Durante a Segunda Guerra, a empresa teve ‘ajuda’ de 140 trabalhadores forçados
Fabio Previdelli Publicado em 08/08/2021, às 05h00
Hugo Ferdinand Boss fundou sua própria empresa de roupas em 1923. No ano seguinte, o alemão já abriu sua primeira fábrica ao lado de dois sócios. Nessa década, a empresa produzia jaquetas, camisas, roupas esportivas e gabardinas.
Hoje, a grife se tornou mundialmente famosa, sendo sinônimo de luxo e elegância. Boss morreu sem ver o auge, mas teve um importante e contestável papel para que isso acontecesse, afinal, caso não fosse aliado dos nazistas, a marca talvez não existiria como a conhecemos hoje.
O mais novo entre os cinco filhos do casal Luise e Heinrich Boss, Hugo nasceu em 1885 na cidade de Metzingen, no Reino de Württemberg, que pertencia ao Império Alemão. Aprendiz de comerciante, ele cumpriu o serviço militar obrigatório entre 1903 e 1905, conforme aponta o site alemão GeneAll.
Em 1908, herdou a loja de lingerie de seus pais, mas acabou interrompendo seu trabalho em 1914, quando é mobilizado pelo Exército para servir durante a Primeira Guerra, quando atuou como cabo.
Segundo o jornal alemão The Local, Boss fundou sua própria loja de roupas em 1923, em sua cidade natal. No ano seguinte, junto de dois sócios, inaugurou sua primeira fábrica. Desde então, passou a vender roupas esportivas, camisas, jaquetas e gabardinas.
Conforme aponta Robin Lumsden em ‘A Collector's Guide To: The Allgemeine – SS’, na década de 1930, sua companhia começou a produzir uniformes para a SA e SS. Além disso, a Juventude Hitlerista também foi agraciada com suas peças.
A relação entre Hugo e o nazismo foi explorada mais afundo em 2011, depois que a empresa Hugo Boss contratou uma auditoria externa para entender a ligação do criador com o regime, como explica matéria do DW. Vale ressaltar que os atuais donos da marca NÃO possuem ligações com a família Boss.
A auditoria acabou resultado na publicação do livro ‘Hugo Boss, 1924-1945 – Eine Kleiderfabrik zwischen Weimarer Republik und Drittem Reich’ (ou, ‘Hugo Boss, 1924-1945 - Uma Fábrica de Roupas entre a República de Weimar e o Terceiro Reich’, em tradução livre).
Na obra, financiada pela própria companhia, o pesquisador Roman Köster afirma que a confecção de Hugo, instalada no sul da Alemanha, se aproveitou da mão de obra forçada durante a Segunda Guerra Mundial. Por esse motivo, a empresa chegou a ser chamada de “alfaiataria de Hitler”.
Com o intuito de buscar “clareza e objetividade” sobre seu passado, a Hugo Boss levantou diversas discussões sobre sua história, do qual afirma lamentar profundamente “por aqueles que sofreram ofensas e passaram por dificuldades na fábrica dirigida por Hugo Ferdinand Boss sob o jugo do nazismo".
De acordo com o estudo de Köster, Boss se aliou ao Partido Nacional Socialista em 1931, dois anos antes de Hitler chegar ao poder. Neste mesmo período, a empresa passou a enfrentar dificuldades devido aos impactos da crise econômica que a Alemanha passava.
As coisas mudaram de figura quando a Hugo passou a fazer uniformes para as forças paramilitares nazistas. Como naquele período a mão de obra era escassa, explica o DW, a companhia usou de 140 trabalhadores em escala forçada — sendo a maioria mulheres.
Além disso, entre 1940 e 1941, 40 prisioneiros franceses passaram a ‘trabalhar’ para Hugo Boss. “O fato de se tornar membro do partido em 1931 certamente não o incomodou, mas se você olhar para o resto da carreira de Boss, aí fica claro que ele não entrou para o partido apenas por causa de cálculos financeiros”, diz Roman.
“É possível ver claramente que ele era um nazista convicto", completa o historiador.
Para se ter uma ideia da importância do Terceiro Reich na história da marca Hugo Boss, antes do ‘alinhamento’ com os nazistas, a empresa contava com apenas 30 funcionários, o que não impedia o êxito na venda de roupas e tudo mais.
Mas a partir do momento em que começou a produzir uniformes para os paramilitares alemães, o quadro de funcionários deu um salto gritante: passando da marca dos 300.
Como explica a 'Biografia de Hugo Boss’, com o fim do regime, em 1945, Hugo chegou a ser rotulado como “ativista, apoiador e beneficiário” do nacional-socialismo, com isso, foi condenado a pagar uma multa pesada, além de ser privado dos seus direitos ao voto e a dirigir um negócio.
Porém, pouco depois, ele apelou à decisão e passou a ser nomeado apenas como um “seguidor”, o que lhe rendeu uma pena amena. Como explica Köster, ele foi autorizado a continuar no comando de sua fábrica.
Para reparar os danos causados durante esse período, explica a DW, no final dos anos 1990, o governo alemão estabeleceu um fundo para que empresas com passado nazista disponibilizassem recursos, o que contou com a participação da Hugo Boss.
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