Primeiro imperador do país teve episódios curiosos em sua vida íntima
Vítor Soares, professor de História Publicado em 13/11/2021, às 09h00 - Atualizado em 31/12/2021, às 09h00
Não é difícil olhar para o passado e encontrar uma atitude ou um costume que cause espante a nós. Dentre os inúmeros absurdos que existiam antigamente, ter uma amante era considerado um relativamente aceitável.
É importante deixar claro desde o começo desse artigo que homens traindo suas esposas era relativamente aceitável, mas não o contrário. Se por exemplo descobrissem que a Imperatriz Leopoldina teve um amante e traiu seu marido D. Pedro I, o caso poderia causar problemas para ela até em âmbito político.
Mas se o oposto acontecesse? E se D. Pedro I traísse a sua esposa? Na verdade, isso aconteceu - e muitas vezes.
O primeiro imperador do Brasil era um sujeito agitado. De acordo com a historiadora Isabel Lustosa, é plausível a possibilidade de ele ter sido hiperativo: “possivelmente, o que hoje os médicos diagnosticam como uma pessoa hiperativa. Vivia em permanente movimento, não sabia o que era sossego, repouso, tédio e também não conheci a fadiga". A sua agitação e infidelidade não combinavam com as características de sua esposa, que tinha muita classe.
O primeiro caso conhecido da vida sexual de D. Pedro foi com uma dançarina francesa chamada Noémi Thierry. D. Pedro I chegou a ter um filho com ela, mas nasceu morto. O seu pai, D. João VI, já planejava unir seu filho a Leopoldina e por isso fez questão de abafar o romance e enviar a francesa para longe. Mesmo assim, enquanto esperava a chegada de sua esposa, D. Pedro I também se relacionou com a irmã da dançarina.
Pode-se discutir sobre se esses casos foram ou não infidelidade. Afinal, eles não estavam juntos tecnicamente ainda. Mas após o dia 13 de maio de 1817, data do seu casamento com Leopoldina - que inclusive, foi feito por procuração - qualquer outra mulher que ele tivesse relações seria considerado oficialmente uma traição.
Acontece que de acordo com o livro A Carne e o Sangue (2012, Editora Rocco), da historiadora Mary Del Priore, cartas encontradas pelo Museu Imperial registravam que a primeira imperatriz do Brasil detestava sexo.
Há uma teoria sobre as puladas de cerca de D. Pedro I terem sido acordadas entre o casal, como se a Maria Leopoldina aceitasse que D. Pedro I fosse "resolver" seu apetite sexual com outras. Mas não há registro algum sobre isso.
Desde o começo do seu casamento o príncipe brasileiro teve relações extraconjugais, mas a maioria não era pública. Foi somente que em agosto de 1822 - um mês antes de gritar "Independência, ou morte!" contra os portugueses - que D. Pedro I teve um caso que seria conhecido por todo o país: sua relação com Domitila de Castro Canto e Mello.
Ela usou seu relacionamento com o príncipe para, mesmo mal falada pela corte, ganhar espaço e títulos dentro da nobreza brasileira. Mais tarde ela receberia o título de Marquesa de Santos - mesmo nunca tendo pisado em Santos.
Mesmo sendo uma espécie de "amante oficial", D. Pedro I teve relações até mesmo com a irmã da própria amante, como relata Lustosa:
"Mal se iniciara o romance com Domitila, o “insaciável estroina”, como o chama um biógrafo, já se metia sob os lençóis de Maria Benedita, irmã mais velha da amante e casada com Boaventura Delfim Pereira. D. Pedro precisaria a data de pelo menos um dos encontros que manteve com Benedita em carta a um amigo. Falando de seus filhos bastardos, refere-se àquele “que foi feito naquela noite de 27 de janeiro de 1823 e nasceu em 5 de novembro do mesmo ano, por um motivo bem simples, que a mãe não era burra”.
Havia bizarrices eróticas na relação entre a então Marquesa de Santos com D. Pedro I. Primeiro que algumas cartas encontradas pelo Museu Imperial onde o imperador do Brasil assinasse como "Fogo Foguinho" e "Demonão". Mas além disso, ele enviava desenhos feitos por ele mesmo do próprio pênis - alguns inclusive ejaculando - e inseria pelos pubianos dentro das cartas para a amante.
Mas a grande ironia é que Domitilia exigia que D. Pedro I fosse fiel a ela. Claro, aceitando que ele continuasse seu casamento, pois provavelmente o enxergava como algo apenas político. Sabemos que o imperador não perdoou nem a irmã da própria amante, mas não hesitou em mentir em uma carta enviada para ela com o título de "Titília e o Demonão":
"Meu amor
Minha Titília
Eu já não namoro a ninguém depois que lhe dei minha palavra de honra, e assim não lhe mereço teus ataques. E quanto a dizer-me que lhe não dei parte de ter ido a Botafogo tu engana-se, pois à noite eu lhe disse (por tal sinal) que tinha ido com a Imperatriz no carro e a passo. Sinto infinito depois de tanto tempo de prova mecê ache ainda capaz de lhe fazer traições e infidelidades
Este que se considera e afirma ser seu amante fiel, constante, desvelado, agradecido e verdadeiro
O Imperador".
A saga de Pedro I agora é tema do novo episódio do podcast 'Desventuras na História'. Com minha narração, o episódio relembra não só a vida pública do imperador, mas também sua vida íntima, destacando um episódio pouco discutido da vida de Pedro I: sua saga em Portugal após abdicar o trono brasileiro.
No 'Desventuras na História', você também pode conferir a saga de Maria Antonieta,Dante Alighieri, Alexandre, O Grande e Gengis Khan.
Abaixo, você confere o episódio 'Dom Pedro I: herói de Portugal'.