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Veículos não-tripulados: guerreiros de metal

A criação de veículos não-tripulados, terrestres e aéreos, para missões de combate pretende diminuir os riscos - e as baixas - a que soldados se expõem na linha de frente

Carlos Emilio Di Santis Junior Publicado em 01/08/2008, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36

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Aventuras na História - Arquivo Aventuras
Aventuras na História - Arquivo Aventuras

Na guerra, a perda de soldados é um fato que produz mais que simples números. Um conflito precisa de um mínimo de apoio popular para não afetar a aprovação de um governo. Isso sempre foi um sério problema e, em guerras como a do Vietnã, nas décadas de 1960 e 1970, vimos manifestações ferozes nos Estados Unidos, freqüentemente organizadas por pacifistas e parentes de soldados mortos e feridos na frente de batalha.

A legitimidade de os Estados Unidos lutarem naquela guerra pode ser questionada, mas é certo que se não tivesse ocorrido o enorme número de baixas americanas (cerca de 54 mil mortos e 300 mil feridos), provavelmente não teria havido a comoção contra as operações no sudeste asiático. A Guerra do Iraque, iniciada em 2003 sob o nome de OIF (Operation Iraqi Freedom, ou Operação Liberdade Iraquiana), acabou se tornando uma guerra de desgaste e é outro conflito no qual o número de baixas cresce assustadoramente.

O objetivo de derrubar o então ditador iraquiano Saddam Hussein foi atingido. No entanto, a manutenção de tropas em território iraquiano causou um estrago sério na aprovação do governo Bush, graças à excepcional resistência que os guerrilheiros iraquianos têm mostrado contra a ocupação estrangeira. Até o momento, mais de 4 mil soldados americanos foram mortos. E o interesse dos jovens do país em servir seu Exército caiu drasticamente, fazendo que até se cogitasse a volta do serviço militar obrigatório.

Muito já se fez para diminuir as mortes no front. Melhorou-se o uniforme dos soldados, com coletes balísticos mais leves e resistentes. Construíram-se aeronaves virtualmente invisíveis ao radar. Novas bombas guiadas por laser e GPS são capazes de impactar um alvo a distâncias elevadas e com margem de erro de centímetros, permitindo a diminuição das ogivas e, conseqüentemente, dos efeitos colaterais. Hoje, morre-se menos em guerras do que há 20 ou 30 anos. Porém, cada vez mais, a perda de soldados torna-se o pior inimigo do governo em um conflito.

Para eliminar o problema, cientistas estão debruçados em suas pranchetas com o objetivo de criar uma série de veículos de combate não-tripulados, ou verdadeiros robôs, com capacidade de ser controlados a distância, ou de assumir ações de combate por conta própria, baseados em critérios pré-programados em sistemas de inteligência artificial. Esses sofisticados equipamentos estão sendo desenvolvidos para uso no ar, na terra e, em menor escala, no mar.

Os UGVs (Unmanned Ground Vehicles, ou Veículos Terrestres Autônomos) vêm sendo criados em diversos tamanhos e para várias missões. A maioria em estudo refere-se a veículos guiados por controle remoto, sem capacidade de agir por conta própria. Inicialmente, sistemas UGVs foram construídos para missões de extremo risco, como desarmar bombas e descobrir armadilhas. Esses “anjos da guarda” robóticos são usados por exércitos e departamentos de polícia do mundo todo e são bastante comuns nos Estados Unidos.

Combate em terra

Novos UGVs estão surgindo com capacidades ampliadas para missões complexas e igualmente perigosas. Nesse campo, os americanos estão à frente, com alguns protótipos armados com metralhadoras e, às vezes, com lançadores de granadas automáticos, que, junto aos sensores de imagens, poderão ser usados em missões de reconhecimento e patrulhas, principalmente no teatro de operação urbano.

Nas operações levadas a cabo no Iraque e no Afeganistão, o Exército dos Estados Unidos já executou missões bem-sucedidas com um UGV avançado, que hoje responde pelo nome de Swords (Special Weapons Observation Reconnaissance Detection System, ou Sistema Especial de Armas, Observação, Reconhecimento e Detecção). Os resultados positivos levaram à encomenda de mais unidades. Seu custo de 230 mil dólares por robô deve cair para menos de 160 mil dólares, após a entrada total do sistema em produção.

O Swords pode ser armado com uma metralhadora de uso geral M-240 – calibre 7,62mm x 51mm –, com sensores térmicos e de TV que fazem a visada do alvo, caso haja necessidade de atirar. O controle do tiro é liberado ou não por um soldado, localizado distante do cenário de combate e que avaliará a necessidade de força letal.

O corpo de fuzileiros navais dos Estados Unidos está desenvolvendo um veículo similar. Seu nome é Gladiator, um multifunção que acumulará missões de combate com fogo direto e reconhecimento armado. O modelo Gladiator usa sistema de lagartas para locomoção em qualquer terreno e mostra-se mais robusto que os outros UGVs. O armamento é igualmente variado, podendo ser uma metralhadora M-240 ou M-60, um fuzil M-16 ou um lançador de granadas. Existe também a possibilidade de uso de armamentos não-letais para controle de distúrbios civis.

Ainda para uso em combate direto, há sistemas autônomos pesados que se parecem com tanques de guerra, mas sem tripulação. Esses sistemas, por suas dimensões, são mais resistentes a fogo inimigo. Hoje o ARV (Armed Robotic Vehicle, ou Veículo Robótico Armado) é o programa para um robô com essas características. Diversos desenhos têm sido apresentados e, em sua maioria, mostram um veículo nas dimensões de um tanque leve, armado com lançadores de mísseis e um canhão.

Outro interessante uso para esses UGVs é o de suporte para o infante em caminhadas a pé, e um projeto em estágio avançado é o MULE (Multifunction Utility Logistics Equipment Vehicle, ou Veículo Utilitário Multifunção para Logística e Equipamento). O uso de UGVs será algo bastante comum em cerca de 10 ou 15 anos, porém sua utilização específica em combate deverá ser algo restrito ao médio ou longo prazo, em função da necessidade de desenvolver sistemas de pontaria mais eficientes, além de uma capacidade maior de resistência a impactos inimigos.

Combate nos céus

Os sistemas autônomos específicos para combates aéreos são, hoje, os de estágio mais avançado – alguns já estrearam em batalhas reais. A sigla UAV (Unmanned Aerial Vehicle, ou Veículo Aéreo Não-tripulado) designa aeronaves controladas, em sua maioria, de forma remota, de uma base terrestre ou de outro avião, e que possuem funções de reconhecimento. Em geral, elas decolam equipadas com câmeras e sensores para retransmitir imagens para suas bases.

O interessante sobre sua evolução é a incorporação de armamentos e de uma capacidade de operação autônoma, isto é, sem interferência de um piloto externo. Armados, eles passaram a ser chamados de UCAVs (Unmanned Combat Air Vehicles, ou Veículos de Combate Não-tripulados). Atualmente, está em serviço na Força Aérea dos Estados Unidos o General Atomics RQ/MQ-1 Predator, inicialmente um UAV, mas que, armado com potentes mísseis Hellfire antitanque, tornou-se o primeiro UCAV usado em combate real.

O Predator, no entanto, é um veículo remotamente controlado, não sendo capaz de executar uma missão independente e, assim como seu irmão maior, o Northrop Grumman RQ-4 Global Hawk, precisa de um piloto virtual. A ambição dos militares, hoje, está focada no desenvolvimento de uma nova geração de UCAVs que, além de ser remotamente controlada, possa executar suas tarefas, mesmo as de ataque, de forma autônoma.

Uma demonstração foi feita em fevereiro de 2005, nos Estados Unidos, pelos protótipos do Boeing X-45A, primeiros UCAVs da nova geração. Duas unidades, voando autonomamente, foram informadas sobre um alvo em terra. Os aviões, ao receber tal dado, calcularam sozinhos diversos fatores que precisariam ser analisados para o cumprimento do ataque, como a posição do alvo em relação a eles, carga de combate a ser usada, combustível restante e rota de fuga.

As aeronaves mudaram seu curso, e um deles lançou uma bomba, que acertou o alvo escolhido. Além do sucesso da operação, quando os aviões executavam o ataque, um segundo alvo apareceu de surpresa e foi informado aos dois X-45A. O segundo avião, então, lançou sua bomba e destruiu o alvo-surpresa. O teste demonstrou a capacidade dos aviões de operar em equipe, determinando qual deles lançaria as armas e sua resposta, caso houvesse mudança no cenário tático.

O X-45A é um demonstrador e o avião UCAV definitivo sairá do programa UCAS D (Unmanned Combat Air Systems Demonstration, ou Demonstrador de Sistema Aéreo de Combate Sem Piloto). Esse programa prevê o desenvolvimento de protótipos do projeto da Northrop Grumman, que está construindo o X-47B, um UCAV de uso embarcado em navios. O X-47B será capaz de atacar alvos a 2,9 mil quilômetros com uma carga de armas de 2 mil quilos, de forma autônoma ou por controle remoto.

Outros países também desenvolvem protótipos similares. Casos da Rússia, com seu UCAV da Mig, conhecido como Skat; da China, com o Anjian; e de várias nações européias que possuem um programa conjunto chamado Neuron.

Para saber mais

Livros

Technology Development for Army Unmanned Ground Vehicles, National Research Council, National Academies Press, 2002

Atuais programas de veículos não-tripulados do Exército americano e sua implantação.

SITE

www.globalsecurity.org/military/systems/ground/ugv.htm

Site dedicado à apresentação de sistemas de armas do mundo todo.