Os espaços construídos muito antes dos horrores da Segunda Guerra foram marcados por maus-tratos e mortes
Fabio Previdelli Publicado em 19/07/2020, às 09h00 - Atualizado em 11/03/2022, às 09h00
Quando se fala em Campo de Concentração, muitos associam aos centros de confinamento militar usados pelos alemães nazistas para aprisionar e exterminar os judeus na Segunda Guerra Mundial. Entretanto, o termo pode e foi usado para descrever outros momentos perturbantes da história, inclusive sobre fatos que ocorreram aqui no Brasil.
E não, não estamos falando do Manicômio de Barbacena ou dos campos de Getúlio Vargas, mas sim de uma história muito mais desconhecida que ocorreu no nordeste brasileiro do século 20: Os campos de concentração da Seca.
No começo do século passado, a região nordeste enfrentava — assim como nos dias atuais — terríveis secas. Com isso, as autoridades decidiram construir tais campos para evitar que os agricultores que passavam fome no Ceará conseguissem migrar em massa para a capital do Estado.
Apesar de esses espaços terem sido construídos muito antes de qualquer ideologia nazista ser implantada — o primeiro deles foi montado em 1915 —, esses locais apresentavam muitas características semelhantes aos campos nazistas: com pessoas vivendo em condições sub-humanas, passando fome muitas vezes, convivendo em um espaço insalubre e sendo vigiadas constantemente por guardas.
Ao todo, foram erguidos sete desses centros ao longo das vias ferroviárias, onde os agricultores do sertão usavam para fugir até Fortaleza. Mas como elas eram convencidas de irem até esses campos? Fácil, com uma simples mentira. As autoridades divulgavam esses espaços como locais de proteção para os “flagelados”.
No entanto, eles só estavam tentando impedir que um episódio já vivido se repetisse — quando, em 1877, mais de 100 mil camponeses desvairados de fome triplicassem a pela capital que vivia na modernidade e riqueza da Belle Epoque.
Esses espaços acabaram sendo batizados como “Currais do governo”, já que todos que viviam lá se sentiam tratados como gados. “Os campos de concentração funcionavam com uma prisão”, explica a historiadora Kenia Sousa Rios em seu livro Isolamento e poder: Fortaleza e os campos de concentração na seca de 1932.
“Os que chegavam lá não podiam ir embora. Só tinham permissão para se deslocar quando eram convocados para trabalhar na construção de ruas ou em obras de melhoramento urbano em Fortaleza, ou quando eram transferidos de campo”, diz,
Em entrevista à AFP, em 2017, Carmela Gomez Pinheiro, filha de um dos vigias do campo, apesar dos 96 anos, relembra com clareza sobre o trabalho do pai. “Quatro ou cinco pessoas morriam todos os dias, inclusive crianças. Todos de maus-tratos ou de fome”, diz. “A fome era muito grande (…) Não havia o que comer, nem pão, e as pessoas ficavam doentes e suas barrigas inchavam”.
Apesar dessa parte de nossa história ser desconhecida por muitos, anualmente, em Senador Pompeu, no Ceará, é celebrado a ‘Caminhada da Seca’, um evento que visa homenagear a memória das vítimas. Por lá, em 1982, o padre italiano Albino Donati idealizou um memorial para elas.
Além do mais, todos os anos, a romaria termina no conhecido Cemitério da Barragem, onde os habitantes locais dizem mais de mil vítimas desses campos de concentração foram enterradas.
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