Da caverna de Hades só saía quem conhecia o segredo - Shutterstock

Cientistas explicam mistério do Portal do Inferno

Na sombria caverna sob o templo de Hades em Hierápolis, animais (e desavisados) morriam imediatamente, mas sacerdotes eram poupados

Paula Lepinski Publicado em 19/02/2018, às 13h57 - Atualizado em 16/10/2018, às 13h06

É possível caminhar pelos Portões do Inferno e sobreviver? Os romanos acreditavam que sim. E, para uma dessas entradas para o submundo, eles levavam animais saudáveis como sacrifício. Enquanto os animais morriam em poucos minutos, os sacerdotes retornavam à superfície para continuar seu trabalho. Como se tivessem sido abençoados pelo próprio Hades — que, em todas as lendas, fazia exatamente o contrário, jamais deixando alguém sair de seus domínios.

Até agora não se sabia como isso era possível. O Portal do Inferno fica no sítio arqueológico localizado em Hierápolis, na Turquia. A construção é o Ploutonium, templo dedicada ao deus do submundo Hades — que mesmos seus discípulos preferiam chamar de Plouton (ou Pluto, em latim), um eufemismo que queria dizer "rico" e referia-se a um de seus atributos, o das riquezas minerais. Seu nome real trazia à mente sua função principal, o guardião do mundo dos mortos, e acreditava-se que dizê-lo poderia atrair a morte.

Hades era tão temido, de fato, que os sacerdotes no Ploutonion (reconstruído digitalmente acima) não eram seus devotos. Eram os galli, sacerdotes eunucos da deusa-mãe Cibele. O desafio do portal de Hades provava seu valor e atraía doações.

Para além do portal, há uma fissura profunda que emite gás vulcânico, formado por dióxido de carbono. Os arqueólogos já sabiam que o gás tóxico chegava à superfície na forma de uma névoa e era mortal - durante escavações feitas em 2011, arqueólogos viram pássaros sufocarem até a morte ao voarem próximos ao portão.

O TRUQUE

Qual era o segredo dos sacerdotes? Um estudo publicado pela Universidade de Duisburg-Essen (Alemanha) sugere que a “benção” tem, na verdade, uma explicação geológica.

O biólogo Hardy Pfanz e a sua equipe mediram a concentração de dióxido de carbono ao longo do dia. Durante os períodos com luz solar, o movimento do ar aquecido dissipava o gás. Mas durante a noite, o gás ficava concentrado próximo ao chão, por ser mais pesado do que o ar. Segundo Pfanz, a concentração de dióxido de carbono a 40 centímetros acima do solo chegava a 35%, o suficiente para asfixiar e matar animais e pessoas dentro de minutos.

A conclusão dos pesquisadores é que os animais não eram altos o suficiente para manter suas cabeças acima da névoa de dióxido de carbono. Conforme ficavam tontos, eles desvaneciam e ficavam ainda mais imersos no gás, morrendo rapidamente. O mesmo não acontecia com os sacerdotes, cujas cabeças ficavam acima da névoa.

“Dois mil anos atrás, apenas forças sobrenaturais poderiam explicar esse fenômeno, enquanto hoje técnicas modernas apontam para o conhecido fenômeno da desgaseificação de CO² geogênico”, conclui o estudo.

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