Em 1878, o arqueólogo sueco Hjalmar Stolpe, na Suécia, se deparou com um sepultamento de uma importante figura que, curiosamente, era uma mulher; confira!
Éric Moreira Publicado em 22/07/2024, às 19h51
Em 1878, o arqueólogo sueco Hjalmar Stolpe descobriu, no assentamento viking de Birka, — que floresceu entre 750 e 950 d.C. onde hoje é o centro-leste da Suécia — um enterro que, logo de cara, chamou atenção.
Vale mencionar que Birka já era cercado por vários cemitérios, onde eram encontrados restos humanos e antigos artefatos vikings; mas um em particular certamente era especial.
Aninhado em uma câmara subterrânea de madeira, ele encontrou um corpo vestido elegantemente, com roupas de estilo estepe eurasiano. Havia também os restos mortais de uma égua e um garanhão, com as pernas cruzadas e dobradas entre si, em uma extremidade da câmara.
Além disso, a descoberta revelou uma série de armas cercando o corpo. Entre os artefatos, uma espada, um machado, uma faca de combate, duas lanças, dois escudos, uma aljava com 25 flechas e uma faca de ferro.
Outro detalhe é que o sepultamento estava na área mais ocidental de Birka, e foi marcado originalmente com uma grande pedra, sendo assim visível em qualquer lugar do assentamento. Logo, Stolpe presumiu que o túmulo pertencia a um guerreiro de grande prestígio e importância na região.
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Em 2017, essa sepultura viking da Suécia chamou grande atenção nas manchetes do mundo da arqueologia, depois que pesquisadores suecos anunciaram, após análises minuciosas do esqueleto, que aquele prestigioso guerreiro viking era, na verdade, uma mulher. Logo, uma série de outras dúvidas começaram a surgir.
Afinal, algo que já era constatado sobre o enterro há bastante tempo, é que não havia ossos de apenas um indivíduo.
Desde então, esse sepultamento, em especial, tornou-se um objeto de estudo de grande interesse da comunidade arqueológica, especialmente aos interessados em descobrir mais sobre os antigos vikings. O estudo foi publicado na American Journal of Physical Anthropology, e foi desenvolvido por uma equipe da Universidade de Uppsala, na Suécia, liderada pela arqueóloga Charlotte Hedenstierna-Jonson.
Um fator que sempre levantou dúvidas era a descrição de restos mortais de dois indivíduos na sepultura, e, se isso não teria causado confusão na identificação do sexo daquele indivíduo. Porém, os cientistas têm certeza sobre o que afirmam.
Foi identificada a descoberta do esqueleto praticamente intacto de uma mulher; do outro indivíduo, entretanto, havia apenas um fêmur (osso da coxa). Porém, um estudo de 1980 confirmou que aquele terceiro fêmur pertencia a outra sepultura. Além disso, era cerca de um século mais antigo que os retos daquela mulher.
Por fim, para sanar qualquer dúvida remanescente, com o avanço das técnicas de análise de DNA, foi apontado que os ossos carregavam cromossomos XX, portanto, uma mulher.
Além disso, eram finos, esbeltos, e o quadril demonstrava ser de um indivíduo biologicamente feminino, sendo mais largo. Ela teria falecido com uma idade entre 30 e 40 anos, segundo estudo publicado em 2019 na Antiquity.
Outra dúvida que surgiu foi: afinal, eram esses os restos de uma antiga guerreira? Porém, o que os pesquisadores observam como um problema é justamente o questionamento surgir apenas após o falecido ser revelado como uma mulher.
Primeiro, vale ressaltar que não existem indícios importantes, como ferimento nos ossos, algo comum em outros guerreiros que enfrentam grandes batalhas. Porém, ela foi encontrada em uma área que "reforça uma interpretação guerreira [...], fora do portão do forte da colina de Birka e adjacente a dois outros sepultamentos contendo inúmeras armas", segundo os pesquisadores no estudo.
Além disso, as armas enterradas com a mulher eram perfeitamente funcionais, o que reforça a condição de que ela seria uma guerreira.
Porém, os pesquisadores destacam que não há como saber com precisão se esses artefatos realmente pertenceram a ela em vida, ou se serviram como oferendas funerárias, ou mesmo se poderiam servir apenas como símbolos de status; o que também abre portas para a possibilidade da mulher ter vivido simbolicamente como guerreira.
Na opinião dos pesquisadores, qualquer outra teoria é menos provável que a possibilidade de aquela mulher ter realmente vivido como uma guerreira profissional, e enterrada como figura de importância e destaque naquele grupo.
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Outra dúvida levantada em estudos mais recentes é de que, mesmo que aquela pessoa fosse biologicamente, será que ela realmente se identificava como tal, ou se identificava com outro gênero? Bem, isso segue como mistério para os pesquisadores, segundo o Live Science.
Porém, a teoria de que a mulher seja transgênero pode ser problemática, pois isso ainda é um 'termo moderno', segundo o estudo. Portanto, seria complicado tentar aplicá-lo, dentro das nossas interpretações, a povos antigos e de diferentes culturas.
"Embora entendamos essa linha de pensamento no contexto dos debates sociais contemporâneos, deve-se lembrar que este é um termo moderno, politizado, intelectual e ocidental e, como tal, é problemático (alguns diriam impossível) de aplicar a pessoas do passado mais remoto. Tudo isso também é inevitavelmente especulativo, considerando as limitações do material arqueológico. Existem muitas outras possibilidades em um amplo espectro de gênero, algumas talvez desconhecidas para nós, mas familiares às pessoas da época. Não descartamos nenhuma delas", explica o estudo.
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