US Navy: o novo rei dos mares
Carlos Emilio Di Santis Junior Publicado em 01/09/2007, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36
A marinha dos Estados Unidos (US Navy) é considerada uma superforça naval graças à incrível quantidade de navios de combate e à avançada tecnologia. Hoje, são 22 navios cruzadores da classe Ticonderoga, 50 destróieres da classe Arleigh Burke, 30 fragatas da classe Oliver H. Perry, 18 submarinos lançadores de mísseis nucleares intercontinentais e 55 submarinos de ataque, além de 13 porta-aviões com capacidade para operar cerca de 100 aeronaves, a grande maioria delas de combate. Para se ter uma idéia da grandeza desses números, basta dizer que são poucas as forças aéreas do mundo que contam com mais de 50 ou 60 aviões de combate. Com tudo isso, a US Navy é, de longe, a maior marinha do mundo e aquela com maior capacidade ofensiva.
Essa força bruta tem origem na natureza da estratégia de guerra das Forças Armadas americanas, que tem por objetivo levar as batalhas para bem longe de seu território – ou seja, para o “quintal” do inimigo. Para conseguir isso, a força de combate da US Navy é centrada em porta-aviões, que lideram grupos de batalha compostos de muitos navios de guerra, de escolta e de apoio. Hoje, pode-se dizer que a Marinha dos Estados Unidos é a ponta mais importante das Forças Armadas desse país, pois ela é capaz de combater no mar, na terra – por meio de sua força de fuzileiros navais – e no ar, com o grupamento aéreo de seus 13 porta-aviões.
Aposentadoria
Os maiores porta-aviões do mundo atualmente são os da Marinha americana, e os navios mais bem-sucedidos da história são, sem dúvida, os da classe Nimitz, o maior vaso de guerra já construído. Hoje, há nove desses navios, mas o departamento de defesa americano encomendou o projeto de uma nova classe para substituir os mais antigos Nimitz, assim como o poderoso porta-aviões da classe Enterprise, que estará com 50 anos de serviço em 2015, quando se espera que os novos navios entrem em serviço.
O projeto desse porta-aviões teve mais de 70 propostas estudadas, uma delas era a de um navio furtivo, cujo desenho seria revolucionário, porém, de menores dimensões em comparação com os atuais. Depois de avaliadas as propostas, a escolhida foi a do moderníssimo superporta-aviões USS Gerald R. Ford CVN-78, que está sendo desenvolvido pela Northrop Grumman, líder na construção de vasos de guerra de grande porte.
Entre as características do novo CVN-78 estão a de permitir uma disponibilidade de serviço 25% maior que a de seus antecessores e a capacidade de lançamento de aeronaves 20% superior ao dos navios aeródromos atuais. Outro diferencial nesse projeto é a grande redução de antenas externas e mastros, tão comuns nos porta-aviões. Essa mudança decorre da necessidade de tornar a embarcação mais furtiva aos radares.
O radar do tipo Aegis, de varredura eletrônica ativa, SPY-3 MFR (multi-function radar), tem suas antenas montadas nas estruturas da ponte, ou seja, “incrustada nas paredes da torre de controle”. Esse radar, o mesmo usado no novo destróier DDG-1000 da classe Zumwalt (veja Grandes Guerras nº 17), será o padrão nos principais navios de guerra da Marinha americana a entrarem em serviço nos próximos anos.
O alcance desse radar é estimado em 450 km a 500 km, e sua capacidade de interceptar alvos múltiplos é excelente. Ele será usado tanto para busca aérea e de superfície quanto para iluminação de alvos e controle de fogo para o armamento antiaéreo. Isso faz com que um único sistema de radar substitua até cinco radares diferentes usados pelos navios americanos.
O sistema de propulsão e geração de energia do CVN-78 é outro grande diferencial tecnológico. Serão instalados dois reatores nucleares que vão movimentar quatro eixos, levando as 100 mil toneladas de deslocamento do CVN-78 a uma velocidade máxima aproximada de 30 nós (65 km/h). Esses reatores irão fornecer também três vezes mais energia elétrica que a produzida pelos porta-aviões da classe Nimitz, permitindo a operação de catapultas eletromagnéticas no lugar das tradicionais a vapor.
A vantagem da catapulta eletromagnética é permitir lançamentos de aviões com menor velocidade de navegação. Para lançar aeronaves de um porta-aviões, o navio precisa estar a uma velocidade específica para produzir vento e melhorar a sustentação das aeronaves. Isso é considerado uma limitação tática. No novo CVN-78, a velocidade de navegação durante o lançamento poderá ser menor.
Além disso, a catapulta eletromagnética permite a operação de um número maior de lançamentos e em menor tempo que a catapultas convencionais. Isso aumenta a agilidade das equipes em colocar os aviões de combate no ar. Os cabos de aço usados para a recuperação das aeronaves no pouso também serão operados por esse inédito sistema eletromagnético.
Pronto para briga
A capacidade de combate do CVN-78 será composta por sistemas de defesa antiaérea com um lançador de oito células de mísseis Raytheon ESSM (Envolved Sea Sparrow Missile) para defesa de área com alcance de mais de 50 km; três lançadores de mísseis RIM-116 RAM (Rolling Airframe Missile) para defesa antiaérea de ponto, especialmente contra mísseis de cruzeiro, com alcance máximo de 7,5 km. Não se pode esquecer, contudo, que o grupamento aéreo é a principal força de combate do navio, tanto para se defender quanto para atacar. Para isso, há uma força aérea formada por cerca de 80 aviões, a grande maioria de combate de alto desempenho. Os aviões destinados a operar nesse novíssimo porta-aviões são de última geração, caso do Lockheed Martin F-35C Ligthning II, fruto do programa Join Strike Fighter (JSF).
O F-35C será o primeiro caça de quinta geração embarcado a entrar em serviço no início da próxima década. Ele foi projetado para executar missões de ataque de precisão a uma distância de mais de mil km, de forma furtiva, já que é um caça stealth (de difícil detecção por radares) de alto desempenho. O F-35C é plenamente capaz em combate ar-ar e seu principal armamento será o AIM-120C5 Amraam, míssil de médio alcance guiado por radar ativo capaz de destruir um caça inimigo a 105 km.
Esse míssil é o principal armamento do “irmão mais velho” do F-35C, o Boeing F/A-18E/F Super Hornet, a última versão do famoso caça F-18, sucesso total nas últimas guerras do Golfo e da antiga Iugoslávia. O Super Hornet é responsável pela defesa aérea do porta-aviões e de seu grupo de batalha de escolta e para isso transporta uma pesada carga de dez mísseis AIM-120 Amraam e mais dois mísseis de curto alcance Raytheon AIM-9X Sidewinder.
Fora a esplêndida capacidade de combate aéreo do Super Hornet, ele é um incrível bombardeiro de profundidade, com capacidade de atacar alvos marítimos também. O Super Hornet foi projetado com algumas alterações em seu desenho para diminuir sua reflexão de radar, mas o mais novo F-35C é muito mais difícil de se detectar. Para guerra eletrônica e ataque anti-radar, o porta-aviões CVN-78 transportará pelo menos quatro jatos Boeing E/A-18 Growler, uma versão especial do F/A-18 especializado nesse tipo de combate, em jammer (interferência eletrônica) e armado com mísseis ar-ar de combate aéreo e mísseis anti-radar Raytheon AGM-88 HARM.
Para alerta aéreo antecipado serão transportados, inicialmente, quatro aviões radar Grumman E-2D Hawkeye. Essa aeronave transporta em suas costas uma grande antena de radar APY-9 com alcance de cerca de 550 km, permitindo uma varredura do espaço aéreo bem à frente do grupo de batalha. O CVN-78 terá ainda aeronaves Lockheed KS-3A Vicking, que vão executar missões de reabastecimento aéreo para os caças.
No futuro, espera-se que tanto o E-2 Hawkeye, quanto o KS-3 Vicking sejam substituídos por um único tipo de aeronave multifunção, ainda em fase de projeto. Está prevista também a operação de aviões de combate sem piloto (ver Grandes Guerras nº 13), com 12 unidades do modelo X-47B da Northrop Grumman, caso ele entre em serviço.
Os planos do CVN-78 prevêem a construção de três porta-aviões de sua classe a serem entregues para serviço em 2014 (CVN-78), 2018 (CVN-79) e 2022 (CVN-80). Isso mantém o poder estratégico da Marinha dos Estados Unidos de levar a guerra para o território inimigo, por meio de uma força naval poderosa e baseada em grupos de batalhas centrados em navios porta-aviões.
USS GERALD R. FORD CVN-78
FICHA TÉCNICA
Comprimento: 340 m
Calado: 11 m
Boca: 41 m
Propulsão: nuclear
Velocidade máxima: 30 nós
Autonomia do reator: 20 anos
Sensores: radar SPY-3 MFR/VSR com alcance estimado de 500 km
Armamento: lançadores de mísseis Sea Sparrow, mísseis RAM RIM-116
Aviação: 24 F-35C JSF, 24 F/A-18E Super Hornet, 4 E/A-18 Growler,10 CSA. 6 Helicóptero SH 60 Sea Hawk, e 12 X-47B J-UCAS
Site
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