O que um país faz quando localiza um submarino naufragado pertencente à sua nação rival?
Ingredi Brunato, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 03/02/2021, às 16h36 - Atualizado às 22h34
A disputa intensa ocorrida após a Segunda Guerra Mundial entre a potência representante do comunismo, a União Soviética, e a potência representante do capitalismo, os Estados Unidos, gerou muitos episódios curiosos. Tendo esse fato em vista, o Projeto Azorian foi apenas mais um dos estranhos rebentos gerados pela Guerra Fria.
O projeto consistiu em uma operação secreta da CIA (a agência de inteligência norte-americana) para remover um submarino soviético afundado.
De acordo com os relatórios do órgão estadunidense, que liberou as informações do Azorian para o público em 2010, "Nenhum país do mundo conseguiu levantar um objeto deste tamanho e peso de tal profundidade”.
Atualmente, é possível saber mais sobre a história através de uma visita ao Museu Internacional da Espionagem, que fica na cidade de Washington e foi inaugurado no ano de 2019.
O projeto
A Smithsonian relata que tudo começou em 1968, quando a URSS perdeu um de seus submarinos, o K-129, nas águas do Oceano Pacífico. O país fez diversas buscas para recuperar o equipamento naufragado, todavia, depois de dois meses acabou engavetando os esforços.
Foi então que os Estados Unidos entraram em cena. Na época, não era incomum que houvesse submersíveis norte-americanos e russos carregados com armas nucleares zanzando pelo mar.
Tudo fazia parte do clima bélico do período. Hoje sabemos que não ocorreu um conflito direto entre as duas nações, contudo, isso não era tão claro para as pessoas que viviam durante a Guerra Fria. Para elas, a ameaça do estouro de uma nova guerra era constante.
Assim, quando o K-129 naufragou por motivos até hoje não esclarecidos (sendo possivelmente fruto de um simples mau-funcionamento), o exército norte-americano também já havia perdido dois de seus submarinos, e utilizado uma tecnologia desenvolvida por sua Força Aérea para recuperá-los.
Os estadunidenses aplicaram então essas mesmas técnicas para procurar o K-19, e acabaram tendo sucesso. Eles descobriram o submarino soviético a 2.400 quilômetros do Havaí.
Elefante branco
“Não consigo imaginar que existe outro país no mundo que teria pensado: 'Encontramos um submarino da União Soviética sob [mais de cinco quilômetros] de água. Vamos roubá-lo’”, comentou Vince Houghton, curador do Museu Internacional da Espionagem, em entrevista à Smithsonian Magazine em 2019.
O Projeto Azorian demorou 6 anos para ser realizado com sucesso, e exigiu um navio que foi construído especialmente para realizar a recuperação do submersível russo sem levantar suspeitas, içando-o do fundo do oceano e escondendo-o em um compartimento no casco da embarcação. Quando os planos iniciais da operação foram traçados, foi estimado, inclusive, que havia somente 10% de chance de sucesso.
Apesar disso, os Estados Unidos estavam dispostos a tentar. Isso porque colocar as mãos na tecnologia naval inimiga os permitiria ter um maior conhecimento sobre a União Soviética, e, assim, possuir uma vantagem em potencial no caso de um combate.
A parte final da operação contou ainda com um elemento final improvável: um bilionário recluso chamado Howard Hughes. A versão oficial emitida foi que o navio que estava sendo lançado ao mar pertencia a Hughes, que era um magnata da aviação, e estaria começando a investir em pesquisa de mineração em alto-mar.
Esse seria o objetivo da embarcação - fazer pesquisa. O fato da imprensa estadunidense não poder chegar perto dela ou ter muito mais informações para divulgar devia-se, segundo foi suposto, à grande importância dada pelo bilionário para sua própria privacidade.
E assim que a CIA foi capaz de realizar com sucesso a missão quase impossível de remover um submarino inteiro do Oceano Pacífico sem levantar suspeitas.
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