Trevor Rees-Jones, guarda-costas único sobrevivente do acidente de Lady Di - Parfjonov e Getty Images
Lady Di

Trevor Rees-Jones: Quem é o único sobrevivente do acidente que vitimou a princesa Diana

Diana, Dodi Al-Fayed e o motorista Henri Paul faleceram em um trágico acidente; mas o que aconteceu com o único sobrevivente?

Fabio Previdelli Publicado em 09/11/2023, às 17h45 - Atualizado em 28/12/2023, às 00h00

A segunda parte da sexta e última temporada de The Crown já estreou na Netflix nas últimas semanas. A trama, que acompanha a família real britânica ao longo das últimas décadas, mostra os eventos ocorridos entre 1997 e 2005 — ou seja, isso inclui o trágico acidente de carro que vitimou a princesa Diana, há 26 anos.

Naquele fatídico 31 de agosto de 1997, além de Diana, seu namorado, o empresário Dodi Al-Fayed; e o motorista Henri Paul também foram vítimas fatais da colisão da Mercedes S280. O único sobrevivente foi o guarda-costas Trevor Rees-Jones. Mas o que aconteceu com ele?

A fatalidade

Uma das últimas imagens de Lady Di com vida foi feita quando a princesa do povo deixava o Hotel Ritz em uma Mercedes S280. O registro feito por fotógrafos mostram apenas um borrão do famoso cabelo loiro de Diana.

A foto ainda dá conta do motorista Henri Paul com os olhos arregalados. Enquanto Lady Di está com Dodi no banco de trás, Paul segue na companhia do ex-soldado Trevor Rees-Jones na dianteira. Trevor parece meio preocupado sobre o que estaria por vir. No entanto, ele jamais poderia imaginar a tragédia que enfrentaria.

Menos de cinco minutos depois do registro, a Mercedes S280 que estava em alta velocidade — a mais de 100 quilômetros por hora —, colidiu contra um Fiat Uno Branco antes de bater no 13º pilar do túnel sob a Pont d'Alma, perto do Rio Sena.

O motorista e Dodi faleceram ainda no local. Diana foi resgatada com vida, mas os cuidados do hospital não foram suficientes. Apenas Rees sobreviveu, mas ele jamais conseguiu terminar nesse fatídico episódio; convivendo com a dor, o divórcio e perseguido por inúmeras teorias conspiratórias. Mas o que ele lembra?

+ Acidente ou assassinato? As teorias sobre a morte da Princesa Diana

O guarda-costas

Conforme recorda o The New Zealand Herald, Rees-Jones se alistou no 1º Batalhão do Regimento de Pára-quedistas, onde cumpriu um período na Irlanda do Norte. Após deixar as forças armadas, em 1995, ele passou a trabalhar para o bilionário egípcio Mohammed Al-Fayed, pai de Dodi, que era dono de um vasto império que incluía a loja de departamentos Harrods, o Hotel Ritz em Paris e o Fulham Football Club.

Dois anos depois, Trevor fez parte da equipe de segurança que protegeu Diana e Dodi durante suas férias no sul da França. Entre julho e agosto daquele ano, o casal havia se tornado ainda mais alvo dos paparazzis.

Em 30 de agosto, os dois voltaram de suas terceiras férias juntos, depois de um cruzeiro pela Sardenha. À tarde, voaram até Paris, onde passaram, inicialmente, pelo Ritz antes de irem para o luxuoso apartamento de Dodi, perto dos Champs-Elysées. Mais tarde, eles voltaram para o Ritz — acompanhados dos guarda-costas Rees-Jones e Kez Wingfield.

Àquela altura, Dodi já estava estressado com os fotógrafos que os perseguiram pela capital parisiense. Assim, Henri Paul, que era vice-chefe de segurança do Hotel Ritz bolou um plano: dois carros sairiam pela frente do hotel, servindo como iscas. Enquanto isso, ele próprio conduziria Diana e Dodi pelos fundos.

Henri Paul flagrado em câmeras de segurança/ Crédito: Reprodução/Video

 

De acordo com o inquérito oficial britânico que apurou a morte de Diana, Rees-Jones logo se mostrou preocupado com a estratégia. "Não fiquei feliz porque isso significava que Dodi dividiria os agentes de segurança, mas concordei", alegou.

Avisei a Dodi que poderíamos sair pela frente do hotel em dois veículos, pois a multidão e a imprensa seriam empurradas para o outro lado da rua em frente ao hotel. Inicialmente, me disseram que Dodi e Diana viajariam sem segurança e eu disse que isso não aconteceria, que viajaria no veículo com eles", explicou.

O sobrevivente

Menos de cinco minutos após deixarem o Hotel Ritz, o acidente aconteceu. Trevor foi o único sobrevivente. Ele sofreu graves traumas cerebrais e torácicos; além de ficar 10 dias em coma e ter todos os ossos de seu rosto quebrado.

Para reconstruir sua face, os médicos cirurgiões tiveram que usar 150 peças de titânio e se basear em fotos antigas de Trevor. A parte de trás de seu crânio foi usada para refazer as maçãs de seu rosto.

Em 2000, o cirurgião Luc Chikhani deu uma entrevista à televisão e afirmou que nunca tinha visto alguém ainda vivo após quebrar tantos ossos como o guarda-costas. "O rosto foi completamente esmagado, com muitas fraturas diferentes — foi incrivelmente esmagado".

O rosto estava completamente achatado. Tivemos que reconstruí-lo completamente. Os olhos estavam separados, o nariz estava quebrado e a mandíbula quebrada", apontou.

À época, a mãe de Trevor, Gil, também explicou como o filho ficou após o acidente: "Seu rosto parecia ter sido atingido por uma frigideira em um desenho animado de Tom e Jerry — esmagado para trás e achatado."

O guarda-costas Trevor Rees-Jones/ Crédito: Getty Images

 

Trevor Rees-Jones, que era o passageiro do banco dianteiro, passou um mês no hospital e, inicialmente, não conseguia falar. Posteriormente, ele passou por diversos interrogatórios, mas afirmou que sua última lembrança era de ter entrado na Mercedes que o esperava em frente ao Hotel Ritz. Acredita-se que ele foi o único que usava cinto de segurança no momento da tragédia.

O pós-trauma

No ano seguinte ao episódio, Trevor Rees-Jones deixou de trabalhar com Mohammed Al-Fayed — que acreditava que o serviço secreto britânico estava por trás do acidente fatal. O pai de Dodi acreditava que o guarda-costas estava envolvido em uma conspiração.

Conforme recorda o Telegraph, Al-Fayed chegou a alegar: "você me traiu"; Mohammed também culpou Rees-Jones por sua "deslealdade". Trevor apontou, posteriormente, que o empresário passou a pressioná-lo "intensamente" para relembrar o que aconteceu naquela noite de 31 de agosto.

Após a demissão, Trevor voltou para Shropshire, na Inglaterra, onde passou a ser cuidado por sua mãe, que era enfermeira, e seu padrasto. Por lá, ele ainda conseguiu um emprego em uma loja de esportes.

No ano de 2000, ele publicou seu livro de memórias: The Bodyguard's Story: Diana, the Crash, and the Sole Survivor. Naquele mesmo ano, recorda o Daily Mail, concedeu entrevistas falando da sua perda de memória do dia do acidente: "Eu queria saber o que aconteceu".

Trevor também falou sobre algumas teorias da conspiração de que ele estaria encobrindo um plano do serviço de segurança do Reino Unido para matar Diana: "Sou a única pessoa que pode contar às pessoas de verdade e não consigo me lembrar".

Será tão fácil se eu me lembrar. Posso contar às pessoas e toda essa merda vai acabar", finalizou. No entanto, isso nunca aconteceu.

Com sua obra, o ex-guarda-costas de Diana e Dodi conseguiu um adiantamento de 1,8 milhão de dólares. Mas o The New Zealand Herald aponta que grande parte do valor foi usado para arcar com honorários advocatícios decorrentes de ações judiciais envolvendo Al-Fayed no Reino Unido e na França.

Nova fase, velho fantasma

Seis anos após o acidente, Trevor Rees-Jones se casou com Ann Scott, sua segunda esposa — ele havia se divorciado do primeiro casamento meses antes da tragédia. Com a professora, ele teve a pequena Nia em 2006.

Já na vida profissional, o ex-guarda-costas de Diana e Dodi passou a trabalhar como consultor de segurança. No ano 2000, ele chegou a trabalhar com as Nações Unidas no Timor-Leste; mais tarde, em 2008, atuou no Iraque devastado pela guerra, onde ajudou a proteger trabalhadores estrangeiros.

Naquele mesmo ano, foi realizado um inquérito para investigar a morte de Lady Di. Em sua versão dos fatos, Trevor relatou o pouco que se lembrava daquela noite: "Lembro-me de ter parado num semáforo e de ver uma moto do lado direito do carro. Não tenho certeza sobre os outros veículos, mas consigo me lembrar dessa motocicleta com muita clareza".

Minha memória então é de total confusão. Não me lembro da dor, mas na minha cabeça havia muita confusão", aponta.

"Lembro-me de ter ouvido alguém gemer e o nome Dodi ser pronunciado, mas não sei quem o disse. Por outro lado, se não havia mais ninguém além de nós, concluo que era a princesa Diana. Como disse, era uma voz feminina."

Apesar de seu depoimento, ele deixou certas dúvidas sobre a veracidade de suas lembranças: "Essas memórias são vagas e eu mesmo duvido delas, mas estou mencionando-as porque essas memórias estão voltando para mim repetidamente."

Outra testemunha do inquérito foi o outro guarda-costas, Kez Wingfield. Ele alegou que a equipe de segurança havia viajado com Dodi e Diana por mais de uma semana e estava ciente da perseguição dos fotógrafos. Wingfield ainda relatou as dificuldades que enfrentou com Trevor durante o cruzeiro, quando tiveram que trabalhar em turnos de 18 horas para proteger o casal.

Memorial para Diana e Dodi Fayed/ Crédito: Bobak Ha'Eri via Wikimedia Commons

 

Questionado sobre a embriaguez de Henri Paul, ele comentou: "Não havia nada no comportamento de Henri Paul que indicasse que ele estava bebendo, e Henri Paul não era meu foco de atenção. Meu foco era colocar um goela abaixo o mais rápido possível e voltar ao trabalho."

Durante seu depoimento, Wingfield disse ao advogado de Fayed, Michael Mansfield, que havia solicitado que Mohammed contratasse mais seguranças: "Se tivessem permitido realizar nosso trabalho adequadamente, não estaríamos tendo esta conversa agora".

Em 2016, o ex-guarda-costas de Diana, Ken Wharfe, afirmou que sua equipe de segurança nunca teria deixado a realeza entrar no Mercedes naquela noite e culpou os guarda-costas pela morte dela. "Ainda estou muito irritado por esta equipe de 'guarda-costas' tê-la deixado sofrer. Nosso departamento cuidou de sua segurança pessoal por cerca de 15 anos", disse ao Daily Mail.

Rees-Jones era um ex-soldado que não recebeu o treinamento necessário para proteger um membro da família real… O principal papel de um oficial de proteção é usar a inteligência, os seus contatos e os seus instintos para manter o seu protegido fora de perigo, evitando o confronto", prosseguiu.

"Um exemplo disso é a falta de compreensão de Rees-Jones em relação aos paparazzi. Ele parecia pensar em termos de seus dias no exército, descrevendo a imprensa como 'o inimigo' e referindo-se aos fotógrafos como se eles fossem 'atiradores de elite' com suas lentes longas como canos de rifle", completou.

 

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