"Estou profundamente convencido da importância de máscaras, luvas, máquinas, mas o direito de dizer adeus não deve ser menos importante”, disse um dos líderes do projeto
Na última semana, a Itália se tornou o país com mais mortes registradas por conta do novo coronavírus, o COVID-19. Com leitos hospitalares insuficientes para atender todos os infectados, dezenas de pessoas morrem todos os dias sem terem a chance de conseguirem um tratamento médico.
Apesar de toda a medida implementada pelo governo italiano — como a quarentena obrigatória o fechamento de comércios não essenciais —, a disseminação do vírus ainda acontece de maneira desenfreada por lá: dados de ontem, segunda-feira, 23, mostram que 50.418 pessoas foram infectadas e o número de mortes chegou a 6.077.
O sistema de saúde também sofre com a falta de profissionais e de equipamentos essenciais, como máscaras de proteção facial e respiradores. Com isso, os hospitais do país entraram em colapso.
Por causa dessas circunstâncias, muitos idosos que foram vítimas do COVID-19 não tiveram a oportunidade de se despedirem de seus entes queridos. A situação é explicada com mais detalhes pela médica Francesca Cortellaro, do hospital San Carlo Borromeo, de Milão.
"Você sabe o que é mais dramático? Observar os pacientes morrendo sozinhos, escutá-los pedir que se despeça seus filhos e netos por eles”, declarou em entrevista ao jornal Il Giornale. Ela também disse que uma das pacientes havia feito um último pedido comovente para ela: ver a neta antes de morrer. Assim, Francesca pegou um telefone e fez a última ligação em vídeo entre a idosa e a jovem. "Elas se despediram. Logo depois, ela se foi”.
O relato ganhou as redes sociais e, motivados por isso, um grupo de militantes do partido democrático, na zona 6 de Milão, conduz uma medida para que os idosos nessa situação tenham o direito de dizer adeus aos seus entes queridos.
"A ideia de não ser capaz de dizer adeus me machuca mais do que a própria morte e existem outros locais com idosos, hospitais e asilos, onde não há mais a possibilidade de dizer adeus”, disse Lorenzo Musotto, vereador do partido democrático e um dos líderes da iniciativa.
Através do Facebook, Musotto diz que a principal ideia do projeto é de possibilitar que "os doentes cumprimentem seus entes queridos pela última vez”. Para isso, o político pede para que tabletes fossem doados para as instituições médicas. "Estou profundamente convencido da importância de máscaras, luvas, máquinas, mas o direito de dizer adeus não deve ser menos importante”, concluiu.