Preservado em seu mausoléu na Rússia, o corpo quase intacto do revolucionário comunista continua gerando controvérsias no país mesmo após quase um século
Redação Publicado em 19/02/2022, às 08h00 - Atualizado em 20/05/2022, às 08h00
Vladimir Lenin, um dos mais importantes nomes do socialismo depois do próprio Karl Marx, morreu em 21 de janeiro de 1924, não sendo capaz de ver seus feitos a partir da ideologia marxista por tanto tempo na União Soviética.
Sofrendo três derrames em um período de dois anos, o revolucionário entrou em coma e morreu lentamente, acometido por uma arteriosclerose cerebral. Ele seria enterrado prontamente, já que havia afirmado em vida que não gostaria que seu corpo fosse preservado para a eternidade.
No entanto, os planos dos soviéticos acabaram mudando ao perceberem que Lenin poderia ser mantido quase que intacto por vários anos. Até hoje, o cadáver do comunista não parece ter mudado muita coisa desde que morreu há 98 anos.
Isso porque seu corpo é mantido em um mausoléu de madeira, erguido nas proximidades da Praça Vermelha, na Rússia, onde ele é conservado por especialistas que o mantêm embalsamado e com praticamente a mesma expressão plena de tanto tempo antes.
Informações exatas sobre como isso é feito não são divulgadas pelo governo russo, mas, o que se sabe de fato é que todo esse processo custa muito caro. Como reportou a Folha de S. Paulo em 2020, estima-se que cerca de 173 mil euros por ano, o equivalente a R$ 1,01 milhão, sejam destinados à manutenção da múmia de Lenin.
Desde que a União Soviética foi dissolvida, muitos criticam a preservação do corpo do teórico comunista, em especial pelos custos exorbitantes. Os questionamentos acerca do futuro do cadáver mumificado não vem de agora, mas parecem se aflorar cada vez mais.
A pandemia de covid-19 foi usada como pretexto para os críticos da manutenção da múmia de Lenin, que querem a todo custo se “livrar” dela. Não demorou muito para que uma proposta envolvendo a venda do corpo para pagar os custos da pandemia se tornasse pauta na Rússia.
Foi em junho de 2020 que a crise causada pelo novo coronavírus no país começou a ser vista como desculpa para seguir com uma ideia que persiste entre os conservadores russos. Nesse caso, o valor obtido com a venda do corpo serviria para arcar com as despesas da questão sanitária.
A iniciativa foi impulsionada por Vladimir Zhirinovsky, líder do partido ultranacionalista LDPR. Na época, o político não recebeu apoio de outras organizações e partidos, embora muitos conservadores criticassem a manutenção do cadáver mumificado.
"Nós poderíamos vender a múmia de Lenin. Existem compradores: China, Vietnã ou algum outro tipo de [país] comunista. E o corpo está em boas condições, foi mumificado há apenas 96 anos", escreveu Zhirinovsky em rede social em 2020, conforme repercutido na época pela RFI.
Se a decisão depender do presidente russo, Vladimir Putin, porém, Lenin deverá permanecer onde está, visto que ele defende a conservação do corpo e continua na liderança do país.
Pelo menos enquanto tivermos entre nós muitas pessoas cujas experiências ainda estão ligadas, de alguma maneira, às realizações do período soviético", ele defende.
Ainda que a decisão de colocar o revolucionário de uma vez em seu túmulo faça sentido, afinal, ele mesmo pediu que isso fosse feito quando morresse, isso só pode acontecer a partir do consentimento da família, de acordo com a lei russa atual.
Segundo uma enquete realizada na internet em 2016, que coletou a opinião de 8 mil pessoas, pelo menos 62% dos participantes queriam que Lenin fosse enterrado, o que encerraria sua saga como múmia. Para que isso ocorra de fato, são outros 500.
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