Félicette, a gata enviada ao espaço pela França - Divulgação/Cerma
Félicette

A história da gata de rua enviada pela França ao espaço

Em 18 de outubro 1963, a França enviou ao espaço uma gata de rua chamada Félicette como tentativa de firmar presença na crescente corrida espacial

Luiza Lopes Publicado em 15/10/2024, às 18h00

Em outubro de 1963, a França se preparava para um feito histórico e que, até o momento, não foi repetido: o envio de um gato ao espaço. No contexto da Guerra Fria, os Estados Unidos e a União Soviética disputavam a supremacia tecnológica e ideológica, utilizando a exploração espacial como um campo de batalha simbólico. 

Após o lançamento bem-sucedido de Sputnik 1 pela URSS em 1957 e o envio de Yuri Gagarin ao espaço em 1961, a pressão sobre os países ocidentais para se equipararem aos avanços soviéticos aumentou.

O governo francês, reconhecendo a importância da exploração espacial para a segurança nacional e a influência internacional, buscava firmar presença na crescente corrida espacial

Cobaias

Na época, animais, como ratos, macacos e, neste caso, gatos, eram frequentemente usados como cobaias em experimentos espaciais.

Nos anos 60, cientistas e engenheiros estavam preocupados com o quão perigoso poderia ser para um humano estar em uma cápsula no espaço sideral, e a maioria dos voos espaciais com animais eram realizados para ver se eles sofriam ou se suas vidas eram ameaçadas pela ausência de peso ou pelo aumento da radiação ou outros efeitos que eles poderiam experimentar lá em cima”, disse o astrônomo Jake Foster ao The Guardian. 

Segundo o livro Animals in Space, de Colin Burgess e Chris Dubbs, a União Soviética chegou a lançar cães em foguetes 71 vezes entre 1951 e 1966, com 17 mortes. Os cientistas buscavam entender como a falta de gravidade e as condições extremas do espaço afetariam os organismos vivos. A premissa era que, se esses seres conseguissem sobreviver às rigorosas condições do espaço, nós também teríamos chances.

"O fato de eles não terem sucumbido abriu caminho para que os humanos iniciassem jornadas no espaço", ressaltou o astrônomo. Ao enviar um gato ao espaço, a França almejava um marco simbólico que destacasse sua capacidade tecnológica em meio à intensa rivalidade internacional.

Astronauta felina

Na época, a equipe da agência espacial francesa Cerma (Centre d'Enseignement et de Recherches de Médecine Aéronautique) recrutou 14 gatas de rua para selecionar a primeira "astronauta felina".

Segundo a Folha de S.Paulo, os cientistas escolheram apenas fêmeas por causa do temperamento mais dócil. Não se sabe ao certo onde ou como elas viviam antes de irem para o centro de pesquisa.

No laboratório, as gatinhas recebiam apenas um código para evitar vínculos emocionais. Eletrodos foram implantados cirurgicamente em seus crânios para monitorar a atividade cerebral durante os experimentos, que envolviam simulações de gravidade zero através de rotações.

Gata chamada Félicette viajou ao espaço / Crédito: Divulgação/Cerma

 

A gata do código C 341 foi a escolhida por ser a mais calma entre as elas e por estar no peso adequado, com 2,5 kg. No dia 18 de outubro de 1963, ela foi lançada no foguete Véronique a partir do centro de pesquisas na Argélia. O voo durou 13 minutos, atingindo uma altitude de 154 km, e voltou ao solo em segurança, com a gatinha viva.

Após o sucesso da missão e o retorno seguro à Terra, a imprensa francesa mídia começou a chamá-la de Félix, em homenagem ao famoso personagem de desenho animado. O Cerma decidiu deixar claro que se tratava de uma fêmea e pôs seu nome de Félicette.

Final trágico

Dois meses após a missão, Félicette foi sacrificada para que cientistas pudessem examinar seu corpo em busca de possíveis danos anatômicos ou fisiológicos. No fim, eles concluíram que a autópsia não trouxe informações úteis, informou o The Guardian.

Nenhum outro gato foi enviado ao espaço, e a França nunca lançou seus próprios astronautas. Mesmo assim, Félicette continua sendo lembrada. Em 2019, uma estátua em sua homenagem, representando-a sentada em um globo e olhando para o alto, foi inaugurada na International Space University, em Estrasburgo.

Atualmente, as regras que regem o uso de animais em experimentos espaciais são muito mais rígidas. “Animais também estão sendo colocados em órbita por diferentes razões. Missões modernas estão menos preocupadas em testar os perigos do espaço e se concentram mais em pesquisar os efeitos de longo prazo de viver no espaço. Isso, por sua vez, reflete um interesse em desenvolver missões de longo prazo, como viagens a Marte", destacou Jake Foster

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