Com exclusividade ao site Aventuras na História, Francisco Kaiut explica os benefícios da prática e como cresceu tanto nas últimas décadas
Redação Publicado em 25/04/2021, às 09h00
Atividade milenar executada há mais de 5 mil anos, o Yoga reúne de uma vez a prática física, mental e espiritual. Um dos nomes mais conhecidos do Brasil quando se fala nesta prática é Francisco Kaiut, que conta como surgiu essa história e de que maneira ela tem crescido tanto nas últimas décadas.
Há cerca de 5 mil anos, surgiu na Índia uma atividade que alia exercícios mentais, físicos e espirituais. De lá para cá, ao expandir por todo o mundo, o yoga ganhou algumas variações de acordo com as regiões onde se encontram, mesmo assim não perdeu sua essência, que, ao contrário, só foi reforçada pelo ganho de adeptos nestes locais.
Segundo Francisco Kaiut, o “Yoga é uma prática milenar que que combina o uso do corpo e da mente para buscar alinhamento com a nossa natureza ancestral. Em outras palavras, é uma prática que usa o corpo humano como ferramenta para equilibrar corpo e mente, resgatando funções e mobilidades naturais do corpo humano, que há muito tempo vem sofrendo pela subutilização das mais diversas formas. Yoga nunca foi exercício físico, ele é uma prática que impacta cada célula, articulação e todo o sistema nervoso. Promove o resgate do corpo como um sistema funcional, ativo e pronto para a vida moderna.”
Ele lembra ainda que essa “é uma prática de autocuidado e autoconhecimento, pessoal e íntima. Não é sobre posições complicadas e contorcionismos, é sobre posições funcionais e necessárias para cada corpo e suas particularidades. É sobre construir hoje o corpo e o estado mental que você quer ter para viver bem aos 80 anos. É sobre atingir um estado crônico de presença”.
A transição para a agricultura durante o período Neolítico foi sem dúvidas uma das mudanças de estilo de vida mais drásticas na história humana. Mudanças na dieta, condições de vida e as atividades de subsistência tiveram um enorme impacto na saúde humana, embora os efeitos variaram de região para região.
Durante muito tempo o yoga permaneceu restrito à algumas culturas, principalmente àquelas orientais. As técnicas eram passadas de geração em geração de instrutores, que ensinavam aos seus discípulos os conhecimentos mais profundos.
“Enquanto isso, no ocidente a ciência ainda não havia realizado avanços que permitissem o reconhecimento de tais práticas e com isso milhares de anos se passaram sem que a cultura ocidental tivesse acesso aos benefícios que a prática do yoga pode oferecer a cada indivíduo”, destaca o professor Kaiut.
Agora, em pleno século XXI, é possível confirmar que as “pesquisas científicas já conseguem reconhecer a conexão entre a energia e a matéria”, reforça o professor. Além disso, vale lembrar que ramos da física “passaram a olhar mais minuciosamente à maneira como yoga, meditação e técnicas de respiração, tem o poder de alterar a energia do corpo humano, produzindo transformações bastante benéficas, não somente para o praticante, e para o ambiente ao seu redor”, completa.
A palavra yoga tem sua origem no sânscrito, língua antiga da Índia e Nepal, e sua raiz é “yuj”, que significa “unir” ou “integrar”. Mas o real significado do yoga vai muito além do que apenas a tradução do termo do sânscrito para nossa língua, pois apresenta a ideia de união e reintegração do corpo com a mente, levando ao equilíbrio do ser, e também a forma através da qual se pode atingir o estado mais elevado da existência.
Não é por acaso que, conforme lembra o professor Francisco Kaiut quando se começa a praticar yoga, percebe-se que há um mundo de descobertas por trás dessa prática. “Fica evidente que o yoga vai muito além de movimentos corporais. E, ao buscar mais profundamente conhecer os fundamentos dessa filosofia, é possível encontrar grandes referências como B.K.S. Iyengar e Patanjali, o último é responsável por reunir todo esses ensinamentos no ‘Yoga sutras’, possibilitando que o yoga fosse entendido de uma forma muito mais ampla e, portanto, também mais transformadora”.
No Método Kaiut Yoga, vale lembrar que são usadas as nomenclaturas professor e professora. A razão disso, ele explica: “Professor vem do latim “professus”, significando “aquele que declarou em público”. O termo está ligado também ao verbo professar, do latim “profitare”, que diz respeito a compartilhar uma informação perante a um grupo.
Dessa forma, enxergamos o professor como alguém que compartilha conhecimentos, constrói saberes junto aos seus alunos. É assim que enxergamos nossos professores: como profissionais capazes de compartilhar conhecimento com riqueza, profundidade e evolução.
Ao passo que um instrutor meramente dá instruções, repete fórmulas, não detendo, necessariamente, o conhecimento completo que precisa ser compartilhado”.
O professor lembra que “a prática do Yoga nasce entre a Revolução Agrícola e o surgimento dos Vedas, entre 5 e 10 mil anos atrás. Acredita-se que em sua origem, tratava-se de uma prática tribal, destituída de religiosidade e doutrinas. Ao longo do tempo, o yoga foi sendo transformado e sua história se mistura com a história do hinduísmo, visto que os registros primordiais remontam ao período védico da civilização indiana”.
Uma das obras mais referenciadas do yoga são os Sutras organizados por Patañjali. Neles, são apresentados os 8 passos do yoga: Yama, Niyama, Asana, Pranayama, Pratyahara, Dharana, Dhyana e Samadhi. Eles se definem como:
São valores éticos que se adotados na rotina diária, possibilitam chegar a um estado de consciência virtuoso e evoluir no caminho do yoga. Dentre os yamas estão por exemplo a conduta de não violência, de manter um compromisso com a verdade na sua ação, com a ética, a importância de ter compaixão, etc.
Deve-se entender como orientação daquilo que se deve cultivar na relação com o mundo exterior e se expressa através da purificação e do estudo, como por exemplo manter o contentamento, buscar se conhecer e também a busca da entrega total.
Para quem não sabe, este é o passo do yoga mais conhecido no ocidente, pois envolve as posturas do corpo. Mas os asanas, permitem que o indivíduo atinja um estado de contemplação, e, portanto, mostra que eles não têm efeito apenas na parte física, eles também atuam trazendo benefícios para a mente e a energia diária.
É a famosa chave para conectar corpo e mente. Os pranayamas são conhecidos como técnicas de respiração que elevam os níveis de energia vital (prana), reduzindo a atividade mental, trazendo calma e relaxamento profundo.
Está relacionada ao controle dos sentidos. Os sentidos estão constantemente conectados ao mundo exterior, no estágio de Pratyahara, o praticante de yoga traz a sua consciência para o seu mundo interior.
Este é definido como o estado de concentração mental, onde o praticante atinge um estado meditativo trazendo sua atenção para um único ponto.
Nesse estado de meditação, o praticante possui consciência do seu ato de contemplação e do objeto de meditação e consegue manter sua mente por algum tempo no seu objeto de contemplação.
Este é o estado mais profundo de meditação, na qual o praticante se torna o próprio objeto de contemplação. É o estado mais elevado de um yogui, que é o nome que se dá ao praticante do yoga.
“Muito do que está nos Sutras e em outras obras clássicas do yoga estão intrinsecamente conectadas a religiões, doutrinas e costumes orientais. Esses escritos têm, obviamente, um grande valor histórico e afetivo no universo do yoga, servindo de base para muitas vertentes”, explica o professor.
No Método Kaiut Yoga, entretanto, o foco da prática trilha um caminho próprio e independente. Francisco tem diversos questionamentos sobre os Sutras, escolhendo não os ter como guia da sua prática. Ele questiona, por exemplo, a questão da respiração (Pranayama). Acredita que quando uma prática de yoga foca muito cedo em uma respiração diferenciada, acaba interferindo negativamente no processo por conta do nosso estilo de vida moderno e da subutilização da nossa caixa torácica, diafragma e músculos. Questiona também a separação entre meditação (Samadhi) e o uso do corpo (Asana), pois enxerga tudo como uma coisa só, não como se um nos preparasse para o outro.
Nunca desrespeitando ou negando o valor histórico dos textos clássicos, o Método Kaiut leva em consideração tudo que aprendemos nos últimos séculos em neurociência e física quântica para repensar o yoga e criar uma prática que funcione para o ser humano moderno.
No Método criado por Francisco, o resgate do yoga pré-védico, ou seja, pré-religiosidade, um yoga florestal e original, é o ponto de partida para uma prática consistente e com resultados reais.
Existem vários caminhos no yoga e todos eles direcionam ao mesmo objetivo, destaca Kaiut: “Atingir a união e integração do corpo com a mente, como dito anteriormente. Além disso, esses diferentes caminhos, se unificam para trazer os benefícios na forma mais completa que essa filosofia pode oferecer”. Os tipos de yoga são:
Esse é o tipo mais clássico de conjunto de asanas ou posturas físicas que o yoga apresenta. Seu propósito é purificar e preparar o corpo para atingir o estado de meditação.
Coloca o indivíduo a serviço de tudo e de todos que precisam, sem esperar nada em troca. É ser como a natureza, que oferece tudo que ela tem, e está sempre disponível para todos.
Estado de entrega e de devoção total, onde em um momento de amor puro e divino, se permite ver o aspecto divino em tudo e todos.
Este é o caminho do conhecimento e da sabedoria. É indagar sua própria natureza, é entender que na verdade não há nada que separe a pessoa do divino, e todos são também divinos.
É neste em que se conhece a realidade, harmonia total e controle da mente, pode-se dizer também que seria o estado de iluminação.
Segundo o professor Kaiut, “ao falarmos do yoga como é conhecido e praticado aqui no ocidente, identificamos uma ênfase na prática física dessa ciência, ou seja, na prática dos asanas. Vale lembrar que há várias linhagens e tipos diferentes de yoga que trabalham essas posturas também de formas variadas, mas que no fim, trazem os mesmos benefícios”. Dessa maneira, é possível identificar alguns tipos de yoga mais praticados em diversos países, e no Brasil, como:
É o tipo mais clássico de yoga. Sua prática combina exercícios de respiração e posturas com o corpo que auxiliam no condicionamento físico, ajudam a aumentar a flexibilidade do corpo e seu fortalecimento. É muito indicado para quem está começando a conhecer o yoga, e é o mais difundido no ocidente.
Combina sequências de yoga e respiração que são realizadas de forma mais acelerada. Nessa prática se ativa o fogo interno do corpo ajudando a purificar e desintoxicar o corpo.
São sequências de posturas que seguem um fluxo de movimentos que se combinam com a respiração. Este é um tipo de yoga mais dinâmico.
Foca no alinhamento do correto do corpo do aluno e utiliza o apoio de ferramentas como blocos, elásticos, cintos e cordas para que a prática possa ser adequada aos limites corporais de capa participante.
O yoga vem sendo praticado de muitas formas há milhares de anos. Entretanto, com o passar do tempo, as sociedades, as formas de interação social e, principalmente, os usos do corpo sofreram mudanças profundas. O corpo de hoje não tem, nem de perto, o mesmo uso do corpo dos nossos ancestrais. O conforto do mundo moderno acabou criando limitações e bloqueios, levando a subutilização do corpo a um nível altíssimo.
A reflexão sobre essas mudanças levou Francisco Kaiut a entender que a prática do yoga clássico precisava ser adaptada, para que fizesse sentido e tivesse resultados reais para o ser humano moderno. O ser humano que trabalha horas sentado, se locomove sobre rodas, tem móveis ergonômicos e muitas outras formas de subutilizar o corpo.
Movido também por suas próprias dores crônicas, Francisco, com seu conhecimento de quiropraxia, viajou o Brasil e o mundo pesquisando, lendo, estudando e praticando yoga de diferentes vertentes. Durante esse período, entendeu que desconsiderar a evolução social na prática de yoga estava removendo o princípio fundador da prática: o resgate de funções naturais do corpo. Posições clássicas feitas sem nenhuma função e a influência fortíssima do universo fitness do mundo ocidental acabaram fazendo do yoga uma prática afastada da sua origem, sem o potencial de cura e restauração.
Assim surgiu o Método Kaiut Yoga, há quase 30 anos. Uma prática de yoga diferente das outras, justamente por considerar a evolução social e as mudanças do uso do corpo do ser humano moderno, adaptando as posições para buscar resultados reais e promover uma vida melhor. Sua prática consistente proporciona resgate de mobilidade, diminui e remove os efeitos da ansiedade e promove a longevidade.
Segundo Francisco Kaiut, a resposta para esta pergunta é muito simples: “começar”, diz. “Os estágios de yoga já fazem parte da vida de cada pessoa desde que elas nascem, por isso é preciso se reconectar com esse caminho. Veja os bebês e crianças, por exemplo. O tempo todo eles fazem posturas de yoga e eles vivem plenamente muitos dos princípios e bases dessa filosofia milenar, sem qualquer esforço”, completa Kaiut.
“Então para começar é ter em mente que yoga precisa ser sem esforço. Algo leve, que permite que a pessoa conheça melhor seu corpo, entenda e aceite ou mesmo supere seus limites, e acima de tudo, que cada um descubra um novo mundo de possibilidades na sua vida e na sua relação consigo mesmo. O yoga é para todos!”, celebra o professor.
Diante das evidências aqui citadas, Kaiut lembra que “o yoga pode oferecer melhora da parte física do corpo, mas também vai além, pois permite que se descubra um universo de conhecimento dentro de cada pessoa”.
O yoga traz benefícios para saúde física e mental, logo, professor destaca algumas delas:
- Flexibilidade e fortalece o corpo;
- Calma e foco para a mente;
- Harmoniza as emoções através da respiração;
- Reduz a frequência cardíaca e a pressão arterial;
- Auxilia no tratamento da depressão;
- Diminui a produção de cortisol, o hormônio responsável pelo estresse;
- Diminui ansiedade;
- Melhora a qualidade do sono;
Com isso, “o yoga tem um poder incrível de transformar a vida. Contudo, é importante lembrar que esses benefícios vêm com a prática regular. Um pouquinho que seja a cada dia, e em pouco tempo já se pode sentir os benefícios”, finaliza Kaiut.
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