Talvez você já tenha ouvido falar da tragédia da Ilha da Páscoa. Ponto mais ao leste colonizado pelos polinésios, passou por séculos de isolamento até que uma tragédia ambiental levou à fome e, depois, à guerra tribal. No século 18, quando os europeus encontraram os nativos de Rapa Nui, como eles a chamavam, afirmaram ter encontrado uma população mínima e miserável.
Talvez essa História seja mal contada. Arqueólogos da Binghamton University (Nova York, EUA) estudaram objetos triangulares de obsidiana afiada chamados ma’ta, que acreditava-se serem pontas de lança – e, dada sua abundância na ilha, uma prova da violência dos anos pré-contato.
Quatrocentos ma’tas foram estudados pela técnica morfométrica, uma análise matemática da forma, levando em conta o nível tecnológico da época – no caso da ilha, pré-histórico, neolítico. Os polinésios tinham barcos, animais domésticos e agricultura, mas não escrita ou metalurgia.
O resultado foi que os objetos, mesmo afiados, dariam péssimas armas. A equipe sugere que os ma’tas eram implementos agrícolas ou talvez agulhas para tatuagem, uma prática comum das civilizações polinésias.
Carl Lipo, o principal autor do estudo, descarta completamente a visão tradicional sobre o colapso da população da ilha – inclusive o fato de ele ter ocorrido, o que é um debate que já existia. “O que as pessoas tradicionalmente pensam sobre a ilha, como um lugar de catástrofe e colapso, simplesmente não é verdade num sentido pré-histórico”, afirma. “As populações eram bem-sucedidas e viviam de forma sustentável na ilha até o contato com os europeus.”
É uma forma de justiça para com uma incrível civilização que, com tecnologia da Idade da Pedra, conseguiu colonizar pontos isolados por milhares de quilômetros no Pacífico e talvez até mesmo tenham chegado à América – o que é outro mistério e controvérsia sobre eles.
OS MOAIS SÃO INOCENTES
As impressionantes estátuas que são o símbolo da Ilha de Páscoa foram acusadas de ser a causa do suposto colapso da civilização polinésia no local. Com até 10 metros de altura e 82 toneladas, exigiam uma quantidade imensa de trabalho humano. Mais que isso, exigiam madeira. As árvores eram cortadas para servir de suporte e para rolar as estátuas até onde seriam erigidas. Isso teria acabado com as florestas e arruinado a ecologia da ilha, fazendo com que a agricultura e a pesca fossem impraticáveis – o que levou à guerra generalizada e ao colapso civilizacional. Essa é a versão tradicional para os fatos.