Embora Cleópatra tenha sido uma das figuras mais notáveis de seu tempo, o destino de seus restos mortais e sua tumba são um mistério milenar
Éric Moreira Publicado em 12/08/2024, às 19h00
Ao longo da História, poucos conseguiram se destacar tanto quanto Cleópatra VII Filopátor, a última governante ativa do Reino Ptolomaico do Egito.
Parte da dinastia ptolomaica, Cleópatra era descendente de Ptolomeu I Sóter, um general greco-macedônio e companheiro de Alexandre, o Grande, um dos maiores conquistadores do Mundo Antigo.
A rainha também é lembrada como uma figura política de influência, e ainda como personagem de uma grande intriga envolvendo o Império Romano, ao se relacionar, em diferentes momentos, com Júlio César e Marco Antônio.
"Quanto ao relacionamento com Júlio César, ela teve um filho com ele, então obviamente aconteceu, foi real. E quem sabe? Não se pode voltar a todos esses milhares de anos e dizer se eles estavam apaixonados, ou se foi algo meramente político", disse Fracine Prose, autora de "Cleópatra: Seu mito, sua história" ao site Aventuras na História. "As consequências foram que Roma não invadiu o Egito, durante o período em que Júlio César permaneceu no poder. Então, realmente, seja o que for, ou tenha sido o relacionamento que for, ela conseguiu preservar a integridade de seu país perante Roma".
Durante a Batalha de Áccio, e vendo que sua derrota era iminente, Cleópatra decidiu por cometer suicídio em 30 a.C., após ser capturada pelo imperador romano Otaviano Augusto.
Ao descobrir a notícia, seu então companheiro, Marco Antônio, também optou pela morte; e segundo escritores antigos, os dois foram enterrados em um mausoléu.
No entanto, ao contrário de outras figuras históricas de destaque, o caso de Cleópatra intriga estudiosos de Egito Antigo há mais de 2 mil anos. Afinal, seu sepultamento e restos mortais nunca foram encontrados.
Quando discutismos sepulturas perdidas, é impossível deixar o nome de Alexandre, o Grande, de lado. Foi registrado que, após sua morte, o corpo passou por alguns lugares até que, finalmente, chegou em Alexandria. No entanto, a tumba dele ou de qualquer um dos governantes ptolomaicos nunca foi encontrada.
"A questão é que não sabemos onde o próprio Alexandre ou qualquer um dos 15 governantes ptolomaicos do Egito foram enterrados", disse Susan Walker, do Ashmolean Museum da Universidade de Oxford, ao Live Science.
Walker e outros arqueólogos e historiadores acreditam que a rainha do Egito foi enterrada em Alexandria. Infelizmente, em alguma parte que hoje está soterrada pelas estruturas modernas, ou até mesmo submersa.
"Seria extraordinário se ela [a tumba] pudesse ter sobrevivido aos milênios de mudança cultural e ruína natural", afirma o professor Robert Gurval, que leciona Estudos Clássicos na Universidade da Califórnia em Los Angeles. "Mesmo se intocada por mãos humanas, terremotos e água do mar a teriam enterrado ou submergido. Seu palácio certamente está debaixo d'água. Talvez seu mausoléu também".
Por outro lado, existem arqueólogos que realizam buscas para tentar comprovar, que a tumba de Cleópatra, na verdade, estaria em outro local, a cerca de 50 quilômetros a oeste de Alexandria: Taposiris Magna. No local, foram encontrados restos datados da época de Cleópatra, incluindo um tesouro de moedas cunhadas em seu reinado.
Além disso, conforme a Live Science, outro detalhe que leva a essa crença é que Taposiris Magna é uma cidade fundada pelo Faraó Ptolomeu II Filadelfo entre 280 e 270 a.C., cujo nome significa "grande tumba de Osíris", e Cleópatra se identificava especialmente com a deusa Ísis, irmã e esposa de Osíris.
Anteriormente, Taposiris Magna revelou um templo de Ísis do período ptolomaico, dentro do templo maior de Osíris. "Adicione a isso um tesouro de moedas com o retrato de Cleópatra nelas, e outros achados do período greco-romano — não menos importante, fragmentos de estátuas e múmias — e certamente podemos dizer que Taposiris Magna estava ativa durante o reinado de Cleópatra", afirmou Glenn Godenho, professor sênior de egiptologia na Universidade de Liverpool, ao Live Science.
A indagação sobre a possibilidade de Taposiris Magna ser o local de sepultamento de Cleópatra não é recente, e a área é escavada por arqueólogos com esse objetivo há anos. Por isso, grande parte da comunidade arqueológica acredita que aquele não seja o local de sepultamento da rainha egípcia.
Em vez disso, inclusive, o que parece é que o local serviu como sepultamento mais de figuras religiosas que de membros da realeza. "Meu entendimento é que as múmias encontradas lá são mais propensas a serem de padres de alto status do que de membros da família real", opina Susan Walker.
Além disso, o simples fato de registros de textos históricos pontuarem que o mausoléu de Cleópatra está em Alexandria já seria razão para duvidar desta hipótese, visto que a cidade fica a 50 quilômetros de Taposiris Magna.
Por outro lado, vale mencionar que, mesmo que seja improvável a descoberta de Cleópatra em Taposiris Magna, o local não deixa de apresentar grande importância arqueológica.
"Vale a pena ressaltar que há muito mais neste lugar além de Cleópatra — o trabalho arqueológico aqui está definido para nos ajudar a entender mais sobre seu papel no comércio entre os mundos mediterrâneo e africano, atividade religiosa e crenças sobre a vida após a morte, estruturas sociais e população. […] Há também a questão de quão longe no tempo o uso deste lugar remonta. Cleópatra é apenas um segmento de negócios, e não devemos tirar os olhos do quadro geral", conclui Godenho.
Em "Rainha Cleópatra", série documental da Netflix, a professora de estudos africanos da Universidade de Hamilton, em Nova York, Shelley P. Haley, disse acreditar em outra teoria: Cleópatra teria sido cremada.
A missão de arqueólogos de investigar e achar a tumba de Cleópatra, é fútil. Otaviano não ia permitir uma tumba com os restos da Cleópatra e Marco Antônio. Isso se tornaria um ponto central de rebelião, e não era comum que os romanos mumificassem corpos. Eles não mumificavam, eles cremavam”.
A presidente da Sociedade de Estudos Clássicos enfatiza: “Eu acho que Cleópatra e Marco Antônio foram cremados”.
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