Grandes nomes da literatura escreveram sobre gastronomia
Muitos escritores, dramaturgos e poetas, que entraram para a história por seu talento com as palavras, deixaram registros claros de seus hábitos à mesa nas próprias obras. Alguns deles tornaram público o apetite voraz e o apreço por um bom prato. Outros, ao contrário, demonstraram que só comiam por obrigação.
William Shakespeare (1564-1616)
Dramaturgo depurou o paladar ao longo do tempo
A relação do inglês com a comida está presente em boa parte de sua obra e seu gosto foi se apurando com o tempo. "O contato com o mundo elegante de Londres faz com que se refinem as alusões à qualidade dos alimentos", afirma o catalão Néstor Luján no livro Historia de la Gastronomía. Nos trabalhos tardios, o leitor percebe que o autor apreciava a arte de comer bem. Este trecho é de História de Inverno, de 1611: "Três libras de açúcar, cinco de coentro e arroz; é preciso que haja açafrão, para dar cor às tortas de pera (...)"
Vinicius de Moraes (1913-1980)
Poeta gostava de improvisar ao fogão
O poetinha não era só bom de versos. Era ótimo também no forno e no fogão. Craque no improviso, recolhia o que havia na geladeira e acabava deixando os amigos surpresos. Também sabia fazer feijoada. A receita, colocou inteirinha nos versos de Feijoada à Minha Moda, de 1962. Seu talento culinário maior, no entanto, era o preparo de doces - ainda na adolescência, gostava de fazer balinhas à base de ovo e açúcar. A receita predileta era a de papos-de-anjo. Quem conhece Carta ao Tom, de 1964, deve se lembrar.
Monteiro Lobato (1882-1948)
Autor imortalizou receitas do interior do Brasil
Caipira de corpo e alma, o criador da boneca Emília apreciava a culinária do interior brasileiro a ponto de imortalizá-la em seus livros. Até hoje, quem pensa no Sítio do Picapau Amarelo quase sente o cheiro dos bolinhos de chuva preparados por Tia Nastácia. A receita existia de verdade e fazia parte do caderno de sua mulher, dona Purezinha. Anote:
Bolinho de chuva
Ingredientes: 2 xícaras de farinha de trigo; 3 colheres (sopa) de açúcar; 1 pitada de sal; 1 colher (sopa) de fermento em pó; 2 colheres (sopa) de leite; 1 colher (sopa) de manteiga; 3 ovos; 1 colher (sopa) de parmesão; erva-doce; óleo para fritar; açúcar e canela em pó.
Preparo: Misture a manteiga e o açúcar. Acrescente os ovos e coloque aos poucos o trigo com fermento. Misture. Acrescente sal, leite, erva-doce e queijo. Mexa. Frite em óleo quente. Abaixe o fogo quando o óleo estiver muito quente. Salpique os bolinhos com açúcar e canela.
Fernando Pessoa (1888-1935)
O poeta era figura constante nos cafés e restaurantes de Lisboa. Mas não era um gourmet. Ele passava horas à mesa escrevendo, tragando e bebericando café e bagaço (aguardente de uva). Apesar do desprendimento em relação à comida, não faltam registros de receitas em seus versos, de arroz-doce a bife, passando até por sardinhas.
Mário de Andrade (1893-1945)
O escritor registrou na obra O Turista Aprendiz boa parte de seus interesses gastronômicos. Viajando por MG, AM e Nordeste (1924-1929), teve contato com receitas típicas. Os doces, no entanto, eram seu ponto fraco. A receita de batata rosada está entre as 131 anotadas em um caderno.
Gilberto Freyre (1900-1987)
O autor de Açúcar e Casa-Grande e Senzala era bom de garfo e reconhecia as tradições culinárias como um dos aspectos mais fundamentais da cultura de um povo. Frequentava endereços chiques, mas a lista de seus pratos prediletos mostra que ele gostava mesmo era das receitas populares, como cozido de charque e legumes.