Artefato intrigante, os antigos astecas utilizavam um 'apito da morte' durante as cerimônias religiosas; entenda como funcionava
Redação Publicado em 22/12/2024, às 19h00
Uma pesquisa recente busca elucidar o impacto que os apitos astecas tinham sobre o cérebro humano, bem como seu papel nas cerimônias religiosas dessa antiga civilização.
O ponto de partida para essa investigação remonta a 1999, quando arqueólogos descobriram um esqueleto em uma escavação no México.
Os restos mortais pertenciam a um jovem de apenas 20 anos, que foi sepultado em frente ao templo dedicado a Ehecatl, o deus do vento na mitologia asteca. O corpo do jovem estava acompanhado de um apito.
A partir desse achado, diversas outras versões desse tipo de apito foram identificadas em sepulturas datadas entre 1250 e 1521. Observou-se que esses instrumentos estavam frequentemente associados a rituais de sacrifício humano.
O novo estudo revelou que os apitos produziam um som semelhante a um grito, criando uma atmosfera aterrorizante durante os rituais e provocando reações cognitivas nos ouvintes.
Os apitos, que têm formato de caveira e medem cerca de cinco centímetros, eram utilizados para preparar as vítimas para sua transição ao Mictlan, o submundo asteca.
Sasha Frühholz, a principal autora do estudo publicado na revista Communications Psychology, explica que aqueles que escutam os sons emitidos pelos apitos experimentam uma sensação imediata de urgência.
Para investigar as respostas emocionais provocadas pelos apitos, a equipe recrutou 70 participantes que ouviram os sons. A maioria associou os ruídos a gritos humanos.
Os pesquisadores utilizaram três apitos modernos recriados e dois originais encontrados no sítio asteca de Tlatelolco, nas proximidades da atual Cidade do México. Segundo o estudo, os apitos produziam um "som agudo e penetrante" quando expostos a pressão intensa de ar.
Na segunda fase da pesquisa, 32 participantes foram colocados em máquinas de ressonância magnética enquanto escutavam gravações dos apitos intercaladas com outros sons.
As análises mostraram que o som ativava áreas do cérebro ligadas a emoções e significado simbólico, além de circuitos relacionados à percepção de sons aversivos e complexos.
Essa sonoridade peculiar mistura características naturais e artificiais, dificultando sua categorização e gerando desconforto nos ouvintes.
No artigo publicado, os pesquisadores sugerem que os apitos em formato de crânio poderiam ter sido utilizados para aterrorizar tanto as vítimas sacrificiais quanto o público presente nas cerimônias.
Com base nas descobertas, a equipe especula que os apitos podem ter sido desenhados para simbolizar Ehecatl ou representar os ventos cortantes associados ao Mictlan.
“Dada a natureza aversiva/assustadora e simbólica/associativa do som, assim como as localizações conhecidas atualmente de escavações em sítios de enterros rituais com sacrifícios humanos, o uso em contextos rituais parece muito provável, especialmente em rituais de sacrifício e cerimônias relacionadas aos mortos,” explicam Frühholz e equipe.
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