Em novo livro, a pesquisadora Cláudia Thomé Witte revela detalhes curiosos sobre a vida da segunda esposa de D. Pedro I
Isabelly de Lima, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 13/09/2023, às 20h00 - Atualizado em 02/10/2023, às 11h48
Um dos nomes mais instigantes da história do Brasil Império é o da imperatriz D. Amélia (1812-1873). Ela foi a segunda esposa de D. Pedro I, o imperador responsável pela declaração da independência do país. Amélia, entretanto, encarou uma tarefa difícil quando se tornou a imperatriz consorte do Brasil, principalmente porque sua antecessora, a princesa Leopoldina, era muito querida pelo povo, ao contrário de sua “rival”, Domitila de Castro, que estava viva.
Além de ter que assumir um posto difícil para uma jovem de 17 anos — ou seja, a idade com a qual ela se casou —, Amélia ainda precisava conquistar o povo. Agora, é possível conhecer em detalhes a história de D. Amélia.
A pesquisadora e escritora Cláudia Thomé Witte, acaba de lançar o livro: "D. Amélia: A História Não Contada", que conta com uma pesquisa aprofundada de mais de 20 anos, em diversos países, sobre a história da família imperial, com foco na família da segunda imperatriz, D. Amélia.
Durante entrevista exclusiva ao site Aventuras na História, Cláudia comentou sobre seu interesse na história da imperatriz: "Me interessei por ela muito cedo. Na verdade, foi uma carta que ela escreveu e eu li na minha infância que chamou a minha atenção. Depois, quando eu vi um retrato dela, eu a achei linda, queria saber quem era e descobri que existiam poucas informações [sobre ela] e depois do que consegui ler, em algum momento eu achei que valeria a pena resgatar documentos, cartas e informações primárias para poder contar a história dela".
Veja algumas curiosidades reveladas pela pesquisadora sobre a imperatriz D. Amélia:
Amélia foi uma mulher muito inteligente. Ela sabia diversos idiomas, era boa em cálculo e também em arte. Isso tudo se deve à sua boa criação, já que veio de uma família poderosa e muito conhecida na História. A jovem era filha do príncipe Eugênio, Duque de Leuchtenberg, e de sua esposa, a princesa Augusta da Baviera. No entanto, a árvore genealógica foi além.
A mãe de Eugênio era a imperatriz Josefina, que após ficar viúva, casou-se em segundas núpcias com Napoleão Bonaparte, o que garantiu durante muitos anos uma certa estabilidade para a família. Eugênio foi adotado oficialmente pelo imperador francês como filho e se tornou vice-rei da Itália.
Por não serem familiares sanguíneos de Napoleão, quando ele morreu, Eugênio assumiu o título de duque de Leuchtenberg, fixando residência em Munique, já que o parentesco com Napoleão de nada ajudava no trânsito entre cortes na época. Sem perspectivas para o futuro, o matrimônio com Pedro era uma boa ideia.
A pesquisadora também comentou sobre a motivação de Pedro para sugerir o casamento:
Dom Pedro I precisava de uma segunda esposa, ele era viúvo, só tinha um filho homem (que era do primeiro casamento). Era importante que ele tivesse mais descendentes e, para isso, foi necessário que ele se casasse novamente. Ele precisava de uma mulher para assumir as funções representativas ao lado dele e também para assumir o papel de mãe de seus filhos”.
Acredita-se que Amélia foi a pioneira em uma tradição bastante comum entre as noivas brasileiras. Como na família napoleônica casar-se de branco era algo já comum, a imperatriz, que era estrangeira, quando se casou com Dom Pedro I, estava usando um vestido branco, com muitos detalhes.
Foi a partir do casamento de Amélia que muitas moças da época se casaram de branco, o que, até então, não era uma tradição, explica Cláudia durante seu seminário sobre a imperatriz no Ciclo de Palestras, promovido pelo pesquisador Paulo Rezzutti, realizado no último dia 2 na Fundação Maria Luisa e Oscar Americano.
Como mencionado anteriormente, um dos motivos do casamento de D. Amélia com D. Pedro I foi justamente para que ela fizesse um certo tipo de “papel de mãe” dos pequenos herdeiros, no entanto, foi com o caçula, o futuro Dom Pedro II, que ela teve um laço ainda mais forte. Cláudia explica, na entrevista:
"Ela se apegou muito [ao Dom Pedro II]. Ele era muito pequeno quando ela chegou, tinha apenas 4 anos, e de todos os filhos, ele, por ser o caçula e por não ter nenhuma lembrança da mãe, foi o que mais se afeiçoou rápido a ela", explica a autora. "Durante toda a vida, os dois vão manter uma correspondência muito intensa, vão ter um carinho muito grande, embora que eles só acabam se reencontrando depois da abdicação, cerca de 40 anos depois, quando ele [Pedro II] já está bem mais velho, e ela, há pouco de falecer, durante uma viagem que ele faz para Portugal”.
Quando D. Pedro I assumiu o trono do país, quando ainda estava no Brasil, D. Maria da Glória, que era princesa, mal sabia o que estaria por vir. Pouco tempo após assumir o trono português, Pedro abdicou do poder e sua filha mais velha assumiu o posto de rainha, agora como Maria II, tudo isso no mesmo ano, em 1826, em um período de tempo realmente curto. No entanto, ela tinha apenas 7 anos quando tomou o trono.
Depois de uma interferência de seu tio paterno, D. Miguel de Bragança — com quem ela estava noiva, graças a uma dispensa papal —, ela se casou com o príncipe Augusto de Beauharnais, através de uma procuração, em janeiro de 1834. Em janeiro de 1835, a cerimônia foi realizada pessoalmente. Os dois ficaram juntos apenas por dois meses, já que logo o príncipe faleceu.
O príncipe Augusto nada mais era do que o irmão de D. Amélia, fazendo com que os laços da família ficassem cada vez mais fortes.
A ideia era que Dom Augusto, irmão da Amélia, desse continuidade a todo o projeto de Dom Pedro I de instaurar uma monarquia constitucional em Portugal, e D. Maria da Glória era muito jovem e precisava de um marido ao lado dela, como rei, como pai dos futuros filhos, que conseguisse consolidar a obra de D. Pedro”, explicou Witte.
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