Em entrevista, Carlos Reiss, Coordenador-Geral do Museu do Holocausto de Curitiba, fala sobre a importância da obra de Anne Frank
Fabio Previdelli Publicado em 31/01/2021, às 00h00 - Atualizado em 12/06/2024, às 13h31
Quando falamos em obras e registros históricos que remetem ao Holocausto, é praticamente impossível não citarmos O Diário de Anne Frank. Afinal, não é pra menos, o livro escrito pela jovem judia, lançado em 1947, é um dos mais vendidos do mundo: cerca de 30 milhões de cópias que foram adaptadas em 70 idiomas diferentes.
Para Carlos Reiss, Coordenador-Geral do Museu do Holocausto de Curitiba, em entrevista exclusiva ao site Aventuras na História, O Diário de Anne Frank não pode ser analisado apenas como um produto literário, ou seja, uma obra desprovida de contexto histórico.
“A riqueza do livro está tanto no perfil da autora quanto na possibilidade de nos identificarmos, de gerar empatia, de desenvolver a alteridade”.
Segundo estima a Enciclopédia do Holocausto, do United States Holocaust Memorial Museum (USHMM), cerca de 6 milhões de judeus foram mortos durante a Segunda Guerra. Mas o que torna o diário de Anne tão lembrado ainda hoje?
Segundo o Coordenador-Geral do Museu do Holocausto de Curitiba, os relatos de Frank explodiram no circuito literário mundial em um momento em que a memória do Holocausto ainda vivia uma fase difícil de massificação e pouca personificação.
“Era os anos 50, um momento em que era importante mostrar ao mundo a dimensão do que foi o Holocausto, o tamanho da tragédia, a extensão, a grandeza do extermínio — e isso inclui o número de vítimas”, explica.
Foi nessa época, inclusive, que o assustador número de 6 milhões de judeus mortos passou a ser conhecido e divulgado.
Foi quando os primeiros museus passaram a representar os horrores da Segunda Guerra por meio do choque de quantidade, mostrando as pilhas de roupas, sapatos, enfim, os mais diversos assessórios usados pelos judeus.
“Existe nesse fenômeno do Diário de Anne Frank um componente que era o talento e a forma com que ela escrevia. Um estilo que nos aproxima, que acaba gerando uma empatia incrível com qualquer jovem, em qualquer parte do mundo”, diz Carlos, que também credita ao pai de Anne, Otto, uma taxa pelo sucesso do livro da filha.
“Otto Frank teve importância ao buscar e costurar os acordos com as editoras, investir pesado, levar a obra para os Estados Unidos, se aproximar de figuras relevantes que escreveram prefácios, críticas, enfim... E o livro se tornou um best-seller", completa.
Naquele momento, o mundo — que estava acostumado a lidar com as vítimas do Holocausto como números — começou a passar por um longo, lento e difícil processo de personificá-las, o que dura até hoje. “O rosto da Anne Frank foi um dos primeiros a se sobressair”.
Para Reiss, O Diário de Anne Frank ainda é extremamente atual, oferecendo um relato genuíno e humano de uma menina que cresceu em meio a um contexto tão desumano e inimaginável para as futuras gerações.
Porém, mesmo assim, continuou escrevendo de maneira tão apaixonante, demonstrando quase que um talento natural para um de seus grandes sonhos: ser jornalista.
“Por isso é tão fácil se identificar com ela”, fala Carlos Reiss. “Os jovens que leem o diário reconhecem a voz dela, reconhecem seus pensamentos, seus desejos. O Diário é um espelho para a sociedade, para qualquer geração de jovens, de qualquer época, e é por isso que se transformou nesse fenômeno que é praticamente inesgotável — também no Brasil”, conclui.
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