Fundador do czarismo russo, o homem sofria com impulsos agressivos que o levaram a fazer algo inimaginável
André Nogueira Publicado em 05/04/2020, às 09h00 - Atualizado em 08/08/2021, às 08h00
Ivan Grozny, o Terrível, foi o fundador do czarismo russo e um homem absurdamente excêntrico. Descrito como inteligente e agressivo ao mesmo tempo, tendo a vida marcada por violentas crises de raiva, ele ainda era um monarca piedoso. Hoje é sabido que Ivan tinha acessos esporádicos de raiva causados por um transtorno mental.
Em um dos mais trágicos momentos da vida de Ivan, em 1581, o monarca russo teve um surto tão intenso que resultou na morte de seu filho mais velho e herdeiro do trono, Ivan Ivanovich, o que levou a uma tristeza profunda do pai e criou a semente de uma crise do czarismo, que seria passado ao filho Teodoro, um jovem com deficiência mental.
Ivan Ivanovich era o filho mais velho do czar e tinha fama de ser extremamente cruel, o que manchava sua imagem pública. Mesmo sendo devoto à Igreja, o jovem assistiu e participou de massacres desde muito cedo, formando um caráter bastante violento.
Seu sadismo (a ponto de assistir a sessões de torturas de inimigos do czar por pura vontade) parecia não ornar com seu conhecimento, pois era um homem muito culto. Mas, isso é facilmente explicável: adquiriu as atitudes insólitas do pai.
As relações de Ivan com o filho favorito não estavam muito agradáveis desde o fim da Guerra da Livônia quando seu pai, diplomaticamente, assinou um tratado de paz que não agradou ao príncipe. Isso causou uma série de discussões, e Ivanovich chegou a comandar uma represália contra a coalizão inimiga em Pskov, enfurecendo o pai.
Era de conhecimento da sociedade os casos de violência na corte causados pelos transtornos do czar. Em um dos episódios, marcado por uma briga familiar, Ivan agrediu sua nora grávida, resultando no aborto.
Ao descobrir a agressão contra sua esposa, Ivanovich partiu para cima do pai, questionando o infeliz ocorrido. No entanto, o que era pra ser resolvido tornou-se uma briga sobre relações familiares que logo se converteu em apontamentos de falhas governamentais. Ivan retomou o caso de Pskov, acusando o filho de insubordinação. As indagações sobre política acaloraram cada vez mais a discussão.
A briga entre os dois desencadeou a raiva no czar que, com pouca consciência, bateu na cabeça do primogênito com um cetro pontiagudo que estava no salão. Boris Godunov, um nobre da corte, assistiu ao ocorrido e tentou intervir, mas também foi agredido. Desesperado, Ivan ajoelhou-se no chão, abraçou o filho desacordado, beijando-o e chorando, e tentou estancar o sangramento.
“Maldito seja eu! Matei meu próprio filho!”, gritava Ivan, aos prantos. Sua voz acordou o filho, que, no leito de morte, reconfortou o pai: “Morro como um devotado filho e humilde servo”. Durante quatro dias, de tudo foi feito para curar o garoto, enquanto o velho Ivan rezava por um milagre que não veio. Ivan Ivanovich morreu em 19 de novembro de 1581, resultando num remorso e uma amargura até o fim da vida do czar.
Esse caso é um dos mais famosos da memória política do czarismo russo, e foi eternizado pela pintura do realista e dissidente da Academia Imperial de São Petersburgo Ilya Repin conhecida como ‘Ivan, o Terrível, matando o próprio filho’. O olhar de Ivan no quadro traduz o verdadeiro sentimento: uma mistura de desespero, tristeza, luto e arrependimento.
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