Fotografia da mosca Atherimorpha latipennis - Divulgação/John Midgley e Burgert Muller
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Inédita: Mosca sem asas é descoberta em Lesoto, na África

Espécie Atherimorpha latipennis possui fêmeas com asas atrofiadas e que não conseguem voar; confira!

Redação Publicado em 14/09/2023, às 11h39 - Atualizado às 12h29

John Midgley e Burgert Muller, dois dipterologistas (especialistas em insetos focados em moscas) da África do Sul, descobriram no singular território de Lesoto — país incrustado no território da África do Sul e o único do mundo a ser inteiramente localizado acima de mil metros de altitude —, um até então desconhecido espécime feminino de uma mosca que lhes chamou bastante a atenção por um detalhe: não possuir asas.

Em meio à expedição de coleta que a dupla de pesquisadores realizava na região, certo dia Muller capturou o que pensou, a princípio, se tratar de uma mariposa sem asas já conhecida em locais de elevada altitude. Porém, quando observou o inseto mais de perto naquela noite, constatou que se tratava, na verdade, de uma incomum espécie de mosca: Atherimorpha latipennis.

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Ela tinha o que chamamos de halteres, órgãos de equilíbrio ironicamente usados ​​durante o vôo, e pequenas asas atarracadas. A cabeça também era claramente a de uma mosca", descreve Muller ao The Guardian.

Naquela mesma noite, com o auxílio de um microscópio, os cientistas — que fazem parte do projeto Diversidade de Diptera Polinizadora em Pontos de Interesse de Biodiversidade na África do Sul — conseguiram identificar o gênero do curioso bicho: Atherimorpha.

No mesmo dia, haviam capturado 51 machos do inseto, que foi descoberto em 1956 mas sem nunca ter uma fêmea descrita; porém, aquele espécime sem asas era justamente uma fêmea.

Macho de Atherimorpha latipennis / Crédito: Divulgação/John Midgley e Burgert Muller

 

Não é incomum que apenas as fêmeas de uma espécie não voem", explica Midgley. "Mas não houve exemplos na família desta mosca, muito menos no seu gênero."

Por que não voa?

Conforme explicado ao The Guardian por Martin Hauser, dipterologista sênior do Departamento de Alimentação e Agricultura da Califórnia, "o voo ativo só se originou quatro vezes nos últimos três bilhões de anos, por isso é sempre interessante quando uma espécie perde a capacidade voar. Não é muito surpreendente encontrar espécies que não voam. Mas é notável quando o primeiro caso de incapacidade de voar é relatado numa família."

Como não se sabe muito sobre o ciclo de vida do inseto, visto que uma fêmea foi descoberta só recentemente, os cientistas tentam supôr como se deu o eventual atrofiamento das asas das fêmeas da mosca, considerando-se inclusive o fato de ser relativamente comum a ocorrência de espécies cujas fêmeas não voam.

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Conforme explicado por Midgley, por mais que o voo seja uma adaptação bastante benéfica para insetos, permitindo escapar de certos predadores, ele "também é caro". "Você precisa criar asas, e isso consome muito mais energia do que andar. [Porém] para os machos, vale a pena voar e poder procurar fêmeas em uma área maior."

Asa atrofiada de fêmea da mosca Atherimorpha latipennis / Crédito: Divulgação/John Midgley e Burgert Muller

 

Agora, com a recente descoberta de uma fêmea, Midgley acredita que a comunidade científica esteja mais próxima de compreender um panorama geral da espécie. "Compreender a morfologia das espécies com distribuição restrita ajuda-nos a prever como irão reagir às mudanças no ambiente", acrescenta.

Se soubéssemos apenas da existência do macho, poderíamos interpretá-lo como uma espécie que poderia facilmente mover-se em resposta às alterações climáticas. Saber que este não é o caso pode ajudar-nos a proteger um ecossistema ameaçado."
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