Doença pode ter influenciado obra de Aleijadinho
Aleijadinho, ou Antônio Francisco Lisboa, criou obras fantásticas. Isso é fato. O que se discute é se elas estão relacionadas às suas doenças – que lhe renderam o nada politicamente correto apelido. O mineiro tinha porfiria (sensibilidade excessiva à luz, que chegava a provocar bolhas quando ele se expunha ao sol) e hanseníase. A influência delas na obra tinha sido notada já pelo escritor Mário de Andrade, que, ao estudar o barroco mineiro, constatou duas fases do artista: uma sã, caracterizada pela serenidade e clareza, e outra de enfermo, em que surge um sentimento gótico e expressionista. Um dos melhores exemplos das obras pré-doença é a igreja São Francisco de Assis, em Ouro Preto. Apesar de ter perdido boa parte dos dedos por causa da hanseníase, aos 47 anos, Aleijadinho continuou produzindo com instrumentos amarrados às mãos. A serenidade é deixada de lado e surgem obras como os 12 Profetas de pedra-sabão de Congonhas, Minas Gerais, que têm deformações anatômicas. Nas biografias do artista, as razões para o fato variam entre a colaboração (menos talentosa) de ajudantes e a idéia de que eles representam a Inconfidência Mineira – as anomalias seriam demonstração da revolta contra os portugueses.