Amante das palavras, a imperatriz representou suas tristezas e angústias em textos redigidos para seus familiares. Neles, a nobre fala sobre política, amor, saúde e traição
Leopoldina era uma mulher de muitas palavras. Com uma educação comum aos membros da elite e da nobreza, a Imperatriz adorava escrever cartas e, em algumas das correspondências, fez grandes revelações sobre o império de seu marido.
Seja para quem fossem as páginas escritas, Leopoldina tinha o costume de redigir parágrafos e mais parágrafos de seus sentimentos mais profundos. Dessa forma, angústias, felicidades e tristezas da governante foram eternizadas nas folhas.
Muitas dessas correspondências, às vezes inéditas para os desavisados, foram publicadas no livro Cartas de uma imperatriz, lançado em 2006. Nas peças, Leopoldina, ela se mostra uma mulher que, em algumas questões, estava à frente de seu tempo.
Política brasileira
No dia 7 de março de 1822, por exemplo, Leopoldina escreveu uma pequena carta ao seu pai, Francisco I. No texto, escrito poucos meses depois do Dia do Fico, a Imperatriz narra suas angústias em relação ao Brasil.
“Aqui reina um verdadeiro caos de idéias e cenas”, ela conta. “Tudo surgido do logro chamado espírito de liberdade, e nas províncias do Norte agora estão assassinando todos os europeus. Deus permita que a situação fique calma, como quer me parecer”.
No exemplar, ela ainda comenta sobre a grande decisão de Dom Pedro I. “Meu esposo declarou que ficará aqui; embora pensemos diferentemente em alguns aspectos, é melhor que me cale e observe silenciosamente”, comenta.
Por fim, ela termina carinhosa, com uma demonstração de devoção ao pai. “Beijo-lhe as mãos inúmeras vezes, assim como as da querida mamãe, e permaneço sempre com fervorosíssimo amor filial e respeito, caríssimo papai, sua filha mui obediente”.
Registros de uma esposa leal
Uma segunda correspondência, datada do dia 28 de agosto de 1822, foi escrita em São Cristóvão e destinada ao próprio Dom Pedro I. “Meu querido e muito amado esposo”, Leopoldina começa. “Perdoe mil vezes que eu ralhei na minha última carta”.
Neste texto, a Imperatriz mostra-se preocupada com seu marido. “Deve ser-lhe prova de amizade de ser muito triste de ter me deixado faltar notícias suas”, escreve. A preocupação, no entanto, também dá-se por alguns acontemimentos inusitados.
“Sinto muito dar-lhe notícias desagradáveis, mas não quero faltar à verdade, mesmo se é penoso a meu coração”, Leopoldina anuncia. “A tropa de Lisboa entrou na Bahia, e dizem que desembarcou; a nossa esquadra não se sabe o que fez, se é falta de ânimo dela é preciso o mais rigoroso castigo, chegarão três navios de Lisboa”.
Na ocasião, a nobre classifica os portugueses como “abomináveis” e explica que eles exigem a volta de Dom Pedro I para terras lusitanas. “Eu lhe escrevo isto porque penso que lhe representaram em baixo de outro modo falso”, conta a imperatriz.
Amor e fofocas
Ao final da segunda correspondência, Leopoldina ainda reitera o nome de jornais e publicações que falaram mal do governo de Dom Pedro I. Na carta, a governante ainda expressa ter opiniões semelhantes às de José Bonifácio.
Saudosa, a imperatriz cita o último texto que recebeu do marido, vinda de Taubaté. “Não falando das muitas saudades suas que eu tenho, pedindo-lhe que não fique mais ausente que um mês; o José Bonifácio lhe dirá o mesmo”, ela pede.
Por fim, Leopoldina expressa o amor que sentia pelo marido, ou que, pelo menos, queria mostrar que sentia. “Receba mil abraços e as expressões do mais terno amor e amizade desta sua esposa que o ama ao extremo. Leopoldina”.
O fim de uma imperatriz
A última das cartas foi escrita três dias antes da morte de Leopoldina. Redigida às 4 horas da manhã do dia 8 de dezembro de 1826, a correspondência foi enviada à irmã da melancólica imperatriz, Maria Luísa.
“Minha adorada mana!”, ela inicia. “Reduzida ao mais deplorável estado de saúde e tendo chegado ao último ponto de minha vida em meio dos maiores sofrimentos, terei também a desgraça de não poder eu mesma explicar-te todos aqueles sentimentos que há tanto tempo existiam impressos na minha alma”.
Neste, que foi um de seus últimos textos, o tom de Leopoldina é triste. “Minha mana! Não tornarei a vê-la! Não poderei outra vez repetir que te amava, que te adorava!” Em seguida, a imperatriz ainda pede que Maria Luísa cuide de seus filhos “órfãos”.
Deprimida, a governante finaliza a carta falando sobre o relacionamento entre Dom Pedro I e a Marquesa de Santos. “Ultimamente, [o imperador] acabou de dar-me a última prova de seu total esquecimento a meu respeito, maltratando-me na presença daquela mesma que é a causa de todas as minhas desgraças”. Por fim, quase que em seu último suspiro, ela diz adeus e pede que a irmã eduque suas filhas.
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