Um estudo realizado em 2011 com 52 corpos mumificados do Egito Antigo revelou que problemas graves no coração não são coisa da modernidade
Isabela Barreiros Publicado em 14/11/2020, às 06h00
Embora doenças cardíacas possam ser constantemente associadas às práticas da modernidade, elas já estavam presentes nos humanos há milhares de anos. É isso que uma pesquisa realizada em 2011 com múmias egípcias indica. Mais que isso: um dos corpos mumificados com artérias bloqueadas era de uma princesa.
O estudo feito por pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos EUA, examinou múmias por meio de tomografias computadorizadas (TC), que revelaram o interior dos antigos egípcios em imagens. 52 múmias foram analisadas, entre elas a princesa Ahmose-Meryet-Amon.
Parte da realeza do Egito Antigo, ela viveu entre 1580 a.C. e 1550 a.C. na cidade de Tebas, hoje conhecida como Luxor. A investigação concluiu que ela teve uma vida ativa, com uma alimentação variada e saudável, com uma dieta mais balanceada que o estadunidense médio atualmente.
Mesmo que tivesse comido, ao longo de sua vida, principalmente vegetais, frutas, trigo e cevada e carne magra, o estudo indicou ainda que ela morreu com cerca de 40 anos e, se vivesse nos dias de hoje, poderia precisar de uma cirurgia de ponte de safena. A mulher tinha artérias bloqueadas em seu coração.
Esse foi considerado o caso mais antigo de doença cardíaca humana conhecido. Ela, porém, não era a única daquele período que poderia vir a ter problemas graves no coração: das 52 múmias analisadas, 44 foram identificadas com evidências de artérias calcificadas.
O diagnóstico de 20 destas foi aterosclerose de fato. O enrijecimento encontrado nas artérias das múmias era tamanho que poderia ter causado infartos, derrames e, nos casos mais graves, morte súbita. Outras três estavam com o coração intacto, mas as artérias nem tanto, recheadas de placas.
"No geral, foi impressionante a quantidade de aterosclerose que encontramos", afirmou Gregory Thomas, um dos cientistas envolvidos no estudo, da Universidade da Califórnia. "Pensamos na aterosclerose como uma doença do estilo de vida moderno, mas está claro que ela também existia há 3.500 anos. Nossas descobertas certamente questionam a percepção da aterosclerose como uma doença moderna”.
Se Ahmose-Meryet-Amon não tinha nenhum outro problema de saúde evidente, não era sedentária e se alimentava bem, então porque ela apresentou um quadro semelhante ao que entendemos como aterosclerose? Para os especialistas, isso pode indicar que ela tinha predisposição genética à doença.
Mas ela também pode ter comido mais manteiga e queijo que um egípcio médio, por exemplo. A princesa pode ter ainda exagerado no sal durante a sua vida — Adel Allam, cientista da Universidade Al Azhar, no Cairo, lembra que a substância era usada constantemente na conservação de alimentos.
Allam explica que as duas das três artérias principais da mulher podem ter chegado nesse estado de calcificação como uma resposta inflamatória a parasitas. Naquela época, muitos eram os parasitas comuns no Egito Antigo, e a forma que o corpo da princesa encontrou para lidar com eles acabou gerando um efeito adverso.
Ainda que não seja possível identificar a causa exata do enrijecimento das artérias da egípcias, nem a causa de sua consequente morte, os cientistas chegaram a conclusões importantes a partir do estudo.
Eles perceberam que os vasos dos egípcios endureciam com o tempo, conforme envelheciam. Por exemplo, as maiores evidências de aterosclerose foram encontradas indivíduos com por volta de 45 anos. Ao contrário, as taxas de calcificação eram menores quando a múmia era de alguém mais jovem, com 34 anos. Isso acontece ainda hoje com os seres huamnos modernos.
Randall Thompson, do St. Luke's Mid-America Heart Institute, em Kansas City, afirmou: "Pelo que podemos dizer a partir deste estudo, os humanos são predispostos à aterosclerose. Portanto, cabe a nós tomar as medidas adequadas necessárias para atrasá-lo o máximo que pudermos."
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