Ao longo do último século, alguns artistas tiveram grande importância no curso da História
Éric Moreira Publicado em 01/06/2023, às 16h35 - Atualizado em 03/01/2024, às 15h20
Ao longo da História, a humanidade presenciou diversos movimentos, revoluções e mudanças nas estruturas sociais e geopolíticas de várias maneiras diferentes. No passado, aqueles que ditavam o funcionamento do mundo eram reis; hoje, parlamentaristas e presidentes... Porém, com uma peculiaridade.
O século XX, um dos mais conturbados da história humana, marcado por duas guerras mundiais e o surgimento de algumas ditaduras violentas, foi também um período de grande insurgência musical, com artistas conquistando cada vez mais fãs em todo o mundo e, consequentemente, também alguns haters.
Seja pelo amor ou pela dor, confira a seguir alguns nomes famosos da música que se envolveram em grandes momentos históricos:
Em janeiro, todos os anos, comemora-se nos Estados Unidos o Dia de Martin Luther King Jr., um feriado em homenagem a importante figura norte-americana, líder do movimento dos direitos civis e que dispensa apresentações. Porém, o que nem todos sabem é que essa data comemorativa surgiu graças a um dos cantores mais importantes e influentes da música: Stevie Wonder.
Uma música bastante famosa do pianista cego é 'Happy Birthday'. No entanto, os versos que parecem inocentes foram escritos, a princípio, para falar sobre a busca pela paz e referenciando diretamente o nome de Martin Luther King Jr.
Graças ao sucesso que a simples canção lhe trouxe, o artista não só criou como conquistou muita gente em uma campanha para que o aniversário de Luther King se tornasse um feriado nacional. Então em janeiro de 1981, quatro meses após o lançamento do hit, cerca 25 mil pessoas marcharam sobre o Monumento a Washington, e declararam o dia um feriado nacional.
Era 1989 quando os Estados Unidos, em mais uma das invasões a territórios cujas políticas sugiram possível ameaça aos costumes norte-americanos, adentrou o território do Panamá e derrubou o regime do general Manuel Noriega. De acordo com a BBC, um plano foi elaborado para fazê-lo sair de seu esconderijo, a embaixada do Vaticano no país. E esse plano dependia basicamente de música.
Hoje, o uso de músicas em interrogatórios, bem como muito calor ou luz, posições estressantes ou simulações de afogamento é estritamente proibido pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos e as Nações Unidas, pois configura um ataque auditivo que pode ser considerado tortura, um crime contra a humanidade. Mas na época, foi exatamente essa a estratégia adotada pelos estadunidenses para combater o ditador panamenho.
Foi a Southern Command Network, a estação de rádio militar dos EUA, responsável por compilar em uma lista de reprodução alguns dos maiores sucessos do rock na época. Segundo a BBC, uma das músicas de maior destaque era 'Welcome to the Jungle', do Guns N' Roses, mas 'Panama', do Van Halen, e 'I Fought the Law', do The Clash, também estavam presentes. Além delas, também haviam músicas da banda Pink Floyd, Kenny Loggins e até mesmo Rick Astley.
Considerado um dos maiores guitarristas de todos os tempos, Lou Reed não só deixou sua marca no rock, como também em parte da história da Europa. E isso graças a, principalmente, uma banda cover.
The Plastic People of the Universe era uma banda de rock da antiga Tchecoslováquia que, depois da proibição de apresentações de artistas de cabelos compridos ou que cantassem em inglês — proveniente do governo de Alexander Dubček —, se provou um incômodo para os soviéticos, se provando extremamente difícil de ser combatida, bem como seus fãs. Nesse período, com membros da banda sendo levados a julgamento, o dramaturgo Václav Havel escreveu o manifesto Charter 77, que pedia respeito aos direitos humanos.
A relação entre esse movimento tcheco e Lou Reed foi confirmada em 1990, quando Reed foi entrevistar Havel, e o já então presidente surpreendeu o artista com a pergunta: "Você sabia que sou presidente por sua causa? Não por si só, não é suficiente por si só. Mas pode contribuir significativamente para fazer parte do despertar do espírito humano."
Outro nome bastante conhecido, especialmente para os fãs de country, é o de Johnny Cash. Porém, de acordo com o próprio músico, que atuava no exército dos Estados Unidos durante a Guerra Fria, ele teria sido o primeiro americano a descobrir sobre a morte do ditador soviético, Josef Stalin.
Cash teria sido, segundo a história, o responsável por interceptar uma transmissão de rádio do Exército Vermelho que informava a morte de Stalin, o que significaria uma grande mudança para os rumos da Guerra Fria. No entanto, talvez a história não seja exatamente assim.
Conforme explica a BBC, de fato existe a possibilidade de Johnny Cash estar envolvido na fatídica interceptação, mas provavelmente não teria sido ele, de fato, a transcrever a mensagem completa sozinho.
Mais conhecido como The Hoff, o ator e cantor David Hasselhoff também acredita, tal como Johnny Cash, estar relacionado de alguma forma com a Guerra Fria, mas de maneira mais importante em outro país: a Alemanha, com seu imponente Muro de Berlim.
Em 1989, o artista embalou uma música cover que gravou durante oito semanas em primeiro lugar nas mais escutadas na Alemanha, quase dois meses depois que as viagens entre leste e oeste do país começaram. Porém, aquela música regravada — 'Looking for Freedom' — teria sido banida na Alemanha Oriental, dominada pelos soviéticos. Ele, inclusive, chegou a cantar a canção em cima numa plataforma suspensa em cima do muro.
"Não está claro se nosso herói de cabelos cacheados acredita que teve um papel causal no fim da Guerra Fria - seria de se imaginar que não, em um bom dia", descreve Emma Hartley, autora de 'Did David Hasselhoff End the Cold War?' ('David Hasselhoff encerrou a Guerra Fria?', em português). "No entanto, eu diria que uma música pop é como um perfume, no sentido de que, quando alguém a encontra depois de muitos anos, ela tem a capacidade de levá-lo de volta para onde você estava da última vez que a encontrou. Portanto, a música de Hoff insere-o no tecido da história, vivida por aqueles que estiveram presentes."
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