Quase como um alter ego da jovem nascida na Califórnia, a estrela de Hollywood foi forjada pela indústria cinematográfica, segundo narrou a biógrafa Joyce Carol Oates
Ingredi Brunato, sob supervisão de Alana Sousa Publicado em 06/05/2021, às 08h00 - Atualizado em 01/04/2022, às 09h00
Hoje em dia, a indústria do entretenimento está lotada de personagens que, ao subirem nos palcos ou se apresentarem na frente das câmeras, assumem identidades diferentes das com que nasceram. No Brasil, esse é o caso de Xuxa e de Fernanda Montenegro.
Em Hollywood, uma das personas mais famosas já criadas por uma estrela do cinema foi a grande Marilyn Monroe, nome artístico da norte-americana Norma Jeane Baker. Por um lado, o título remete a um dos maiores símbolos sexuais do século 20.
Acontece que, por trás do poderoso nome, existia uma mulher real, que passou boa parte de sua infância em lares temporários. Nascida na Califórnia, Norma teve uma vida em que era simultaneamente idolatrada e objetificada e, no final, protagonizou um fim trágico que veio através de uma overdose — possivelmente, um suicídio.
Esse é um argumento amplamente defendido pela escritora norte-americana Joyce Carol Oates, que produziu uma das mais diferenciadas obras baseadas em Marilyn, chamada “Blonde” (Ou, em tradução livre, “Loira”), lançada em 2000.
A biografia, que é dividida em dois volumes, traz a proposta de retratar o subjetivo mundo interior da atriz, tirando para isso diversas licenças criativas, sem haver muita preocupação com a fidelidade aos fatos, o que termina por produzir uma releitura romantizada da vida de Monroe.
“‘Marilyn Monroe’ não era um indivíduo, mas uma performance. Quando estava sozinha ou com amigos próximos, ela era uma pessoa muito diferente de sua imagem pública. ‘Marilyn Monroe’ foi produto de um contrato injusto entre Norma Jeane e Hollywood”, afirmou Joyce, segundo repercutido em uma matéria de 2020 do veículo O Globo.
É curioso pontuar que, em sua obra, a autora fez questão de colocar o nome da estrela entre aspas em todas as vezes que a cita. De acordo com informações do Estadão, pode ser, inclusive, que a obra seja adaptada para a linguagem audiovisual pela Netflix, sob a direção de Andrew Dominik, ainda em meados de 2021.
“MM era claramente muito carente, o que se traduzia em uma personalidade infinitamente desejável na tela: uma bela mulher que também era infantil, inocente e vulnerável”, afirmou Joyce em uma entrevista à IstoÉ, argumentando ainda que essa característica se deveria à ausência do pai e a instabilidade da mãe.
O magnetismo que fascinou audiências durante a carreira de Marilyn não se devia apenas aos seus problemas, todavia. Na verdade, é bem o contrário, ainda de acordo com a autora.
“Acima de tudo, fiquei surpresa em perceber como MM era excelente atriz. Ao contrário de Ava Gardner, Elizabeth Taylor e outras estrelas da época, MM estava sempre tendo aulas: atuação, canto, dança. Ela ambicionava se tornar uma atriz de teatro séria e atuar em peças de Chekhov”, comentou ela.
Oates acrescentou, porém, que esse esforço por parte do ícone cultural foi ignorado por muitos de seus colegas de indústria: “Fiquei surpresa, mas também desanimada com a relutância de seus contemporâneos em Hollywood em reconhecer que MM era uma atriz tão versátil, na verdade uma comediante brilhante (basta ver Quanto Mais Quente Melhor)”, afirmou na mesma entrevista.