A "Pedra do Destino", usada em coroações de reis desde o século 13, começando na Escócia - Divulgação/Historic Environment Scotland
Reino Unido

Pedra do Destino, que será usada na coroação de Charles III, já foi roubada

O crime ocorreu pouco antes da coroação de Elizabeth II e chamou atenção por plano audacioso

Wallacy Ferrari Publicado em 26/04/2023, às 16h48

Usada em coroações da família real britânica desde o século 13, a Pedra do Destino compõe a ritualística padrão do importante evento de transição monárquica. Hoje disposta na Escócia, após a Inglaterra devolvê-la no ano de 1996, ela não estará de fora da cerimônia que oficializará o rei Charles III no trono máximo da realeza.

Contudo, a integridade do item já foi ameaçado, como relatou reportagem da BBC; no Natal do ano de 1950, um carro com estudantes universitários próximo da Abadia de Westminster chegou a ser parado por um policial ainda na madrugada para indagar o que faziam ali.

Afirmando estarem desorientados e a procura de um hotel, o agente os auxiliou e liberou a passagem. Entretanto, mal sabia que naquele veículo estava um pedaço da pedra, removida após um audacioso furto ocorrido momentos antes.

O processo foi trabalhoso para deslocar o bloco de 150 kg, composto de arenito vermelho. O motivo dos rapazes seria simbólico; eles eram escoceses e buscavam honrar a tomada do item tomado de seu país. Além do grupo que estava no carro, outro veículo com mais quatro estudantes auxiliou no plano.

Plano cuidadoso

Quando o local escureceu, integrantes arrombaram uma das portas do local, previamente estudado, e ao encontrarem o item, o colocaram sobre um casaco, de maneira que os braços servissem como alça para arrastar a pedra.

A ideia não funcionou tão bem; a pedra caiu e partiu em dois pedaços, mas o menor, de cerca de 40kg, poderia ser transportado com maior facilidade no colo de um dos ladrões. Dessa forma, foi armazenada no porta-malas, longe da vistoria policial.

No dia seguinte, ao notarem a falta do item, a polícia local trilhou um plano com base na abordagem policial, supondo que os escoceses parados pelo agente tinham relação com o crime.

O crime culminou em uma operação de trabalho conjunto com as forças da Scotland Yard e a polícia escocesa, mas não foi suficiente para apartar o desconforto diplomático, com a fronteira entre a Escócia e Inglaterra sendo fechada pela primeira vez em 400 anos.

Investigação do crime.

Devido ao fato que, naquele período, fazia inverno no hemisfério norte, o plano inicial de enterrar a pedra, até que a tensão diminuísse, acabou descartado, afinal, temia que as condições nebulosas deteriorassem o item.

Considerado o líder dos estudantes que participaram do crime, Ian Hamilton trocou a pedra de local por meses, alternando entre residências, acampamentos e sob as tábuas do assoalho de uma fábrica.

Ian Hamilton em entrevits no ano de 2019. Ele faleceu aos 97 anos em 2022 / Crédito: Divulgação / Vídeo / BBC Witness History

 

Contudo, uma investigação apontou seu nome para um curioso fato; meses antes do roubo, Ian havia solicitado quase todos os livros de uma biblioteca pública em Glasgow, cidade escocesa, que citavam a Pedra do Destino, apontando o interesse específico.

Temendo que a investigação se aproximasse dele, passou a pedra para a Scottish Covenant Association, uma organização política não partidária, que se comprometeu em devolvê-la sem revelar sua autoria.

Em negociação, a pedra foi abandonada nas ruínas da abadia de Arbroath, sendo 'resgatada' em 11 de abril de 1951, quase 4 meses longe de Londres. Dois anos depois, em 1953, já estava novamente tomando os holofotes ao fazer parte da coroação de Elizabeth II, a primeira televisionada.

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