Paris 2024 será a 33ª edição dos Jogos Olímpicos modernos, mas competição foi iniciada na Grécia Antiga, no século 8 a.C., e interrompida por cerca de 1.500 anos
Fabio Previdelli Publicado em 23/07/2024, às 20h00 - Atualizado em 26/07/2024, às 10h28
Entre os dias 26 de julho e 11 de agosto acontecem os Jogos Olímpicos de Paris 2024. A 33ª edição das Olimpíadas será a terceira a ser disputada na capital francesa — a primeira em 1900 e a última em 1924.
Paris 2024, além de celebrar o centenário dos Jogos de 1924, também marcará a estreia do breakdance como esporte olímpico. Ao todo, mais de 10 atletas representaram 206 países que disputarão 329 medalhas em 32 esportes diferentes.
Os primeiros Jogos Olímpicos modernos, como o evento também é conhecido, teve a primeira edição disputada em 1896 em Atenas, na Grécia. Mas qual a diferença das Olimpíadas como conhecemos hoje para os Jogos na Grécia Antiga?
Originalmente, os Jogos Olímpicos da Antiguidade eram tratados como um festival religioso e atlético que era disputado na Grécia Antiga. Estima-se que os primeiros jogos aconteceram por volta do século 8 a.C., mais especificamente em 776 a.C.
"É preciso pensar que os jogos da antiguidade não aconteceram no formato moderno", explica Nara Targino, professora de História da Maple Bear, em entrevista ao site Aventuras na História.
Embora também fosse um evento realizado a cada quatro anos, os Jogos Olímpicos da Antiguidade duravam apenas quatro dias. Além disso, a participação era restrita apenas para homens — a expectativa para Paris 2024, porém, é que homens e mulheres irão competir em números igualitários.
Ainda sobre os Jogos da Antiguidade, Targino explica que eram divididos em duas áreas: gímnicas e hípicas. "E não era somente em Olímpia que aconteciam os jogos, eles também eram realizados em Delfos, Coríntios e em Nemeia, também em homenagem aos deuses gregos".
"Os jogos na Grécia Antiga tinham um teor religioso e ritualístico em sua realização, pois, aconteciam em santuários e estavam relacionados aos deuses heróis fundadores da cidade. No caso dos jogos que aconteciam em Olímpia, eram realizados em homenagem a Zeus, com sacrifício de animais e exaltação à divindade", contextualiza a docente.
Nara também ressalta o fator político e social na realização dos Jogos, visto ser um momento de celebração da cultura e valores gregos. "É válido pontuar que a Grécia era formada por cidades-Estados independentes, que não estavam interligadas entre si pela política ou economia, mas por pontos em comum, como a cultura, a língua e a própria religião".
"Dessa forma, os Jogos reuniram os atletas das mais variadas cidades-Estados gregas para celebrar os pontos de união entre as comunidades", explica.
Nos Jogos Olímpicos da Antiguidade, as competições contavam apenas com atletas do gênero masculino, explica Nara Targino, professora de História da Maple Bear, em entrevista ao site Aventuras na História. As mulheres ficavam de foram, pois não possuíam direitos. "Elas não eram consideradas cidadãs", enfatiza.
"Dessa forma, as mulheres não participavam dos Jogos, devido aos critérios, visto que além das exigências para a participação dos Jogos, como a realização de treinamentos, era necessário que os participantes fossem homens livres e filhos de pais gregos", continua.
Mas elas não eram as únicas excluídas. Os estrangeiros e os escravizados também ficavam de fora as competições. "As mulheres casadas não podiam assistir às Olimpíadas, somente as mulheres solteiras à procura de um marido podiam participar enquanto espectadoras", diz a docente.
Mas, ainda que não pudessem participar das Olimpíadas, as mulheres participavam dos jogos Heranos, também chamados de Heraia, que aconteciam em homenagem à deusa Hera.
A competição, explica Targino, não tinha o mesmo status de atribuição de heroísmo como as competições do público masculino, no entanto, abrigava as mulheres atletas jovens e solteiras — e também aconteciam a cada quatro anos.
"As mulheres espartanas recebiam maior incentivo para serem atletas, visto que na visão dos espartanos, as mulheres que praticavam exercícios, tinham um bom condicionamento físico e que eram saudáveis, portanto, trariam ao mundo crianças igualmente saudáveis", aponta Nara.
Mas engana-se quem pensa que as mulheres passaram a participar dos Jogos Olímpicos já no início da 'era moderna'. "O barão Pierre de Coubertin, idealizador das Olimpíadas modernas, acreditava que o papel das mulheres era voltado para a procriação, não havendo espaço para sua participação nos Jogos".
Elas só tiveram seu espaço nas Olimpíadas justamente nos Jogos Olímpicos de Paris, em 1900, quando Charlotte Cooper foi a vencedora no tênis e Margaret Ives Abbott no Golfe.
Apesar das mudanças e inclusões de modalidades ao longo das décadas, algumas competições da Antiguidade permanecem nos Jogos Olímpicos modernos, como as provas de atletismo, o pentatlo (com algumas modificações) e algumas modalidades de luta. "Há também o hipismo, que na época antiga, era destinado à classe aristocrática", relembra a professora.
Outra coisa que permaneceu com o tempo, recorda Nara Targino, são as tradicionais coroa de folhas, normalmente louros, mas também era comum as de pinho ou oliveira selvagem, dependendo da região onde os Jogos aconteciam. Em 2004, em Atenas, os atletas receberam coroas. Em outros jogos, também podem ser ramos.
"Além da coroa, os vencedores seguravam uma folha de palmeira, que também simbolizava a vitória, e recebiam prêmios como ânforas com óleo de oliva, taças de prata, escudos de bronze, entre outros. Os prêmios estavam relacionados ao ideal de glória e honra, que marcava a realização das Olimpíadas, visto que a participação e vitória nos jogos estava relacionada a construção do ser mítico, da exaltação do atleta enquanto herói", explica.
Ao contrário do que normalmente acontece, o ciclo olímpico para Paris 2024 foi mais curto que o normal, afinal, os Jogos de Pequim aconteceram entre 23 de julho e 8 de agosto de 2021. Visto que, em decorrência da pandemia de Covid-19, a competição teve que ser adiada em cerca de um ano.
Mas essa não foi a única interrupção nos Jogos. As Olimpíadas ficaram adormecidas por quase 15 séculos. E a carga religiosa dos Jogos, justamente um dos pilares de seu início, foi o responsável por essa 'pausa'.
Com a conversão do imperador Teodósio I, o Império Romano, agora cristianizado, decretou a proibição dos jogos antigos em 392 d.C., devido ao conflito de crenças, já que para o cristianismo, havia um único deus e os gregos eram politeístas e exaltavam suas divindades através dos jogos", esclarece a docente.
"O imperador Teodósio I proibiu a celebração de cultos pagãos, incluindo os Jogos Olímpicos. No entanto, a popularidade das competições esportivas e das festividades culturais continuou em muitas províncias do império romano de influência grega", corrobora o site do próprio Comitê Olímpico Internacional (COI).
Na parte final de seu reinado, Teodósio I ainda promulgou uma série de leis que proibiam outras práticas antigas, como o sacrifício de animais como oferenda aos deuses, a veneração de estátuas de outras divindades e até mesmo a celebração de festas em sua honra — práticas que aconteciam durante os Jogos Olímpicos.
"Após os decretos de Teodósio, os cultos pagãos começaram a desaparecer e, gradualmente, Olímpia foi abandonada. Os terremotos destruíram os edifícios que ainda se mantinham de pé, e suas ruínas acabaram submersas sob a terra", completa o COI.
No século 18, porém, recorda matéria da BBC, a descoberta das ruínas de Olímpia reacenderam o fogo das Olimpíadas. "Os jogos são retomados na Era Moderna, em 1896, e desde então, não foram interrompidos", finaliza a professora Nara Targino.
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