Após anos sem entrar em contato com o homem, Diana Kim se surpreendeu ao encontrá-lo sozinho nas esquinas do Havaí
Pamela Malva Publicado em 12/09/2020, às 08h00
Através das lentes de suas câmeras, a havaiana Diana Kim sempre enxergou um mundo diferente, lotado de pessoas consideradas invisíveis. Formada em direito, ela passou anos de sua vida representando tais personagens na fotografia.
Em 2003, logo depois que entrou na Universidade do Havaí, Diana resolveu fazer um trabalho fotográfico sobre a falta de moradia na ilha. Foi assim que ela iniciou o ambicioso projeto de humanizar as pessoas que viviam nas ruas havaianas.
Foram quase 12 anos de imagens delicadas e sensíveis até que a fotógrafa encontrasse uma cena inesperada. Muito mais magro do que ela se lembrava, o pai de Diana apareceu na frente das lentes, completamente fora de si e sem ter para onde ir.
Solidão e abandono
“Meu pai me apresentou à fotografia. Ele era um fotógrafo de paisagens”, Diana contou à BBC, em 2015. “Eu me lembro dos meus primeiros anos sentado em seu estúdio, ajudando-o a abrir câmeras descartáveis e vendo-o fazer cópias”.
Com o passar dos anos, no entanto, as memórias adquiriram um tom acinzentado, principalmente quando o pai da jovem foi embora. “Ele praticamente abandonou à mim e à minha mãe quando eu tinha oito anos”, Diana lembra com pesar.
Filha de pais separados, a havaiana acabou mudando de casa por diversas vezes e, eventualmente, perdeu o contato com seu pai. Em 2012, todavia, uma simples ligação mudou o rumo da história. Do outro lado do telefone, a avó de Diana parecia triste.
Alheio à sociedade
"Seu pai está doente — algo errado com sua mente", foram as palavras que a jovem escutou logo que atendeu. Sem entender muita coisa, já que sua avó falava coreano, Diana procurou pelo pai e, após certa procura, encontrou um homem em farrapos.
Diagnosticado com esquizofrenia, o pai de Diana havia deixado de tomar seus remédios e não mais cuidava da própria saúde. Ainda que ele morasse em um prédio, seu estado não agradava aos demais moradores e o pior acabou acontecendo.
“O contrato não foi renovado e ele foi despejado”, a jovem havaiana conta, após pontuar que, mesmo descuidado, o pai não apresentava perigo para ninguém. “Tudo aconteceu muito rápido. Meu pai estava realmente nas ruas, sem ter para onde ir.”
Falta de esperanã
Foi aí que, um dia, Diana decidiu sair pelas ruas procurando pelo pai. Ela o encontrou em uma esquina, parado, com o olhar vazio. Ele não respondia aos desesperados sinais da filha, nem mesmo quando ela o segurou pelos braços e chamou sua atenção.
“Para algumas pessoas, ir embora seria a coisa mais saudável a se fazer, mas isso teria me destruído”. Diana, então, fez o que achava ser o mais lógico e confortável para ambos: começou a fotografar o pai, mesmo que ele não prestasse atenção.
“Alguns dias eu simplesmente não conseguia nem olhar para ele porque doía muito vê-lo naquele lugar. É como ver alguém morrer, lentamente, sem saber como salvá-lo. Então eu usava a câmera como um escudo”.
Luz no fim do túnel
Por culpa da doença do pai, Diana sabia que não tinha muito o que pudesse fazer. Foi apenas meses mais tarde que um ataque cardíaco salvou a vida do homem. Ele foi levado ao hospital e, com os cuidados certos, voltou a tomar os remédios necessários.
“Quando eu o vi deitado ali foi incrível, porque ele era o mais saudável que eu tinha visto em dois ou três anos”, ela lembra. Daquele dia em diante, Diana e o pai começaram uma jornada lenta de recuperação, apoiando-se um no outro.
Dois anos mais tarde, em 2015, o homem já tinha um emprego e, junto da filha, voltou a fotografar. Ao lado do pai, Diana produziu um livro sobre a trajetória que eles traçaram e publicou as fotos que, de certa forma, serviram como um tratamento para o homem que ela voltou a conhecer após ultrapassar obstáculos inacreditáveis.
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