Personagem que virou febre no Brasil foi interpretado por vários atores — e um deles se envolveu em muitas polêmicas
Fabio Previdelli Publicado em 02/05/2020, às 09h00
Em 15 de setembro de 1980, estreava na TVS a versão brasileira do palhaço Bozo. Apesar do grande sucesso do personagem em terras tupiniquins, poucos sabem sua verdadeira origem e como era de fato os bastidores do programa.
Ao contrário do que muitos pensam, a trajetória do bufão nasceu muito antes do sucesso televisivo. Em 1946, uma gravadora americana chamada Capitol lançou um disco com histórias infantis, o Bozo at the Circus, narrado pelo próprio personagem, ou melhor, pela pessoa que dublava o Pateta no cinema: o ator Pinto Colvig.
O álbum foi sucesso de vendas e, em 1949, Bozo ganhava um novo meio de difusão: a televisão — sendo um dos primeiros grandes programas da história do veículo. Já nos anos 1950, o interprete Larry Harmon resolveu levar o palhaço para outro patamar. Ele comprou os direitos autorais do personagem e o transformou em uma franquia, que logo se espalhou pelo mundo. Entre os mais de 40 países que chegou, Bozo fez grande sucesso no Brasil, no México, na Grécia, na Austrália a até na Tailândia.
Por aqui, o primeiro interprete do personagem foi o ator Wanderley Tribeck, conhecido como Wandeko Pipoca, que assumiu o papel desde a estreia até o ano de 1983. “Eu tinha o maior salário da televisão brasileira”, diz. Wandeko afirma ter deixado o cargo por vontade própria: “Os diretores do SBT queriam estragar o programa, fazendo o Bozo com corrida de cavalo, com batalha-naval… Isso é coisa para um palhaço decente fazer?”.
Depois de Wandeko, o Bozo ganhou outras caras, sendo Luís Ricardo e Arlindo Barreto as mais conhecidas entre elas. Luís foi efetivado com a saída de Tribeck, e com ele o programa começou com as famosas participações por telefone. Assim como a audiência, a duração do programa também crescia. Foi necessária a contratação de outros atores para dividirem a incrível jornada de 8 horas diárias de exibição — que eram divididos em dois turnos de 4 horas.
“Primeiro chamei o Arlindo Barreto, depois o Décio Roberto e o Marcos Pajé. Às vezes, nós cinco revezávamos ao longo do dia”, revelou Luís Ricardo, que ficou encarregado de selecionar outras pessoas para dividir a responsabilidade de apresentar a atração.
Entretanto, o ambiente dos bastidores estava longe de ser saudável. “Tinha muito desentendimento. Saiu até porrada, de quebrar o camarim e tudo”. Um dos principais focos dessas intrigas era a relação entre Luís e Arlindo.
Antes de Bozo, Barreto já era bem conhecido por suas atuações. Filho da atriz Márcia Windsor, foi galã de novela, dublador, domador de leões e participou de 15 pornochanchadas, como Palácio de Vênus (1980), A Noite das Taras (1981) e Me deixa de Quatro (1981).
A trajetória de Arlindo é tão polêmica e cheia de confusões, que suas histórias serviram de inspiração para o filme Bingo, o Rei das Manhãs, que estreou em 2017. A primeira delas aconteceu quando ele ainda era um candidato a interpretar o Bozo.
Na ocasião, Barreto já trabalhava no SBT (onde o programa passou a ser transmitido) quando viu uma fila de palhaços que fariam audições para a vaga. Entretanto, o produtor americano não gostava de nada que via e insultava, em inglês, todos os atores que se apresentavam.
Revoltado com a falta de educação do americano, na sua vez, Arlindo passou o teste inteiro xingando o estrangeiro em português, o que arrancou risadas de todos que estavam na sala. A tática deu certo e ele conseguiu a vaga, apesar de dizer que só estava lá para “sacanear o gringo”.
Já na pele do personagem, passava poucas e boas quando tinha que atender alguém no ar. Isso porque, sempre havia um engraçadinho que participava, por telefone, da atração só para ofender o palhaço. Em uma delas, um menino manda Barreto ir tomar naquele lugar. Improvisando para tentar evitar a sai justa, ele respondeu de forma debochada: "O quê? Tomate cru?”.
Mas a trajetória de Arlindo como o palhaço mais conhecido da televisão brasileira terminou de forma melancólica. Ele acabou afastado em 1987 em decorrência de seus problemas com a cocaína.
“De repente, eu não tinha mais nenhum desafio, era um grande sucesso, tinha dinheiro. As coisas ficaram repetitivas. Caí num vazio existencial enorme. Primeiro, tentei preencher isso com sexo. Tinha todas as mulheres que eu queria. Depois veio o álcool, que dava certa alegria, mas os efeitos colaterais eram devastadores. Aí eu conheci a cocaína.”, relatou em entrevista para a revista Putz, em 1999.
Em uma dessas ocasiões, ele consumiu a droga no camarim, antes da gravação do programa, e esqueceu de colocar o nariz de palhaço. Já no palco, seu nariz começou a pingar sangue. "Meu nariz começou a sangrar. Eu tinha que gravar os programas com um algodão no nariz", disse ao jornal Notícias Populares, em 1998.
Dias antes de ser dispensado, ao usar cocaína em casa, quebrou o box de seu banheiro com o braço e foi internado na UTI. Aquele teria sido seu limite. Anos depois, o responsável por criar o bordão “Dá uma bitoca no meu nariz”, virou pastor evangélico.
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