Diariamente mais de 40 navios com imigrantes chegavam à cidade. A maioria da Irlanda
Em 1850, Nova York era bem diferente da cidade que hoje recebe milhões de turistas
por ano. Naquela época, quem chegava eram imigrantes que fugiam da pobreza que
assolava a Europa. Ao longo da década de 1840, o número de estrangeiros que desembarcaram na cidade foi o mesmo que a soma da população total de 20 anos antes.
Dentre os imigrantes, o maior contingente era de irlandeses. Em 1847, cada um dos 40 navios vindos diariamente da Irlanda despejaram 700 imigrantes na cidade. Em uma década, 1 milhão de irlandeses aportaram em Nova York. Cerca de 100 mil se fixaram na cidade e passaram a disputar empregos e espaço com os ex-escravos negros. E havia
mais: 40 mil alemães, 55 mil italianos, além de gregos, húngaros e poloneses.
Nenhuma cidade do mundo havia lidado, até então, com uma quantidade tão grande de gente chegando de uma só vez. A concentração populacional cresceu e ultrapassou 300 pessoas por hectare, um número nunca antes visto por qualquer cidade americana. Na parte sul da ilha de Manhattan, todo canto era ocupado e surgiram enormes cortiços.
Em 1850, a crise social era evidente: milhares de crianças perambulavam pela cidade – tanto que uma lei foi criada para que menores entre 5 e 15 anos fossem resgatados e institucionalizados. Miséria, fome, desabrigados e ignorância: prato cheio para doenças como a cólera.
Abaixo, confira 6 curiosidades sobre a Nova York de 1850
O clima de exclusão entre os imigrantes foi propício para a formação de gangues, uma forma de se protegerem e conquistarem poder. Nos anos seguintes, salões, clubes sociais e de trabalhos voluntários passaram a organizar a participação dessas comunidades e permitiram a ascensão social das minorias.
O clima de rivalidade social explodiu num quebra-quebra sem precedentes. Na noite do
dia 10 de maio de 1949, 8 mil pessoas invadiram um teatro onde a classe alta assistia a
uma peça de Shakespeare. Para controlar o tumulto, a polícia atirou na multidão, matando 22 pessoas e ferindo mais de 150.
Para atenuar os efeitos da pobreza, surgem organizações como o Lar dos Sem Amigos, a
Sociedade de Alívio aos Pobres, a Sociedade para Restauração dos Jovens Delinquentes, Sociedade para Viúvas Pobres com Crianças Pequenas e a Casa Cristã para Mulheres Trabalhadoras.
A cidade foi tomada pela segregação religiosa, social, racial e étnica. Uns
odiavam os outros. Ricos e pobres eram quase divididos por castas. Negros sentavam na parte superior das igrejas. O sentimento de revolta contra os ingleses também era algo crescente entre as diversas comunidades estrangeiras.
Com medo do crescente número de católicos na cidade, organizações protestantes, como a Sociedade Guardiã, mesclavam caridade com ações missionárias e limitavam sua assistência aos que os protestantes consideravam “pobres merecedores”. A Sociedade de Ajuda Infantil oferecia abrigo, cama, banho, sopa de feijão com carne de porco e, é claro, os ensinamentos protestantes. Tudo isso por 17 centavos a noite.
Trabalhadores revoltados atracamse com a classe mais alta, irlandeses brigam com ingleses, brancos enfrentam negros. Na chamada Bloody Sixth (“Sexta Avenida Sangrenta”), gangues de católicos lutam contra protestantes pelo controle das ruas – tudo isso provocou uma debandada da classe média para a parte norte da cidade. Foi assim que a Quinta Avenida foi se sofisticando.
Para saber mais curiosidades históricas, ouça agora o podcast abaixo 'Desventuras na História', apresentado pelo professor de História Vítor Soares, idealizador do podcast 'História Em Meia'.