitas cervejarias são abertas a visitantes e oferecem atrações imperdíveis para os fãs da bebida. A Bohemia transformou parte de sua fábrica original, localizada no centro de Petrópolis, no maior centro de experiência cervejeira da América Latina. Funciona como um museu interativo da cerveja, com ambientes temáticos sobre a história da bebida e seu processo de produção. No tour, acontece degustação de alguns rótulos da Bohemia.
Produtora de marcas conhecidas como Itaipava, Crystal e Petra, o Grupo Petrópolis oferece beer tour guiado e gratuito pela fábrica de Petrópolis. Vale conhecer também a Buda Beer, microcervejaria artesanal e brewpub. Em um ambiente descontraído, acontecem tours com degustação. Já o cardápio tem pratos que harmonizam com as cervejas da marca.
Sempre no segundo final de semana do mês (entre sexta à noite e sábado), em frente à Câmara Municipal, acontece em Petrópolis a Deguste, uma feira de cervejas artesanais. Marcam presença vários pequenos produtores da cidade e da região serrana, além de food trucks e barraquinhas de produtos gourmet e artesanato.
Com inúmeras lojas, galerias e confecções locais, Petrópolis é um reconhecido polo de moda nacional. Roupas e acessórios de alta qualidade são vendidos a preços muito atrativos. Para fazer umas comprinhas, vá à famosa Rua Teresa, no centro, ao bairro do Bingen e à Feirinha de Itaipava, que funciona aos sábados, domingos e feriados.
A gastronomia também ganha cada vez mais destaque na cidade. Há uma boa variedade de restaurantes – de hamburguerias a bistrôs refinados, de culinária italiana a culinária japonesa. Perto do centro histórico, o bairro de Valparaíso é o polo gastronômico da cidade. Durante o ano, há uma série de eventos gastronômicos em Petrópolis, como o Festival Sabores de Outono, o Serra Wine Week e o Petrópolis Gourmet.
As festas culturais também são imperdíveis, como a tradicional Bauernfest, em homenagem aos imigrantes alemães, a japonesa Bunka-Sai e a italiana Serra Serata. Já o Festival de Inverno traz uma programação com concertos, óperas, ballet, shows e peças de teatro. No fim do ano, o Natal Imperial deixa a cidade toda iluminada.
Grande parte do Parque Nacional da Serra dos Órgãos fica em Petrópolis – uma reserva com exuberante fauna e flora da Mata Atlântica, além de cachoeiras e incríveis formações rochosas. Uma atração bem conhecida é a travessia Petrópolis-Teresópolis, uma extensa trilha com cerca de 30 km dentro do parque, que dá acesso a vistas panorâmicas de tirar o fôlego. O roteiro indicado tem duração de três dias e início em Petrópolis. Recomenda-se ir acompanhado de guia especializado.
Por Patrícia Chemin – revista Qual Viagem