Isto é, quando foi mais desenvolvido em comparação com o resto do mundo. Tivemos nossos momentos, nunca sem ressalvas
Maria Carolina Cristianini Publicado em 27/08/2019, às 15h00
Parece que foi numa era há muito terminada, quando as pessoas falavam em País do Futuro sem uma ponta de ironia. Mas esse dia existiu, com momentos de "agora vai!" logo sufocados por crises econômicas e/ou das instituições.
Não há muitas opções para responder a isso objetivamente. Uma das poucas que podemos usar é medir a participação do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro na economia mundial. É uma medida da força econômica do país em comparação com o resto do mundo.
Isso pode ser visto no gráfico abaixo, com dados do economista britânico Angus Maddison. A montanha-russa começou na Era Vargas, continuou firme nos anos JK, caiu na crise do governo Jango e começo da ditadura, voltou a subir no Milagre Econômico de Médici, e começou a fazer água no final dos anos 1970, aí degringolou para sempre. Houve algumas ameaças de recuperação, nos anos 90 e em 2000. Mas, pelo critério da participação no PIB mundial, o topo foi nos anos 70, e continuamos na ladeira.
Entre 1948 (quando o IBGE começou a calcular o PIB per capita) e 1981, houve crescimento médio que chegava a ultrapassar 7% ao ano. Número comparável ao do Japão, que, entre 1953 e 1965, viu o PIB crescer cerca de 9% ao ano, e chegou a 13% em 1973. Houve modernização do parque produtivo e aumento da produtividade, incentivo à ciência e à tecnologia.
“O Brasil estava em catching-up, ou seja, se aproximando das referências desenvolvidas da Europa. Muito mal comparando, entre 1930 e 1980 o Brasil foi o que a China é hoje, no sentido de economia dinâmica e transformação estrutural”, afirma Antonio Carlos Diegues Junior, professor do Instituto de Economia da Unicamp.
De acordo com ele, durante essa era, “o Brasil se aproxima mais dos países desenvolvidos, apesar da distância e da coexistência do subdesenvolvimento – que não é uma etapa do desenvolvimento, mas uma condição histórica. Mesmo em nossos pontos de mais avanço, há subdesenvolvimento”.
Além do PIB
Há algo escondido nesses dados: a participação no PIB mundial da União Europeia e dos EUA também caiu no mesmo período. E a razão é o crescimento vertiginoso da China comprimindo a parcela de todo o resto.
Mas o mais importante é que o PIB é uma medida pobre de desenvolvimento. Ele diz o tamanho total da economia, mas não dá as condições em que as pessoas estão vivendo. O PIB per capita, um pouco melhor, leva em consideração a proporção da população (porque países populosos como a Índia têm um PIB enorme e ainda assim são pobres).
Mas ele não mede como isso está distribuído, se o país tem muita produção mas a maioria das pessoas é miserável. Esse é o subdesenvolvimento em meio ao avanço que o professor Antônio Carlos menciona. O índice GINI, que mede a desigualdade, passava dos 0,600 nos tempos do Milagre (comparado a 0,549 em 2016, pelo IBGE). E há mais dados: na era do Milagre, tínhamos 33% de analfabetismo, um índice que países como a Inglaterra haviam superado na metade do século 19.
E mais algo pesa contra a teoria de que estávamos no topo na era dos generais. Porque não há país considerado desenvolvido sem instituições e direitos. E nisso estávamos péssimos: de 1930 a 1980, duas ditaduras resetaram avanços cívicos – o Estado Novo de Getúlio Vargas, de 1937 a 1945, e o período militar, de 1964 a 1985. A ditadura deixou de legado, entre outros problemas, inflação galopante e dívidas com credores internacionais, resultado das ações para crescimento rápido na era do Milagre.
Desenvolvimento humano
A medida do desenvolvimento mais aceita hoje, que leva em conta tanto o PIB per capita quando dados sociais, é o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), calculado pela ONU. Infelizmente, ele só começou a ser medido nos anos 1990, e teve mudanças na metodologia em 2010 e 2011, o que dificulta comparações com os anos anteriores. Mas o relatório de 2010 apontava “tendência de crescimento sustentado ao longo dos anos” para o Brasil. O que se manteve até 2014, quando chegamos à 79ª posição (entre 188 países), no governo Dilma. Para, em 2015, também em seu mandato, começarmos a patinar novamente.
Mas as crises política e econômica ocorridas desde então são conhecidas por todos – em 2015 e 2016, vimos o PIB retrair, junto com a estagnação do IDH nos últimos anos. Já em 2017 e 2018, o PIB voltou a crescer cerca de 1% ao ano.
O fato é que o Brasil continua a dar meros saltos do pior para o menos ruim. Sem achar um plano de longo prazo, um consenso que independa de quem carregue a faixa.
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